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Roberto Civita

Redação Publicado em 31/05/2013, às 18h22 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Roberto Civita - Arquivo
Roberto Civita - Arquivo

Às 21h41 do domingo, 26 de maio, faleceu Roberto Civita. Foi editor, jornalista, pensador e comunicador, entre tantos outros méritos. Mas, sobretudo, foi Senhor. Criou ícones do universo impresso no País, dos quais podemos citar as revistas Veja, Exame e Realidade, só para posicionar qualquer desprevenido. Fez da Abril a maior editora de revistas de América Latina. Era também sócio de CARAS Brasil. Em linhas gerais, todo mundo sabe quem foi, quem é e quem será ¬– pois nunca desaparecerá completamente, já que sua obra, que tanto amava, manterá viva sua memória e, entre nós, também suas virtudes. Muitos de nós, seus alunos, levarão adiante seus passos, sempre de maneira correta, na direção que com sabedoria extrema e humildade infrequente soube indicar.
Quase todos os brasileiros conhecem sua obra, que transcendeu as fronteiras, mas aqueles que tiveram a honra de trabalhar ao seu lado, como eu, aprenderam a admirar seu posicionamento digno, sempre desprendido de bens materiais, e sua necessidade de que cada letra impressa servisse ao leitor, tanto quanto que cada opinião contribuísse para o País. O texto, como a verdade, eram suas obsessões, mas também se preocupava com a estética como ferramenta didática e com a imagem, para que esta pudesse aportar valor informativo. Eu vi, no universo da mídia, como o mundo o prestigiava, pois sua obra transcendeu as fronteiras. Teve uma vida exemplar por 76 anos. Relembrá-la em toda a sua infinita riqueza seria impossível, mas é saudável lembrar um pouco o imenso ser humano que cultivou a cada minuto de sua existência.
Viajar com ele era aprender. Falar com ele era pensar. Ler o que escrevia era refletir. Almoçar com ele era relembrar. Jantar com ele era se divertir. Escutá-lo era crescer. Pausado no ritmo, mas acelerado no pensamento. Sereno no tom, mas agitado no assunto. Velho por experiência, mas jovem na curiosidade. Exigente com ele mesmo, mas tolerante com os demais mortais. Perfeccionista. Inteligente. Generoso. Nunca o vi fora de si. Controlava suas preocupações com maestria. Procurava não deixar ninguém desconfortável ao lhe revelar seus desconfortos. Encontrava soluções para tudo. Sábio. Equânime. Humano. Gentil. Estudou Física Nuclear nos Estados Unidos não por paixão, e sim porque ‘seria a carreira que mais me desafiaria, que mais dificuldades colocaria no meu caminho’, segundo suas próprias palavras, repetidas na minha presença pelo menos duas vezes. O pensamento lateral funcionava com perfeição neste homem do mundo que dominava várias línguas e entendia de tudo (nunca superficialmente). Também estudou Economia e Jornalismo nos Estados Unidos. Assim se lapidou: americano no modo de pensar, italiano na maneira de olhar e brasileiro na forma de viver (viver para ele era, primeiramente, editar). Humano para se preocupar. Racional para se interessar. E sentimental para nos interpretar.
Falava com os presidentes da República, do Brasil ou de outras nações, do mesmo jeito como se dirigia ao garçom de seu restaurante preferido. Responsável e educadamente com ambos. Com todos. Um ministro ou sua secretária tinham, para ele, o mesmo valor. Estava certo. Aqueles que cuidavam dele sentiam-se privilegiados, porque ele cuidava também de todos à sua volta. Sua cultura, invejável, jamais o fez sentir-se melhor do que ninguém. Sua posição, invejável, nunca o fez sentir-se poderoso. Jamais acreditou que fosse mais do que os outros. Qualquer gesto nesse aspecto o teria envergonhado. Era o patrão que todos os funcionários adoravam. Cumprimentava até quem não o merecia. Quando telefonava era por algum assunto importante, minimamente interessante. Ou por simpatia; por exemplo, para cumprimentar pelo aniversário. Não se esquecia de nenhuma data. Na realidade, não se esquecia de nada. Fazia-nos sentir importantes a todos. Gostava muito mais de elogiar do que de criticar. Mandava bilhetes com anotações que inevitavelmente eram lições, bilhetes que todos guardávamos como livros indispensáveis. Administrava o tempo com arte. Era paciente, pontual, firme nas convicções e um verdadeiro professor de Jornalismo e de vida. Passou a seus filhos os valores que devem ser passados e, em paralelo, deu-lhes liberdade para todas as demais coisas. Apaixonou a sua Maria Antonia como haveria apaixonado a qualquer mulher. Enfim, Roberto Civita era um homem apaixonante. Todos nos gostaríamos de ser como ele. Mas duvido que algum de nós alcance esse patamar. 
Seu adeus foi uma surpresa. No domingo do último carnaval, 10 de fevereiro, esteve com sua amada Maria Antonia – não ia a lugar nenhum sem ela – no Camarote CARAS na Sapucaí. Eu o tinha convidado para um almoço a dois, na mesma semana, na própria Editora Abril, porque a escola de samba Salgueiro, naquela noite, homenagearia CARAS por seus 20 anos de sucesso. Ele foi e foi feliz, porque na terça, 12, seria internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para colocar um stent em uma artéria, coisa simples: “Na quinta estou em casa, talvez aqui na minha sala”, disse, com seu imperturbável otimismo. Maria Antonia confirmou que tudo era mesmo simples. Roberto brincou naquela noite tanto quanto à tarde no hotel. Cordial, bem-disposto e intelectualmente lúcido como de costume, fez planos para uma viagem que deveríamos fazer ao Triângulo Mineiro. Os dias se passaram e a cada notícia esperançosa vinha uma novidade preocupante. Estava nas mãos dos melhores especialistas, mas é evidente que Deus não fala com eles e que também não tem total controle do que se passa aqui na Terra. Salvo que também Ele o quisesse por perto... Para constatar que nem tudo está perdido neste mundo? Sim, neste mesmo mundo que Roberto Civita acreditava que é recuperável: contribuía tanto para a educação, como para a sustentabilidade e todas as outras causas louváveis, como a Fundação Victor Civita e o projeto Verde Escola, que ele apoiava de maneira farta em todos os sentidos.
Ajudaria muito saber por quais motivos ele nos deixou se estava tão a fim de continuar entre nós para nos ajudar a ser melhores. Esse mistério despertaria uma grande intriga no próprio Roberto. Desta vez não haverá resposta. O comunicado médico não vai esclarecer o que desejamos saber. A injustiça não sabe se explicar. Gianca, Roberta e Titi, seus filhos, como os seis netos, sua esposa, os quatro enteados, seu irmão Richard, demais familiares e todos nós jamais saberemos por qual motivo ele nos deixou. Temos de nos contentar em saber por que ele esteve aqui e memorizar a cada dia sua excepcionalidade.


Edgardo Martolio
Superintendente editorial

Decálogo fundamental


Pouco depois que conheci Roberto Civita, algumas décadas atrás, me instalando em São Paulo com a CARAS que Jorge Fontevecchia criou e falando de editar em outro país que não o próprio, coisa que também fez seu pai, Victor Civita, ele me passou este decálogo – muito pertinente --, que escreveu em 28 de Julho de 1985 para publicar no caderno Propaganda e Marketing, da Gazeta Esportiva, com o título “Como se Lidera o Mercado de Revistas”. Nele o que faz, singelamente, é uma homenagem a seu pai. E, de quebra, deixa uma lição que vale um Master em Comunicação. Eu o conservo até hoje e quero dividi-lo com todos porque define muito bem o Homem de quem estamos nos despedindo.

1) Comece escolhendo o Fundador da sua empresa, com extremo cuidado. Assegure-se de que seja um daqueles homens que não conheçam a palavra “impossível”, e que seja movido por um combustível que envolva – em partes iguais – energia inesgotável, otimismo permanente, imaginação efervescente, sensibilidade polivalente, coragem leonina, visão astronômica, idealismo inabalável e entusiasmo contagiante.

2) Localize sua empresa em São Paulo, de preferência na década de 1950.

3) Decida -- desde o início -- que o seu principal compromisso é com o leitor (e não com o governo, seus amigos, os anunciantes ou sequer seus acionistas). Conte-lhe a verdade sempre. Preocupe-se com o que ele quer (e acrescente uma pitada do que ele precisa) saber.

4) Procure os melhores talentos que puder -- de todos os cantos do País e do mundo. Pague-os bem, trate-os com carinho, treine-os permanentemente e dê-lhes liberdade para agir e desafios para se excederem.

5) Construa uma gráfica moderna. Mantenha-a tecnologicamente atualizada e preocupada com alta qualidade, grande flexibilidade e baixos custos. Em seguida, acrescente uma distribuidora nacional eficiente. E aprenda a conviver com computadores de todos os tamanhos...
6) Conheça o seu mercado. Fale com os seus leitores, ouça os jornaleiros, faça perguntas aos seus anunciantes, vire parceiro das agências de publicidade. E desenvolva o seu marketing de circulação, de assinaturas e de venda de espaço com base nas técnicas mais avançadas do planeta.

7) Leia tudo.

8) Faça publicações de que o leitor se orgulhe de ter em casa e nas quais ele possa confiar. Se errar, admita-o. Se estiver certo, não recue -- seja qual for a pressão.

9) Não venda sua opinião ou apoio -- em nenhuma circunstância e por nenhum preço. O leitor deve saber -- sempre -- o que é jornalismo e o que é anúncio.

10) Faça revistas irresistíveis -- fáceis de ler, bonitas, sintonizadas com as preocupações e interesses dos seus leitores, e sensíveis às mudanças em curso no Brasil e no mundo. E leve em conta que, na medida em que suas publicações forem inteligentes, honestas, confiáveis, úteis, equilibradas, justas e honrarem o seu compromisso com o leitor, sua editora também estará contribuindo para o desenvolvimento do País.