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Sucesso no YouTube, Maíra Medeiros conta como superou bullying: "Fui eleita a mais feia da sala"

Ela usa sua influência para falar de empoderamento feminino e autoaceitação, mas não se considera uma celebridade. "Famosa é a Susana Vieira", brinca

Kellen Rodrigues Publicado em 23/05/2017, às 12h08 - Atualizado às 12h10

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Maíra Medeiros - Felipe Abe/Divulgação
Maíra Medeiros - Felipe Abe/Divulgação

A história da youtuber Maíra Medeiros até parece roteiro de filme: ela já foi alvo de "brincadeira" e acabou humilhada em frente à escola inteira, ficou agressiva como forma de evitar não ser vítima dos colegas, e teve de lidar com a morte do namorado em pleno aniversário de 15 anos. Suas experiências na adolescência, no entanto, fizeram-na refletir e decidir mudar o jogo. Hoje, aos 32 anos, ela é inspiração para meninas e mulheres que acompanham seu canal Nunca Te Pedi Nada, onde defende o feminismo e o direito de todos serem exatamente como quiserem ser.

“Recebo muitos e-mails de meninas contando que a mãe ou alguma amiga tem relacionamento abusivo. Procuro responder, essa pessoa está confiando em mim”, conta Maíra. Entre seus vídeos mais famosos está a paródia Miga, Sua Louca - uma versão de Essa Mina é Louca, da cantora Anitta -,que fala de relacionamentos abusivos e soma mais de 3 milhões de visualizações. "Para mim era uma coisa tão óbvia que não imaginava que ia ter essa reverberação na vida das pessoas", confessa.

Formada em publicidade, ela trabalhava com mídias digitais com a apresentadora Mari Moon quando decidiu fazer seus próprios vídeos. Hoje conta com a parceria do marido, Rodrigo Bertolino, para produzir os conteúdos do canal que criou em 2015 e soma mais de 24 milhões de views. Em bate-papo com CARAS Digital,Maíra relembra sua trajetória e conta que pretende iniciar uma série de palestras para adolescentes com temas como bullying e objetificação da mulher, tais quais os abordados na série 13 Reasons Why, da Netflix. "Isso só endossou nosso projeto. A série fala ‘se liga, não é drama, não é mimimi’", explica.

Confira!

- Como foi seu início como youtuber? Quando decidiu que faria isso?
Trabalhava como analista de redes sociais já fazia um tempo, sempre assistia a vídeos no YouTube. Na época eu estava trabalhando com a Mari Moon, comecei a me envolver, me interessar por Youtube. Durante uns cinco anos dei aula para adolescentes, minhas amigas falavam que eu precisava fazer um canal, mas eu pensava que era muito difícil, colocava empecilhos. Até que uma delas me falou que ia ligar de manhã, de tarde, de noite até me convencer. E ela ligou mesmo. Decidi gravar um vídeo só pra ela parar de encher meu saco. O segundo eu resolvi editar. Falei sobre por que peidar num relacionamento é saudável. A lógica é que isso é o ápice da intimidade, de certa forma está se mostrando completamente pra essa pessoa. Achava que não teria 100 visualizações, que teria uma avalanche de haters, eu tinha medo disso. Mas foi superpositivo e me incentivou a continuar produzindo. Fui muito autodidata.

- Quando você percebeu que era uma influenciadora?
Em vários pequenos momentos. Em um deles eu estava no Lollapalooza, não tinha nem um ano do canal. As pessoas me paravam e falavam comigo, mas a maioria era pra contar histórias da vida delas. Sentia que as pessoas não estavam preocupadas em tirar foto, mas em conversar. Nessa época eu tinha feito a paródia ‘Miga, sua louca’, que fala de uma forma leve sobre relacionamento abusivo. Para mim era uma coisa tão óbvia que não imaginava que ia ter essa reverberação na vida das pessoas.

- Teve algum depoimento que impactou você?
Sim, eu choro, não tenho maturidade pra conversar casos superpessoais, fico mexida. Sou muito preocupada com meu conteúdo em geral. Sei que no YouTube tem muita criança, apesar de meu público maior ser de 18 a 25 anos. Uma vez fui participar de um evento e uma menina de 11 anos perguntou de forma tão natural como eu via a sociedade de hoje que fica reprimindo as mulheres em coisas simples como jogar futebol e falar palavrão. Nessa hora fiquei gelada, uma menina de 11 anos questionando uma desigualdade social de gêneros. Por mais que as pessoas desvalorizem o pré-adolescente, percebi que dá para falar de coisa séria com eles. Foi um momento muito forte pra mim. As pessoas que acham que os adolescentes não entendem nada, que são exagerados. Recebo muitos emails de meninas contando que a mãe ou alguma amiga tem relacionamento abusivo. Teve um bem recente de uma menina de 12 anos que falou que a família inteira faz bullying falando que ela é gorda. Ela me mandou um desenho dela chorando com várias frases de gordofobia. Procuro responder todas as pessoas, essa pessoa está confiando em mim.

- Você assistiu à série 13 Reasons Why? Acha que os adolescentes estão entendendo a mensagem?
Sim, tenho um projeto de palestras com uma amiga pedagoga, está no começo ainda. A gente sente que essa galera não é levada à sério. Assistimos à série e eu falei ‘quem a gente quer enganar? Temos que fazer, sim’. Só endossou nosso projeto. Acredito que eles estejam entendendo melhor que a galera adulta. Adulto assiste e fala 'nossa que menina exagerada, passei por isso e estou vivo até hoje', ou acha que (a série) dá argumentos para as pessoas se suicidarem. A série fala ‘se liga, não é drama, não é mimimi’. Uma coisa que você faz na brincadeira pode afetar, sim, a vida de uma pessoa. Acho que eles estão recebendo a mensagem: ‘será que vale a pena eu zoar meu amigo?’.

- Passou por algo semelhante na época de escola?
Fui eleita várias vezes a menina mais feia da sala de aula na quarta série. Era muito triste. Tinha dez anos e gostava de um menino da sala, todos resolveram fazer uma grande brincadeira de mau gosto.  Esse menino escreveu uma carta dizendo que queria namorar comigo, achei estranho, fiquei chocada. Quando fui conversar com ele todo mundo apareceu cantando a música da novela 'Sonho Meu'. Hoje eu olho para as fotos desse menino acho ele horrível, graças a Deus (risos). O bullying mexeu comigo. Quando eu fiz 13 anos resolvi não ser uma menina legal, virei respondona. Eu era superfofinha, resolvi ser uma pessoa meio agressiva. Eu tinha muita necessidade de tentar me encaixar em grupos, tentava à exaustão, por eu ser filha única eu dependia das crianças da escola para brincar. Não consegui manter esse personagem por muito tempo. Meu primeiro namorado faleceu no dia do meu aniversário de 15 anos, eu tive uma amostra muito amarga do que é perder uma pessoa muito cedo. Comecei a mostrar muito meus sentimentos porque sei lá quando vou falar com a pessoa de novo. Isso me fez ter uma percepção diferente da vida, que não valia a pena eu ser uma pessoa agressiva e rancorosa.

- Mas agora como youtuber como você faz para não deixar os problemas dos fãs influenciarem na sua vida?
Quando eu converso sempre mostro que não sou a pessoa que posso solucionar a vida dela, da amiga, da mãe. Que eles precisam conversar com seus pais, psicólogo, enfim. Porque eu não tenho a solução e posso acabar frustrando a pessoa e me frustrando também. Tento orientar, mas é uma parada que não posso me envolver muito também, senão acabaria pirando.

- Você falou que tinha medo dos haters, e agora como lida com eles?
Haters sempre existem, estão na internet o tempo inteiro, não tem como a gente fugir. Mas percebo que eu consigo trazer para perto de mim mais pessoas com intenções legais do que o contrário. Entre os comentários negativos a gente tem que saber filtrar quem é hater e quem questiona, porque perguntar é saudável. Teve uma vez que fui no São Paulo Fashion Week com uma camiseta escrito ‘o padrão da mulher brasileira não usa 36’, achei que tinha passado mensagem clara. Mas as meninas que usam 36 se sentiram ofendidas, achando que eu tava falando mal delas. Me senti muito na obrigação de fazer um vídeo explicando a camiseta. Acho que a gente tem que agradecer por as pessoas questionarem e não dizerem amém para tudo que um ‘ídolo’ faz.

- Você se sente celebridade?
Ai, não menina, não me sinto nada. Famosa é a Susana Vieira. Eu tenho um canal que algumas pessoas me conhecem no YouTube, mas o que é isso na totalidade do mundo, né? Não me sinto famosa de jeito nenhum.

- No canal é você como é na vida ou tem um quê de personagem?
Deus me livre se fosse personagem, não ia conseguir manter. Sou exatamente desse jeito. É o maior elogio quando alguém fala que sou igual ao vídeo. Não dá para mudar, não tem um botão que liga e desliga. No canal normalmente são temas que falo com meus amigos, tem muito do que eu vivo mesmo.

- Qual é a participação do seu marido?
A gente trabalha junto agora. Ele se envolve mais na parte por trás das câmeras, faz todas as edições,  formamos juntos um time de trabalho. Ele é uma pessoa super-reservada, não quer aparecer. Às vezes as pessoas pedem, mas acho que não vai acontecer. Ele é bem envergonhado.

- Você pensa em ter filhos?
Não sei, nunca parei para pensar. Acho que por ora não. Não penso que a mulher só é mulher se tem filho, me sinto completa sem, isso não é um problema.

- Quais são seus próximos projetos?
Não consigo pensar só numa coisa, sou de gêmeos, pessoa inquieta (risos). Adoro gravar vídeo, fazer coisas para o YouTube, amo demais. Mas tenho certeza que vou ter outras ideias para outras coisas, como já está acontecendo. Coisas que eu sei que vão ter outras ramificações. Estou muito feliz com meu canal, e teve o projeto do YouTube ‘Por que Mulher’ que aconteceu em março, ter sido escolhida foi meu ápice de felicidade.