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Etimologia

Redação Publicado em 06/03/2012, às 11h32 - Atualizado às 11h54

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Adrede: da expressão do gótico at reth, depois at red, com o significado de por objetivo, por provisão, pelo espanhol adrede, de caso pensado, de propósito. Está entre os advérbios de largo uso na linguagem jurídica, ao lado de tempestivamente, que significa a tempo, oportunamente, e de seu contrário, intempestivamente, fora de hora e fora de propósito, e em meio a abundantes palavras formadas com os prefixos supra e infra: supracitado, suprassumo, infra-assinado, infraescrito, infraconstitucional. Adrede vem abonado nos dicionários não por um jurista, mas pelo engenheiro e escritor carioca Euclides da Cunha (1866-1909), em À Margem da História: “Embaixo, adrede construída, desde a véspera, vê-se uma jangada de quatro paus boiantes, rijamente travejados. Aguarda o viajante macabro. Condu-lo prestes, para lá, arrastando-o em descida, pelo viés dos barrancos avergoados de enxurros”.

Bundões: de bundão, do quimbundo mbunda, nádegas, quadris, adaptado sem o “m” inicial para designar a região glútea, de que bumbum tornou-se sinônimo para evitar uma palavra que, sendo chula em Portugal, no português do Brasil não o é. Bundões veio para os dicionários, assim mesmo no plural, para designar grupo de garimpeiros, jagunços e criminosos do sertão baiano que, filiados a uma facção política, cometiam as maiores violências. O singular bundão, usado para insultar, já não mais se refere ao escravo trazido de Angola que aqui se rebelou, mas ao indivíduo preguiçoso, malemolente, sem iniciativas, no qual não se pode confiar.

Cifrão: de cifra, do árabe sifr, vazio, pelo latim medieval cifra, zero, de onde se formou cifrão, sinal gráfico representado pelo algarismo zero, que aumenta significativamente a quantia designada em números quando colocado à direita, mas que não tem valor quando à esquerda — daí a expressão “zero à esquerda”, pejorativa, aplicada a pessoas consideradas sem importância. O cifrão — escrito $ — tornou-se sinal para expressar as unidades monetárias de numerosos países e no plural aparece neste trecho do premiado livro Katmandu e Outros Contos, da escritora carioca Anna Maria Martins, quando uma mulher, atingida pela morte do pai, enfrenta sérias dificuldades: “Via-se envolvida em dívidas. Cifrões saltavam-lhe ao redor, comprimindo o cerco. Procurava uma brecha e não encontrava por onde escapar.”

Escarlate: do persa saqirlat, veste tingida de vermelho, cor extraída da cochinilha, abundante em Almería, palavra de étimo árabe que dá nome a uma região da Andaluzia, na Espanha atual, cuja cultura, usos e costumes guardam ainda grande influência da presença dos árabes. Ali, a cor vermelha aos poucos substituiu o azul das vestes muçulmanas bordadas com fios de ouro.

Marrom: do francês marron, castanha, da cor desse fruto. Designa cor, mas em documentos oficiais é substituída por castanho para qualificar olhos e cabelos. Já a expressão “imprensa marrom” tem outra origem: foi adaptada do inglês yellow press, imprensa amarela: no século XIX, jornais populares de Nova York, nos Estados Unidos, eram impressos em papel dessa cor. O então jovem jornalista brasileiro Alberto Dines (80) trabalhava no Diário da Noite, no Rio de Janeiro, e já tinha feito a manchete “Imprensa amarela provoca suicídio”, mas teve que substituir amarela por marrom para designar o caso de um periódico que, mediante chantagem, tinha levado um jovem cineasta ao suicídio. Desde então imprensa marrom consolidou-se em nossa língua para designar imprensa sem ética, sem escrúpulos.

Púrpura: do grego porphura, pelo latim purpura, designando molusco que segrega um líquido de cor vermelho-escura pela glândula anal, muito usado na Antiguidade para tingir roupas. Eram recolhidos aos milhares de águas profundas, o que dificultava a operação, que só poderia ser feita por poderosos: ricos, chefes militares, reis. Semelhante a mariscos, lesmas, caramujos e caracóis, a púrpura deu nome à cor das vestes características da riqueza e da dignidade social. Até hoje essa é a cor das vestimentas cardinalícias. E está presente também em forma de listras em brasões. Um resquício desse símbolo permanece na cor dos tapetes em palácios e igrejas.