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Revista / PRONTA PARA RECOMEÇAR

Deborah Evelyn revela ter se entregado ao trabalho para amenizar o luto: 'Dor muito grande'

Em entrevista à Revista CARAS, Deborah Evelyn falou sobre processo de luto pela perda do marido e retorno ao trabalho durante período doloroso

Daniel Palomares Publicado em 29/06/2024, às 11h00

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Em meio ao processo de luto pela perda do marido, Deborah Evelyn busca encontrar um espaço para lidar com a dor - Fotos: Guilherme Lima
Em meio ao processo de luto pela perda do marido, Deborah Evelyn busca encontrar um espaço para lidar com a dor - Fotos: Guilherme Lima

Sempre em movimento. Com 40 anos de carreira recém completados, a atriz Deborah Evelyn (58) quer se manter dessa forma: curiosa e empolgada com cada novo desafio em sua trajetória. E é justamente o trabalho que consegue salvá-la de um de seus momentos mais complicados. No fim do ano passado, após dez anos de casamento, ela perdeu o marido, o alemão Detlev Schneider, para um câncer. A dor, que se mantém presente, conseguiu ser atenuada pela dedicação ao ofício e com o convite para viver a vilã Ceci em Dona Beja, novela da plataforma Max, que chega ao streaming em 2025. Em bate-papo com CARAS, a atriz fala sobre os detalhes da nova empreitada e da batalha que trava diante do luto.

– Me fala sobre a Ceci?

– É um presente da HBO. Ela é cheia de nuances. É casada com um homem negro, mas é racista. Todas essas peculiaridades e contradições estão dentro dela. Ela quer manter o status quo, mas ao mesmo tempo, tem dois filhos negros e acha a liberdade da mulher atraente. Ela tem uma trajetória muito bonita e forte, mas também triste, porque mostra como as mulheres antigamente e, ainda hoje em dia, não se permitem viver o que realmente desejam em nome de regras machistas.

– Você já deu vida a muitas vilãs. Qual o melhor lado disso?

– É muito prazeroso. A medida que vamos amadurecendo e vendo que a vida não é preto ou branco, as vilãs vão se tornando mais interessantes. Elas passeiam mais nesse arco-íris, não mostram a virtude acima de qualquer coisa. É mais humano. Todos nós temos contradições, as vilãs mostram mais esse lado que a gente tenta esconder. Todos temos sentimentos que não são bons. Faz parte do ser humano ter raiva, inveja, vontade de atrapalhar alguém... Mas não fazemos.

– A novela já foi inteiramente gravada. Como foi participar desse processo?

– Acho maravilhoso que o mercado esteja se abrindo. Novela é um produto que nós, brasileiros, sabemos fazer muito bem. É uma aposta inteligente das plataformas. Não é à toa que nossas novelas são exportadas para o mundo todo. Quando viajamos percebemos isso. Já fui reconhecida na Rússia! Uma série de 40 capítulos demoraria muito mais para ser feita. O ritmo de Dona Beja foi mais rápido, como uma novela. Ela só não ia ao ar dias depois. Precisava de uma pós-produção maior.

– Você comentou que esse trabalho foi o que te reergueu após a perda do seu marido...

– Ainda estou nessa fase de recuperação. Não sei se esse luto um dia vai passar. A sensação que tenho, hoje, ainda é de que não vai passar, é como se eu fosse ter sempre essa dor muito grande dentro de mim. Minha relação com ele era muito especial, um encontro muito profundo, raro de existir na vida. É uma perda muito grande. Mas ter feito esse trabalho cerca de dois meses depois da morte dele me ajudou a não ficar paralisada, porque acho que eu ficaria. Não conseguiria viver outras coisas. Tenho minha filha, Luiza, com quem tenho uma relação linda, minha família, meus amigos... Nada disso me faria levantar da cama. No trabalho, tinha que estudar, gravar com a sensação de que eu poderia fazer o meu melhor. Contracenar com os meus colegas, poder ouvir, jogar com eles. Isso tudo foi me abrindo. Todos me acolheram. Pude começar a viver alguma coisa apesar do meu luto. Isso me mostrou que era possível continuar vivendo apesar da dor tão grande. Vi a Cissa Guimarães falando que não superou a perda do filho porque não existe isso. A gente não supera, a gente só aprende a conviver. Ela encontrou um lugar dentro dela para essa dor. É isso que também está acontecendo comigo. Não vai ter um dia que estará tudo resolvido.

Leia também: Deborah Evelyn desabafa após a morte do companheiro de uma vida: "Não consigo"

– Você completou 40 anos de carreira recentemente. O que passa pela cabeça olhando para trás e revendo sua trajetória?

– Levo um susto quando penso que eu já trabalho há 40 anos. Não tenho problema em envelhecer. Quero envelhecer bem e com saúde para poder continuar na ativa. O susto é como eu percebo que o tempo passou. Tive o privilégio, nesse País, de poder fazer aquilo pelo que sou apaixonada e ainda dar certo! Posso viver disso. Isso me acompanha até hoje, ter essa surpresa, esse tesão de até hoje trabalhar no que eu amo. Ser ator é um ofício, não é glamour. Nem tudo é maravilhoso. Não faz parte do ator achar que já sabe tudo. Se você tem essa sensação, você começa a se repetir. Atuar nos dá a chance de viver sensações incríveis. Ainda tenho frio na barriga com um texto novo. Hoje, tenho mais vivências e experiências, mas a sensação do novo permanece.

– Hoje se discute muito sobre o etarismo. Como isso a afeta?

– Essa é uma questão muito séria que vivemos há anos e só agora colocamos luz sobre. O etarismo é um problema da sociedade. A pessoa mais velha é quase que descartada, não é levada mais em consideração. Os mais velhos, de todas as gerações, sempre têm o que contribuir. Isso realmente não é levado em conta na sociedade ocidental capitalista. Na nossa profissão, se parece muito com a questão da beleza, que também é supervalorizada. Eu acho que é um preconceito que precisamos lutar contra, assim como racismo, homofobia, misoginia. Quando ouço as pessoas falarem para mim que estou muito bem para a minha idade, esse adendo não cabe. Entendo que a pessoa diz isso como elogio, só que existe um preconceito enraizado que ela nem percebe. Estou bem e ponto. 

Independentemente da minha idade. Me acho melhor hoje, em vários aspectos, do que aos 30 e poucos anos. É contra isso que temos que lutar. Acho uma pena na profissão, porque as produções perdem. Os novos estão aí para serem vistos e usados. Mas a mistura é muito rica. Os brasileiros são tão criativos e especiais porque somos uma mistura de muitas raças. Isso é muito legal. Se você tem uma produção com gente que está começando junto com quem tem mais tempo de estrada, mais experiência, isso tudo explode!

– O que você espera e deseja para o seu futuro?

– Acho que Dona Beja vai ser um marco. É uma história de época, mas eles conseguiram colocar muitas questões atuais ali no meio. Não tem nada a ver com a outra versão. A base não foi a novela, mas o livro. É uma novela que será quase revolucionária, não vai ter como passar em branco. Também estou reestreando o espetáculo Três Mulheres Altas em julho, no Rio de Janeiro, e ano que vem vamos para São Paulo. Depois tenho um projeto muito legal com a Claudia Abreu, o Paulo Betti, a Julia Lemmertz... Vamos montar o teatro mambembe, levando para cidades pequenas do Nordeste, se apresentando em praças públicas. O ônibus será nosso camarim. Vamos levar teatro para lugares que talvez nunca nem tenham visto teatro.

Fotos: Guilherme Lima
Fotos: Guilherme Lima
Fotos: Guilherme Lima
Fotos: Guilherme Lima
Fotos: Guilherme Lima