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Para deixar de ser um “sem-amor” é preciso aprender a gostar de si

Redação Publicado em 26/06/2012, às 14h44 - Atualizado em 16/07/2012, às 20h33

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Com frequência somos confrontados com a triste realidade de vários tipos de despossuídos — os sem-terra, os semteto, os sem-emprego. Mas existe uma outra categoria de necessitados muito sofrida no silêncio de sua amargura, e que é pouco lembrada, talvez até pelo pudor em se revelar. Falo dos “sem-amor”.

Para pertencer à classe dos “sem-amor” não basta estar sozinho. Há pessoas avulsas que não se sentem rejeitadas. Alimentam sempre a esperança de que algém está prestes a chegar, como na música Anunciação, de Alceu Valença (66): “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais”. São homens e mulheres que, apesar de sozinhos, estão plenos de otimismo, e curtem a própria companhia, a dos amigos, dos familiares, dos colegas de trabalho. Estes estão mais credenciados a encontrar a cara-metade, ainda que demore. Eles tentam, tentam e falham, sim, mas não passam recibo aos “nãos” que vão colecionando, não conectam a adversidade dos encontros desencontrados a um sentimento de rejeição. Continuam sozinhos, mas seguem em frente — de preferência aprendendo com a experiência e os próprios erros.

Paradoxalmente, os que mais necessitam de um amor são os que não se sentem bem sozinhos e tampouco têm facilidade para criar as condições que poderiam propiciar possíveis encontros afetivos, ainda que desencontrados. Esses são os verdadeiros “sem-amor”. Não porque sejam patinhos-feios — muitos são até bem dotados fisicamente —, mas por não conseguirem desenvolver aspectos da personalidade que favoreçam os relacionamentos. Alguns sequer têm noção do que é o amor, porque nunca tiveram essa experiência, nem com os pais ou a família. Outros só sabem receber amor, sem conseguir dar, e há os que têm dificuldade crônica em criar sintonia com as demais pessoas — passam pela vida como imigrantes vindos de outro planeta. 

Claro que todo mundo tem um ladinho esquisito, no entanto outras credenciais da personalidade podem servir de contrapeso. Por isso a Psicanálise tem sido de grande ajuda em alguns casos. A pessoa precisa sentir-se bem para poder se comunicar, ser espontânea (não necessariamente extrovertida) e então poder criar uma “linguagem” que desperte diálogo estimulante, interesse, desejo e assim não se sentir rejeitada.

Às vezes é difícil avaliar se o sentimento de rejeição vem da dificuldade de relacionamento ou se a determina. Uma pessoa que carrega o sentimento de não ser capaz de despertar interesse acaba por cair na velha armadilha da profecia que se autorrealiza: como já se sente rejeitada, se atrapalha, troca os pés pelas mãos e acaba, enfim, atraindo a rejeição.

Decepcionados, alguns dos “sem-amor” se isolam. Mas há quem, mesmo sem conseguir superar esses obstáculos, sinta que, de alguma forma, precisa se relacionar. Para estes, toda forma de amor vale a pena, inclusive as relações superficiais transitórias, às vezes sustentadas apenas por sexo, que até aliviam no varejo do dia a dia, mas podem produzir vazio no horizonte da existência. A situação mantém-se assim até o momento em que eles percebem que há caminhos mais consistentes a seguir, que o amor pode ser mais amplo, direcionado não apenas a um parceiro, mas aos filhos, aos amigos, às causas sociais, ao trabalho. Quando se dão conta disso, muitos até deixam de ser “sem-amor”.