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Revista / EXEMPLO

Bukassa Kabengele: a trajetória de lutas e glórias do artista

Com alma africana e brasileira, ator brilha em 'Amor Perfeito' e no cinema

Fernanda Chaves Publicado em 29/08/2023, às 12h32

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UMCIDADÃODO MUNDO:BUKASSAKABENGELE TRAJETÓRIA DE LUTAS E DE ÊXITOS DO ARTISTA DE ALMA AFRICANA E BRASILEIRA - Fotos: Marcio Farias
UMCIDADÃODO MUNDO:BUKASSAKABENGELE TRAJETÓRIA DE LUTAS E DE ÊXITOS DO ARTISTA DE ALMA AFRICANA E BRASILEIRA - Fotos: Marcio Farias

Ele nasceu na capital da Bélgica, Bruxelas, mas desenvolveu toda a sua identidade e suas raízes na República Democrática do Congo, na África, terra de sua família. Já aos 10 anos, radicou-se no Brasil. Definitivamente, Bukassa Kabengele (50) é um cidadão do mundo. Com uma bagagem cheia de experiências pessoais, profissionais e prêmios, o ator, cantor, guitarrista e compositor, que soma mais de 30 anos de carreira, celebra as mudanças e a maior representatividade no audiovisual. No ar com a global Amor Perfeito e no elenco do filme Um Ano Inesquecível – Outono, do Amazon Prime Vídeo, ele vê as portas se abrirem.

Na trama você é o promotor Sílvio. Wanda, papel de Juliana Alves, a mulher dele, é empresá- ria. Qual a importância de mostrar negros bem-sucedidos na TV?

É fundamental. Essa é a oportunidade que damos às mídias e veículos de massa de se retratarem com as imagens negativas impostas aos negros na televisão, suas invisibilidades por anos sustentadas, bem como a negação de seus corpos, suas vozes e culturas. Desconstruir o lugar do negro na sociedade brasileira que, por mui- to anos, foi imageticamente negativa. Uma TV que, de modo geral, não mostrou negros ocupando cargos de poder, riqueza material, famílias complexas e felizes com suas realidades dentro da negritude. Para desconstruir esses olhares estigmatizados e profundos, precisamos de novas narrativas, inclusivas e antirracistas. Mostrar que o lugar do negro é qualquer posto da sociedade que os dignifique e lhes dê o protagonismo devido.

Como vê essa mudança no audiovisual de, finalmente, perceber a importância do protagonismo negro, dando personagens de destaque nas histórias?

Faz parte desse caminho de acertos e de reparação de uma estrutura que não distribui de forma igualitária espaços de visibilidade a profissionais negros. O que reflete na representatividade e referências para o público, bem como sua reeducação no consumo de produtos do entretenimento e informação por meio das mídias e do audiovisual. Não são oportunidades dadas pelos brancos, vejo mais como conquistas de anos de lutas de diversos braços do movimento negro para ocupar esses espaços.

Então isso é só o começo...

Precisamos ir mais além. A televisão precisa ser mais plural, eticamente falando. Hoje, a desculpa de que não tem contingente negro profissional suficiente para atender o mercado, não é aceitável. A riqueza da diversidade nas telas conversa com o Brasil. Bem explorada gera audiência, receita e identidade com o público. Mas certamente precisamos de mais representatividade em todos os setores e cadeiras possíveis, ou seja, precisamos de mais negros ocupando cargos de diretores, escritores, roteiristas, fotógrafos e produtores executivos, entre outros.

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Durante muito tempo essa representatividade era rara de se ver. Isso te desmotivava?

Na minha educação e forma de ver o mundo, desistir nunca foi opção. Até porque é como se estivesse deixando a decisão de nossos sonhos nas mãos de uma estrutura racista. Digo isso por sentir, durante anos no caminho das conquistas, que a dificuldade também passa nesse lugar. Tenho certeza de que, com minha habilidade e conhecimento, se eu fosse branco, as portas se abririam mais facilmente. Já desanimei, já me lamentei, mas nunca pensei em desistir da minha profissão.

Você nasceu em Bruxelas, cresceu no Congo e mora no Brasil. É um cidadão do mundo!

É isso, podemos dizer assim... Alguém que bebeu de algumas fontes diversas para ser essa pessoa que vos fala. E como se não bastasse, a minha carreira artística também me fez viajar pelo mundo. Na época que trabalhei com Marisa Monte, Elba Ra- malho, pude pisar em palcos de países da Europa, além de Japão, EUA, Porto Rico e até Cabo Verde, na África. Com um projeto de música em 2005, do meu CD Mutoto, passei três meses em Paris promovendo esse trabalho com uma grande gravadora. Fazendo uma retrospectiva, diria que a vida me trouxe ao Brasil, aqui me realizei, me fiz como adolescente e homem adulto. Meu lar é aqui, os sonhos foram construí- dos aqui, mas carrego em mim todas as minhas referências e caminhos percorridos pelo mundo, principalmente lembranças da minha infância vivida na República Democrática do Congo.

Como é o Bukassa pai, marido, filho, irmão?

Sou o filho mais velho de cinco irmãos e nos damos muito bem. Para mim, a família é uma grande referência e base que norteia minhas lutas. Faço tudo pensando na minha filha, esposa e também nos meu irmãos e parentes. Tenho uma grande ligação afetiva com meu pai, Kabengele Munanga, minha grande referência. Minha mãe, Yombo Masanga, já é faleci- da desde que cheguei ao Brasil. Minha segunda mãe e mulher de meu pai, Irene, nos deu muito amor, o que me faz sentir pleno. Minha mulher, Vera, é uma pessoa incrível, com quem tenho a sorte de compartilhar a vida e criarmos a nossa filha, Mwanza. A vida de casado é uma escolha que, para além do amor, envolve maturidade, responsabilidade e respeito. Nos apoiamos na luta pela vida e, claro, já passamos por crises co- mo qualquer casal, mas sempre juntos e assim estamos até hoje, felizes com nossa caminhada. Amo minha filha, sou coruja, ela me dá orgulho para além da felicidade e o privilégio de ser seu pai. Erro co- mo qualquer pessoa, procuro melhorar a cada dia, mas amor em casa é o que não falta.

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