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TV / desabafo

Klara Castanho diz: "Eu fui forçada a trazer a público a coisa mais difícil da minha vida"

Em desabafo no programa Altas Horas, Klara Castanho fala pela primeira na TV sobre quando foi vítima de vazamento de informações de sua intimidade

por Priscilla Comoti

pcomoti_colab@caras.com.br

Publicado em 04/03/2023, às 23h27 - Atualizado em 05/03/2023, às 00h11

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Klara Castanho no programa 'Altas Horas' - Foto: Reprodução / Globo
Klara Castanho no programa 'Altas Horas' - Foto: Reprodução / Globo

A atriz Klara Castanho (22) fez a sua primeira aparição pública na TV depois de tudo o que aconteceu em sua vida no ano de 2022. Em uma participação no programa Altas Horas, da Globo, na noite deste sábado, 4, ela abriu a atração falando sobre como foi lidar a exposição de uma fase difícil e íntima de sua vida. No ano passado, ela escreveu uma carta aberta nas redes sociais para colocar um ponto final nos rumores sobre sua intimidade. Ela confirmou que foi vítima de estupro, engravidou e entregou a criança para a adoção. A artista recebeu uma onda de carinho na época e agora se pronunciou sobre a repercussão do assunto.

No Altas Horas, Klara contou que este foi o momento mais difícil de sua vida e que foi forçada a expor a história por causa dos rumores. “É a minha primeira aparição pública. Eu escolhi vir aqui porque você, Serginho, é muito cuidadoso, sempre me recebeu muito bem e é uma plateia muito amistosa e respeitosa. Meu coração está muito acelerado, é muito provável que, em algum momento, eu vá chorar. Eu quero te agradecer por espaço”, disse ela,

Foi um período de recolhimento voluntário. Depois de tudo o que aconteceu no ano passado, eu cheguei no meu limite do que poderia, conseguiria e consigo falar. Eu quero, antes de mais nada, abrir o programa falando sobre isso porque eu sei que é um assunto latente, eu sei que é um assunto que, por ser a minha primeira vez publicamente, é o que as pessoas querem saber e estão em busca. Eu fui forçada a trazer a público a coisa mais difícil da minha vida. Eu nunca imaginei que eu teria que falar e lidar com isso além das pessoas que, involuntariamente, foram incluídas na história, que são a minha família. Eu tenho muita sorte de ter recebido muito acolhimento. As pessoas foram muito gentis comigo. Eu tenho uma rede de apoio maravilhosa e uma equipe que me defende. Eu recebo mensagens de muito carinho. Por mais que as pessoas não entendam, elas escolheram respeitar a minha decisão”, completou.

Por fim, a atriz contou que busca por justiça. “Tem uma coisa que eu quero deixar aqui registrado, que é a única coisa que ainda tentam usar contra mim de alguma forma. Depois que eu vim à público, de novo, de forma forçada, eu denunciei todos os crimes aos quais eu fui submetida, todos, sem nenhuma exceção. E o que me resta nesse momento, e ainda bem, é confiar na justiça, e eu confio muito. Não só na justiça daqui, mas numa justiça muito maior. Eu fiz o que eu podia e o que o meu psicológico podia aguentar e pode. Que bom que eu estou aqui, que bom que é com você, que bom que é com mulheres tão fortes e tão potentes. Finalmente eu consigo chorar, eu consigo colocar para fora. E mais uma vez eu quero muito agradecer o acolhimento de cada um, cada olhar de carinho e de amor, cada carinho que eu recebi e recebo todos os dias. Que bom que foi agora e que bom que foi dessa forma”, finalizou.

Relembre a carta aberta de Klara Castanho

Em 2022, Klara Castanho escreveu uma carta aberta para revelar o que enfrentou.“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mative a minha vida afetiva privada, assim, expô-la dessa maneira é algo que me apavora e remexe dores profunda e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada. Relembrar esse episódio traz uma sensação de morte, porque algo morreu em mim. Não estava na minha cidade, não estava perto da minha família, nem dos meus amigos. Estava completamente sozinha", disse ela na época. 

"Não, eu não fiz boletim de ocorrência. Tive muita vergonha, me senti culpada. Tive a ilusão de que se eu fingisse que isso não aconteceu, talvez eu esquecesse, superasse. Mas não foi o que aconteceu. As únicas coisas que tive forças para fazer foram: tomar a pílula do dia seguinte e fazer alguns exames. E tentei, na medida do possível e da minha frágil capacidade emocional, seguir adiante, me manter focada na minha família e no meu trabalho. Mas mesmo tentando levar uma vida normal, os danos da violência me acompanharam. Deixei de dormir, deixei de confiar nas pessoas, deixei uma sombra apoderar-se de mim. Uma tristeza infinita que eu nunca tinha sentido antes. As redes sociais são uma ilusão e deixei lá a ilusão de que a vida estava ok enquanto eu estava despedaçada. Somente a minha família sabia o que tinha acontecido. Os fatos até aqui são suficientes para me machucar, mas eles não param por aqui", contou.

"Meses depois, eu comecei a passar mal, ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser uma gastrite, uma hérnia estrangulada, um mioma. Fiz uma tomografia e, no meio dela, o exame foi interrompido às pressas. Fui informada que eu gerava um feto no meu útero. Sim, eu estava quase no término da gestação quando eu soube. Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Eu não tinha ganhado peso e nem barriga. Naquele momento do exame, me senti novamente violada, novamente culpada. Em uma consulta médica contei ter sido estuprada, expliquei tudo o que aconteceu. O médico não teve nenhuma empatia por mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência. E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que aconteceram comigo. Gostaria que tivesse parado por aí, mas, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher", comentou.

"Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter. Entre o momento que eu soube da gravidez e o parto se passaram poucos dias. Era demais para processar, para aceitar e tomei a atitude que eu considero mais digna e humana. Eu procurei uma advogada e conhecendo o processo, tomei a decisão de fazer uma entrega direta para adoção. Passei por todos os trâmites: psicóloga, ministério público, juíza, audiência -todas as etapas obrigatórias. Um processo que, pela própria lei, garante sigilo para mim e para a criança. A entrega foi protegida e em sigilo. Ser pai/e ou mãe não depende tão somente da condição econômica-financeira, mas da capacidade de cuidar. Ao reconhecer a minha incapacidade de exercer esse cuidado, eu optei por essa entrega consciente e que deveria ser segura", contou. 

No dia em que a criança nasceu, eu, ainda anestesiada do pós-parto, fui abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: 'imagina se tal colunista descobre essa história'. Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para supostamente para me acolher e proteger. Quando cheguei no quarto já havia mensagens do colunista, com todas as informações. Ele só não sabia do estupro. Eu ainda estava sob o efeito da anestesia. Eu não tive tempo de processar tudo aquilo que estava vivendo, de entender, tamanha era a dor que eu estava sentindo. Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar. Um outro colunista também me procurou dias depois querendo saber se eu estava grávida e eu falei com ele. Mas apenas o fato de eles saberem, mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor e vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança".

"Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações erradas e ilações mentirosas e cruéis. Vocês não têm noção da dor que eu sinto. Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei. A criança merece ser criada por uma família amorosa, devidamente habilitada à adoção, que não tenha as lembranças de um fato tão traumático. E ela não precisa saber que foi resultado de uma violência tão cruel. Como mulher, eu fui violentada primeiramente por um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa angústia que carrego todos os dias", disse a atriz.

"A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofrem. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho", finalizou.