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Carnaval / PRECONCEITOS

Quitéria Chagas desabafa sobre estereótipos da mulher preta no Carnaval: 'Luta'

A Rainha de Bateria da Império Serrano enfrentou preconceitos para alcançar sua posição no Carnaval; ela criticou a desvalorização da mulher

por Marcela Almeida

malmeida@caras.com.br

Publicado em 19/02/2023, às 14h58

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Quitéria Chagas é a Rainha de Bateria da Império Serrano no Carnaval - Foto: Roberto Mariano
Quitéria Chagas é a Rainha de Bateria da Império Serrano no Carnaval - Foto: Roberto Mariano

A Rainha de Bateria Quitéria Chagas desabafou sobre os estereótipos envolvendo mulheres pretas no Carnaval. Destaque da escola Império Serrano, do Rio de Janeiro, ela chama a atenção para a importância de reconhecer sua ausência em lugares de protagonismo. "Luta", declarou ela em entrevista à CARAS Brasil.

Além de Rainha, Quitéria Chagas também é embaixadora da FENASAMBA, a Federação Nacional das Escolas de Samba. Ela declarou que o samba a aproximou de sua cultura e ancestralidade, já que ficava assistindo aos desfiles e sempre desejou a posição que ocupa no Carnaval. "Na minha época eram pouquíssimas mulheres pretas rainhas de escola de samba. Era uma época muito midiática onde só inseriam personalidades da televisão, que não eram pessoas de comunidade, de samba e nem pretas."

Até que surgiu um concurso para ser rainha de um bloco de Carnaval que tinham pessoas que faziam parte de escolas de samba. Entre elas, estava um amigo de seu pai que a convidou para participar da competição. Foi então que Quitéria passou no teste e se tornou passista da União da Ilha do Governador em 1999.

Anos depois ela se tornou a Rainha de Bateria da escola e começou a trabalhar na televisão, quando conquistou fama. Nessa época surgiram muitos convites para ela, entre eles para ser destaque da Império Serrano, escola na qual continua até hoje.

"O Carnaval nunca foi cutuado no Brasil para ser a festa da carne. Ele começou através dos negros, que após a abolição queriam se inserir na sociedade burguesa. Para isso, se vestiam de roupa de corte do império português. No ínicio do Carnaval nós não usávamos roupas africanas. O objetivo era o movimento negro se empoderar perante a sociedade", declarou ela.

Quitéria ainda falou  que na década de 60 as mulheres negras que eram coroadas como rainhas. Entretanto, suas coroas foram vendidas por causa da comercialização do Carnaval e entregues às mulheres brancas, quando também começou a ocorrer uma banalização e estereotipação do corpo feminino.

Nos anos 2000 ela comelou a introduzir vestidos porque rejeitava fazer matérias de biquíni. "Nada contra quem mostra, seu corpo suas regras. Meu objetivo era não dizer que somos 'só um corpo'. Eu peguei a geração que éramos só um corpo".

"Foi uma luta porque até pouco tempo atrás, nos anos 90, o cartão postal era o glúteo das mulheres pretas, naquele estereótipo 'mulata' que foi criado na década de 60, quando os biquínis vieram para o Brasil [...] O Carnaval para a sociedade, principalmente para quem não está no Carnaval e não sabe essa história, ficou rotulado como algo pejorativo, danoso, vulgar, não aceitável... E muita gente tem preconceito porque só foi nesse marco histórico, mas não sabe qual é a construção e o que aconteceu."

Quitéria Chagas ainda critica o fato de que essa construção história reflete até os dias atuais em patrocínios. "Eu tenho 26 anos de Carnaval. Quando você me viu em uma capa de revista? Nunca!", desabafou. "Cade as rainhas pretas nas capas de revista? Cade as personalidades do Carnaval fazendo campanhas publicidades? [...] Não estamos sendo vistas e valorizadas como um produto potencial [...] Devemos estar inseridas com equidade... Não é segregação e separação", completou.