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A difícil arte de dosar controle e cuidado em uma relação amorosa

Nahman Armony Publicado em 12/04/2007, às 12h01

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Para algumas pessoas, o fato de o parceiro ou parceira não perguntar a todo momento para onde ele ou ela vai, não telefonar com freqüência ou não se interessar por detalhes de sua vida é percebido como desinteresse ou falta de amor. Para outras, é o contrário. O controle excessivo lhes traz a sensação de privação de liberdade, desrespeito à privacidade, desconfiança quanto à fidelidade. Ambas as formas de agir - e as reações por elas provocadas - podem comprometer a relação. Porém, na maioria das vezes é possível relevá-las e viabilizar a convivência com elas, preservando o amor e a parceria. Precisamos nos voltar para a infância para entender as forças em operação no psiquismo do adulto. Ao nascer, o bebê imagina a mãe como parte de si e acredita que exerce controle absoluto sobre ela. Basta chorar que a mãe aparece para suprir sua necessidade. À medida que cresce, percebe que ela é independente e nem sempre responde com presteza ou sequer atende às suas solicitações. Desesperada, temendo perder a mãe, a criança busca recuperar o controle refinando os procedimentos. Aos poucos, aprende quais ações são efetivas para conseguir o que deseja. Se antes lançava mão só do choro, agora usa a culpa, a amolação, a graciosidade, a chantagem emocional. Ao mesmo tempo, o afeto pela genitora vai crescendo. A preocupação com seu bem-estar, tranqüilidade e saúde ganha força. As perguntas "o que a mamãe está fazendo?", "para onde ela foi?", "com quem ela está?" têm os componentes de controle e afeto, além dos de curiosidade, aprendizado, identificação e certamente outros, mais sutis. Mas me interessa falar das duas correntes psíquicas postas em evidência mais acima: uma que deseja controlar e outra que deseja cuidar da mãe. A primeira está ligada ao medo de não sobreviver sem sua presença; a segunda, ao amor por ela. Ao amar a mãe, a criança sente-se amada. O controle começa a perder a razão de ser: uma mãe amorosa não vai abandoná-la ou negligenciá-la. O próprio amor se torna fator de segurança, dispensando o controle. Mas persiste o sentimento primitivo de que é o controle que faz a mãe aparecer e a mantém amarrada e atenta. Como somos herdeiros de nosso passado, nos mantemos em parte no registro do controle e em parte no do zelo; sem esquecer do natural desejo amoroso de participar de tudo que se refere ao amado e da curiosidade sobre suas atividades. Alguns adultos aceitam o controle e o consideram, como o ciúme, uma prova de amor. Mas outros se acham sufocados, presos e ofendidos com o mínimo de indagações sobre suas atividades. Estes só percebem o controle e não conseguem ver o aspecto de cuidado na atitude do outro. Desde que não haja fatores complicadores, a necessidade de controle vai sendo lapidada até se perder no amoroso desejo de acompanhar a vida do parceiro. O que persistir poderá ser carinhosamente aceito, a não ser que se tenha criado, durante o desenvolvimento, uma ojeriza pela atitude fiscalizadora. Em geral, negocia-se um certo encaixe entre o medo de ser controlado de um e o desejo de controlar de outro. Se os aspectos de zelo do "querer saber" puderem ser percebidos e valorizados, e se o casal está disposto a desenvolver a relação em direção a um equilíbrio, o medo de ser controlado ou a idéia de que a falta de controle significa desamor podem ser minimizados, permitindo uma convivência rica e gostosa.