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Revista / FAMA

Mell Muzzillo, de Renascer, defende mais representatividade na TV: 'A gente precisa falar'

Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Mell Muzzillo fala sobre estreia na TV como Ritinha em Renascer e reflete sobre trajetória de perseverança

Mell Muzzillo revela que está aprendendo a lidar com a fama - FOTO: THAIS MONTEIRO
Mell Muzzillo revela que está aprendendo a lidar com a fama - FOTO: THAIS MONTEIRO

Antes de passar no teste para interpretar a Ritinha na novela Renascer, a atriz e bailarina Mell Muzzillo (18) estava prestes a desistir da carreira. Na luta para viver da arte desde criança, ela teve apoio da mãe, Carla, e da avó, Maria Madalena, durante a saga, entre ônibus, trem e caminhadas, em busca de oportunidades. Moradora de Nilópolis, na Baixada Fluminense, enfrentava o trânsito e madrugava para estudar dança. Hoje, segue saindo de casa cedo, mas para realizar o sonho da infância: gravar uma novela na TV Globo. Em conversa exclusiva com a CARAS no Haras Baruca, a jovem conta sua história, defende a representatividade indígena na TV e reflete sobre a fama. 

– É verdade que, antes de Renascer, você quase desistiu da carreira para trabalhar em um mercadinho perto da sua casa?

– Estava desesperada, tinha terminado os estudos e estava sem norte. Nada dava certo na dança, no teatro nem no audiovisual. Comecei a faculdade de dança, mas era on-line. Como precisava de grana, quase fui trabalhar no mercadinho na esquina de casa.

– E aí apareceu Renascer...

– Eu já tinha desistido do audiovisual, porque já tinha entendido que não era para mim. Mas fui à pré-estreia de uma série e o caracterizador me viu, me indicou para o teste e deu certo!

– Por que achou que o audiovisual não era para você?

– Porque eu passei por inúmeros testes durante a minha vida e nunca dava certo por causa do meu perfil. Primeiro, porque eu era mais nova e aparentava ser mais velha, por causa da minha altura. Então, participar de testes para meninas de 10 anos, não dava para mim, pois eu parecia ter 15. Quando fiz 15, não emplacava porque o meu perfil era muito específico. Sempre escutava a mesma coisa: para conseguir me encaixar em alguma personagem teria que ser em uma família muito específica ou uma trama muito específica, que pedisse um perfil parecido com o meu. Era difícil naquele tempo, agora, graças a Deus, está mudando.

– Renascer é uma novela que teve esse cuidado, os personagens não estão presos a um perfil.

– Renascer veio com diferencial, porque somos quatro atores indígenas, eu, Adanilo, Xamã e Mac Suara, que não estão presos em uma narrativa de Aldeia, de serem indígenas estereotipados, cada um tem a sua particularidade, seus dramas, sua história. Então, a gente começou muito bem, mas é uma coisa rara de acontecer.

– Que bom que as coisas estão mudando, que essa representatividade está mais presente.

– Com toda a certeza! Eu recebo vídeos de mães ou meninas que têm o perfil parecido com o meu, dublando a Ritinha ou dizendo que pareço com elas. Eu não tinha isso, né? Quando era mais nova, eu ligava a TV e não tinha ninguém parecida comigo. Como você vai se enxergar naquele lugar se não tem ninguém que te represente? É difícil.

– Você está se aprofundando sobre suas origens. Isso é uma pauta importante na sua vida?

– Eu vejo esse assunto ainda muito invisibilizado e a gente precisa muito falar sobre isso, sim. Eu estou num momento de retomada mesmo, de voltar a estudar sobre, entender mesmo sobre os meus e querer passar isso para frente também, porque acho que a gente fala muito pouco disso.

– O que veio primeiro, a dança ou o teatro?

– Eu comecei na dança com 2 anos, foi uma indicação médica na verdade, porque eu tinha o joelho torto e acabei gostando. Aos 7 anos fiz o teste para a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, do Theatro Municipal do Rio, e passei. Fiquei seis anos lá. Nesse período, comecei a fazer teatro e me apaixonei! Fiz teatro musical e, mais tarde, entrei para o audiovisual, que era meu principal objetivo. Fiquei fazendo vários cursos de televisão. Mas não dava nada certo, aí só foi dar certo quando tinha que dar.

– De Nilópolis para o centro do Rio é uma distância!

– Hoje, penso que era uma loucura o que eu e minha mãe fazíamos, mas na época parecia tão leve. Eu acordava às 3h40 da manhã. Para ganhar tempo, já dormia de meia-calça e collant. A gente tinha um amigo que trabalhava numa linha de ônibus e às 4h ele passava na frente da minha casa. A gente pegava essa carona até a Lapa. Às 5h da manhã, chegávamos lá e andávamos até o teatro. Então, esperava a barraquinha da moça que fazia café da manhã abrir, comia e ia para o segundo andar dormir até as 7h, que era quando começava a aula. Saía de lá às 9h, corria para a estação para voltar à Nilópolis, porque estudava à tarde. Eu almoçava em uma igreja que frequentava e ia para a escola. Depois da aula, fazia academia de dança perto da minha casa para aprender outras modalidades. Ficava lá até até as 22h. No outro dia era a mesma rotina.

– E hoje você é um dos destaques da novela das 9 da TV Globo. Como está sua cabeça?

– Doida (risos)! Não posso dizer que estava preparada, acho que não tenho preparo certo para tudo, mas estou aprendendo, tendo que aprender na marra a lidar com tudo. É tudo de uma vez só nesse mundo: me preocupo em fazer um bom trabalho e, ao mesmo tempo, em estar ali no meio, porque é importante. Estou tentando fazer dar tudo certo.

– Com a fama veio a exposição, especulações sobre sua vida amorosa. Como lida com o interesse sobre sua vida pessoal?

– Eu não estou lidando, né? Eu dei uma surtada de início, porque sou uma pessoa muito reservada. Então, olhar a minha vida exposta dessa forma para todo mundo ver foi muito dolorido. Mas, agora, entendendo que essas são as consequências da nossa profissão, e não tenho muito o que fazer, as pessoas vão falar mesmo, as pessoas vão comentar, vão inventar e é isso. Eu estou aprendendo.

– Já caiu a ficha de que agora você é uma pessoa famosa?

– Na verdade, está caindo aos poucos. Ainda fico meio incrédula, me assistir é uma coisa muito doida. Estou de casa para o estúdio e vice-versa. Então, não estava conseguindo sentir a repercussão, mas essa semana fui para São Paulo e foi a primeira vez que consegui sentir esse calor do público. As pessoas estão me chamando de Ritinha, o nome da personagem, elogiando meu trabalho, pedindo foto, fico feliz com esse carinho. 

FOTOS: THAIS MONTEIRO; STYLING: KEVIN BORGES; BELEZA: MARINA TERRA; AGRADECIMENTOS: HARAS BARUCA