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Revista / Entrevista

Jonathan Azevedo: 'A arte mudou o meu ser, foi onde encontrei a minha paz'

Sem perder a essência, o ator Jonathan Azevedo, que está no ar em Terra e Paixão, reflete sobre lutas, sucesso e machismo

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: MARCIO FARIAS
Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: MARCIO FARIAS

Luz na caminhada. Essa é uma frase muito usada porJonathan Azevedo (37). O ator é positivo e, apesar das dificuldades, nunca se deixa abater. Cria da favela, como gosta de dizer, conquistou a fama, mas não esqueceu sua essência. Atento, busca o conhecimento a todo tempo e seu processo de desconstrução faz parte disso. Na novela global Terra e Paixão, diferentemente do que busca ser na vida pessoal, começou interpretando um machista. Para o artista, a trama serve de reflexão não só para o público, mas para ele também.

– Você está de saia. Não tem masculinidade frágil, não é?
– Não tenho também problema com isso. Essa questão sobre masculinidade frágil, consegui aprender com a minha arte, com meu trabalho, a respeitar também a minha sensibilidade e não posso abrir mão dela. Ainda mais quando a gente vive em um mundo que uma roupa pode matar alguém, né? Uma saia em um homem diz uma coisa, em uma mulher diz outra, e as duas podem ser negativas. Então, tento me vestir de uma forma positiva, elegante, é claro, mas sempre usando o meu corpo para trabalhar esse lugar de olhar diferente, com respeito e também de aceitação, não só nosso, mas dos outros também.

– No início de Terra e Paixão, o Odilon tinha traços de machismo, era ciumento, um jeito diferente do seu. Foi difícil interpretar com esse foco?
– Era muito difícil, mas também tem a questão do “vamos fazer direito para que essa reflexão aconteça”. Me joguei, com toda dificuldade, voltava para casa refletindo muito sobre as cenas. Acho que todo homem, mesmo se atentando, pesquisando, ainda tem resquício do machismo.

– Se vê ainda desconstruindo esse machismo enraizado?
– Sim, me vejo. Acho que o mundo vai passar um tempo ainda para ter essa desconstrução, porque ela é uma estrutura educacional, é um projeto que começou há muito tempo. Então, quando você tem acesso, como eu estou tendo, a conhecimento, tento dividir, porque acho que o único valor que a gente tem na vida é dividir conhecimento. O resto é preço.

– Como pai, tem esse cuidado na criação do Matheus Gabriel?
– Eu vejo que a geração do Matheus Gabriel vai ter uma outra visão sobre o que são relações, afetividade, amores, até mesmo de indumentária, de como se vestir. É uma geração que tem muita informação, que tudo chega pela tela de um telefone e já está enraizado dentro deles. É um mundo diferente. Eu vejo que cada dia meu filho me ensina um novo olhar para o mundo. Se você prestar
atenção em como as crianças olham para o mundo, conseguirá encontrar soluções para o que nós estamos passando agora.

– A paternidade mudou você?
– Muito! A paternidade foi algo que me fez refletir sobre o que eu queria, não só para mim, mas para
minha família, minhas comunidades, as crianças que me veem. A minha relação com o Matheus é de aprendizado contínuo, é um lugar em que posso pensar: ‘Jonathan, é difícil, mas vai dar certo’. Como deu certo a minha vida profissional, familiar.

– Muita luta para chegar aqui?
– Muita! Mas a arte foi a coisa que mudou o meu ser, foi onde encontrei minha paz. Tem pessoas que vão pra igreja, pro axé, pra praia, para o mantra... A minha saída foi o teatro. O que curou minhas cicatrizes, e cura até hoje, é a arte como um todo. Estar no palco é estar no meu santuário. Estar em
cena é estar de alma e espírito, é o que me move, me alimenta. Estar aqui, agora, está me nutrindo, porque foi para isso que lutei. Dificuldade tenho até agora.

– Ainda?
– Ainda. Pensando bem, talvez tenha dificuldades piores do que eu tinha quando não possuía tantos recursos. Não é só dinheiro. Eu não busquei um casarão, um carrão. Peguei a minha grana e busquei conhecimento. E você vê que o dinheiro também pode atrapalhar psicologicamente, porque você não tem uma estrutura, educação financeira, para lidar com tudo que está ao seu redor. O País em que vivo não está preparado para ver um preto bem-sucedido. Então, todos esses reflexos que eu tinha, quando era um jovem preto, sem nada, dentro desse mesmo espelho, apareceram muitas coisas diferentes, não do que eu vejo em mim, mas de como me olham nesse mesmo lugar. Buscar conhecimento mudou tudo. Quando penso em fama e sucesso são duas palavras com um abismo muito grande de diferença.

– Você falou que poderia ter uma mansão. Você continua no Vidigal, não é?
– Quando fui analisar de onde vim e onde estou, percebo que estou muito bem! E se eu tivesse me mudado antes, faria mais pelos ou tros do que por mim. Não quero mais ser uma pessoa que realiza o
sonho de todo mundo e não realiza os meus próprios. Um dos meus sonhos era estar no meu lugar,
tendo o que eu tenho e com as pessoas que amo. Eu tenho tudo isso no Vidigal e na Cruzada. Sou
apaixonado pelo Jonathan que eu sou e vou continuar lutando para não perder a minha essência.

– Você diz que foi pelo caminho mais difícil, mais longo, mas o mais prazeroso. Valeu a pena?
– Cortar caminho foi o que o mundo mais me apresentou, mas eu sempre tive alguém que me dava a seta da sabedoria para ir a um lugar mais amplo, difícil, mas que seria mais prazeroso para mim. Há anos, eu poderia até dizer que vi amigos cortando caminho. Mas hoje, buscando conhecimento — e ainda tenho que buscar muito mais —, vejo que tinham muitas armadilhas no caminho para meus
amigos e para mim também. E a única coisa que me fez desviar de todas elas foi o conhecimento, não o dinheiro. 

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

Jonathan Azevedo em entrevista na Revista CARAS

FOTOS: MARCIO FARIAS; BELEZA: DAIANNE MARTINS; VÍDEO: ANDRÉ IVO; AGRADECIMENTOS: CANASTRA ROSE

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