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Coronavírus / Saúde

Entenda mais sobre a ECMO, terapia adotada no tratamento de Paulo Gustavo

Médica que atua na linha de frente no combate a Covid-19 explica em detalhes sobre o funcionamento da ECMO, terapia adotada por Paulo Gustavo

Deborah Kövesi e Isabela Thurmann Publicado em 09/04/2021, às 13h01 - Atualizado às 13h18

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Entenda sobre a ECMO, adotada no tratamento de Paulo Gustavo - Reprodução/Tv Globo/João Miguel Júnior
Entenda sobre a ECMO, adotada no tratamento de Paulo Gustavo - Reprodução/Tv Globo/João Miguel Júnior

No último dia 13 de março, Paulo Gustavo, de apenas 42 anos de idade, foi internado pouco depois de testar positivo para o vírus da Covid-19. A situação se agravou no último dia 21, quando foi anunciado ter sido necessário recorrer a intubação e, posteriormente, no dia 2 de abril, à terapia de ECMO -  Oxigenação por Membrana Extracorpórea, adotada como uma técnica de suporte de vida externa ao corpo do indivíduo.

Para uma compreensão mais clara sobre o funcionamento da ECMO, a médica anestesista Anna Júlia Costa Castro, que vem atuando na linha de frente do tratamento de indivíduos gravemente acometidos pela doença, conversou com a CARAS Digital para esclarecer alguns detalhes importantes sobre essa medida e sua adoção em quadros de saúde semelhantes ao do humorista.

“O ECMO é um equipamento utilizado para suporte de pacientes graves com importante comprometimento respiratório, que já foram submetidos a diversas terapias sem sucesso e permanecem graves,  a máquina funciona como um pulmão artificial oxigenando o organismo”, explicou a profissional que atua no Hospital São Cristóvão, na Vila Prudente, em São Paulo. “Durante o tratamento, o sangue circula fora do corpo através de cânulas passando por uma membrana do ECMO e retornando ao corpo oxigenado. A terapia pode substituir temporariamente a função pulmonar até que o órgão se recupere da inflamação ocasionada pela infecção”, explicou.

O tratamento, que também é adotado em casos de doença pulmonar aguda/ reversível, transplante pulmonar ou cardíaco, hipoxemia refratária e choque cardiogênico, vem sendo uma opção para os pacientes com quadros graves de Covid-19. “A Covid-19 é capaz de acometer até 100% da função pulmonar, a partir de 50% o comprometimento pulmonar já é considerado importante, com isso as funções acabam sendo prejudicadas pela inflamação e fibrose ocasionadas pela infecção, o que compromete a oxigenação de todo o corpo, o ECMO entra como alternativa de pacientes com alto grau de comprometimento pulmonar sem sucesso aos tratamentos padrões e o principal motivo é manter o organismo bem oxigenado evitando o comprometimento ou piora de outros órgãos vitais do corpo até que o pulmão consiga se recuperar”, pontuou a médica.

A ECMO é feita a partir de um complexo equipamento cuja operação requer o recrutamento de diversos profissionais. Nos casos de complicações em decorrência do coronavírus, Anna Júlia explicou o momento exato em que a terapia passa a ser considerada após a intubação: "Quando os níveis da ventilação artificial não são suficientes para manter o corpo bem oxigenado e os parâmetros comprometem os exames de gasometria arterial o ECMO se torna a melhor opção’’.

Ao ser questionada sobre os riscos da terapia, a médica deixou claro que, para garantir a segurança do tratamento, todos os pacientes submetidos a ele precisam estar sob constante observação para evitar infecções e a formação de coágulos no sangue. “Por ser um tratamento extracorpóreo, os riscos de infecção hospitalar podem surgir com a exposição e manipulação do equipamento, além disso podem gerar inflamação e sangramentos importantes, cada organismo a depender da situação pode responder com diferentes padrões”, disse.

“O sucesso do tratamento gira em torno de 50-80%. Os danos causados pela doença vão depender do grau de acometimento da infecção pulmonar. Não há uma regra, mas com acompanhamento multidisciplinar é possível correr atrás dos danos causados, alguns pacientes podem necessitar de suporte de oxigênio domiciliar por um tempo ou até permanentes”, relatou a anestesista, abordado também os procedimentos que sucedem a ECMO. “A reabilitação é gradativa como de qualquer paciente de UTI, o acompanhamento é multidisciplinar, desde a terapia ocupacional com estímulo de habilidades para reabilitação motora, suporte da fisioterapia respiratória assim como da fonoaudióloga para reabilitação da fala, suporte da nutricionista para inserção da dieta e deglutição e também suporte psicológico são fundamentais para reabilitação”.

A especialista  também falou sobre o alto custo deste recurso médico. “O custo do tratamento é altíssimo, não só pelo preço do equipamento, mas também pelo recrutamento de uma equipe multiprofissional disponível para acompanhamento do tratamento que pode envolver diversas áreas da medicina, como medicina intensiva, nefrologia, cardiologia, neurologia e nutrologia, além de uma equipe formada por enfermeiros especializados em ECMO, fisioterapeutas, nutricionistas, perfusionistas, entre outros”, explicou.

“O custo do equipamento está em torno de 50-100.000 reais e o tratamento completo envolvendo aparato, equipe e custos hospitalares pode ser superior a um milhão de reais a depender da complexidade e tempo de internação do paciente”, revelou Anna. 

Lembrando que a atualização mais recente sobre o estado de saúde de Paulo Gustavo veio no último dia 5, informando que, apesar de seguir com tratamento, o comediante apresenta um quadro estável. "A evolução clínica, que demanda seu tempo individual, teve - especialmente nas últimas 24 horas - sinais de evolução progressiva, que geraram otimismo na equipe médica. A necessidade da ECMO permanece, embora com parâmetros mais atenuados. Esse conjunto de dados vêm aumentando o otimismo da equipe médica", disse o comunicado emitido por sua assessoria.