CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil
Revista / Capa

A jornada do bem de Xuxa e Sasha na África

Elas oferecem ajuda e refletem sobre o futuro de crianças em Angola

Marcelo Bartolomei Publicado em 11/02/2020, às 13h38 - Atualizado às 16h34

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Sasha fotografa a mãe. Reticente em se expor, a jovem é convencida por Xuxa de que isso ajuda a divulgar o trabalho das ONGs. - Pedro Cerqueira/ONG Baluarte'
Sasha fotografa a mãe. Reticente em se expor, a jovem é convencida por Xuxa de que isso ajuda a divulgar o trabalho das ONGs. - Pedro Cerqueira/ONG Baluarte'

Acostumada a fazer o bem — seja com um gesto, ao apoiar projetos e campanhas em prol de crianças, adolescentes e mulheres ou liderar sua própria fundação, como fez por 15 anos —, Xuxa Meneghel (56) foi surpreendida em recente viagem a Angola. “Foi uma experiência única! Fui crente que ia me doar... E, sei lá... Só recebi. Recebi amor, atenção e um carinho extremo sem querer nada em troca. Não estou acostumada com isso. Vivemos num mundo onde dou algo e espero sempre algo de você, de preferência em dobro, e lá só ganhei”, revela a Rainha dos Baixinhos, orgulhosa de ter ao seu lado a filha, Sasha (21), nesta jornada de solidariedade com crianças de famílias miseráveis. Xuxa retorna aos domingos na televisão com a segunda temporada do The Four Brasil, talent show de sucesso da Record TV, que estreia dia 8 de março.

– Como surgiu a viagem?

– Sempre falei para o Junno e para a Sasha que, ao deixar a TV, iria para a África cuidar de crianças, pelo menos duas vezes ao ano. Sabe quando você idealiza isso, deseja isso? Era para ser daqui há alguns anos, sei lá... Como disse, ao parar a TV, não agora... Mas Sasha me surpreendeu. Ao receber um convite de Bruna Marquezine, ela foi para Luanda e depois em Bié e se apaixonou de uma maneira que voltou mais três vezes. Me dizia o tempo todo: “Mãe, você precisa ir lá. Mãe, você precisa sentir o que eu senti. Mãe, você precisaaaaa...”. Foi ela que me levou!

– O que encontrou por lá?

– Conheci algo que muita gente já viu por aqui, com a diferença que os costumes deles são diferentes. As crianças lá não têm muita atenção. Os mais velhos podem bater nas crianças na escola para educar ou nas ruas se eles acham que a criança foi desrespeitosa... Tipo passou na frente de uma fila, apanha. Poucos têm certidão de nascimento, a saúde pública é pior que a nossa, acreditem, e o acesso à água ainda é difícil. Parece que alguns políticos querem fazer algo, mas têm medo de ir contra o sistema. É como ter boas ideias e intenções, mas não conseguir sair disso. A África é enorme e não posso generalizar, mas o que posso dizer é que a miséria é comum. Ainda assim, eles têm uma alegria e uma fé inabaláveis. Temos que aprender muito com eles. Vi o começo da minha Fundação lá, em suas necessidades.

– Como você foi recebida nas ONGs?

– Me chamou atenção a educação deles, a gratidão por você estar lá pensando em ajudá-los. Eles fizeram uma fila de mais de 50 pessoas trazendo algo para mim, não sabiam meu nome, me chamavam de visita. Me deram mangas, tomates, aipim, batata... O que eles tinham, ou melhor dizendo, o que não tinham nem para eles, mas sua cultura diz que, se uma visita vem vê-los, eles têm de oferecer algo. Depois oraram por mim, agradeceram por eu ter saído do meu País pra vê-los.

– Como quer o mundo para estas crianças, como melhorar?

– Em Bié, terminou a guerra há pouco tempo, é uma cidade que está se levantando. Para mim, parece um berçário. É uma criança levando a outra nas costas, são meninas de 20 anos grávidas de seu terceiro ou quarto filho. Sei que tem países na África que têm mais necessidades e pobreza, mas, como disse antes, suas culturas são outras. O que mais me chocou é ter tanta criança e elas não terem direito a nada, seus direitos não existem. Um menino que está lá há 12 anos disse que ele acordava e pensava em apenas crescer, não tinha sonhos. O que eu quero e gostaria de ver são essas crianças esperançosas, sonhadoras, com desejos de mudar o que está errado. Quero ver um ajudando o outro como acontecia na minha Fundação, quero ouvir em suas histórias dentro de alguns anos que a ajuda, as doações, mudaram suas vidas. Eu acho incríveis estes brasileiros que estão lá fazendo este trabalho. Acho grandioso e espero que estas crianças devolvam a esta gente o seu melhor hoje, amanhã e sempre. Eles merecem.

– Deu vontade de adotar?

– Tem um menino chamado Betinho, que andou quilômetros segurando a bengala do seu pai, que é cego. E sua mãe o abandonou. Ele chegou à Aldeia Nissi e lá está com seu pai há dois anos. Na boa? Vontade não faltou de levar ele! Tem a Jujuba, que é da Baluarte, a Chris... Mas eles têm parentes: tio, pai ou mãe... Tinham órfãos lá, mas não é fácil o trâmite de adoção em Angola. Todo mundo achou que eu ia roubar um lá e sair correndo... (risos) Me segurei, mas me apaixonei por uns, verdade seja dita. Eles precisam de um lugar para dormir, uma cama, banho, comida, cuidados médicos e, claro, amor e carinho... Eles precisam primeiro existir aos olhos das pessoas para depois fazerem o que uma criança sabe melhor: brincar.

– Emocionou ver Sasha lá?

– Pedi a ela para publicar suas fotos dizendo que isso iria ajudá-los, mas foi difícil convencê-la, pois ela não está fazendo para o povo ver, ela faz porque quer, porque faz bem para ela... Acho que ela vai se sentir muito mal em ver suas fotos expostas. Espero que o resultado desse esforço ou incômodo para ela seja bom para as ONGs, pois realmente ela não quer aparecer, mas precisa muito disso tudo para se sentir bem, me disse que é o que quer fazer e eu me encho de orgulho. Sempre disse que ela é mais linda por dentro do que por fora e isso agora está claro para muita gente que a conheceu. Sasha já nasceu pública, ela não buscou isso. Creio que ninguém tem o direito de criticá-la só porque é minha filha. Não aceito isso. Sasha foi criticada e não pude protegê-la como queria. Se pudesse, primeiro pediria para quem quer criticá-la pelo menos fazer algo de bom por uma pessoa, assim a pessoa não terá tanto tempo e veneno para destilar contra uma menina que está fazendo o seu melhor
para o próximo.

– As pessoas criticam também por não fazer isso no Brasil...

– Muita gente não entende que estas ONGs surgiram do coração de brasileiros que abriram mão de suas vidas para estarem lá, vivendo para ajudar. Vi gente perguntando: “Por que não está ajudando os brasileiros?” Primeiro gostaria que as pessoas que não forem ajudar, também não atrapalhem. Se elas não sabem o que eles vivem, não venham dar ideias sem luz, sem propósito... Vi famílias que dão seus filhos e se ajoelham no chão em agradecimento a Deus porque elas agora vão ter comida, colchão para dormir, estudo, cuidados...

– Como podemos ajudar? 

– Na verdade, estou digerindo tudo que vi ainda, pedindo ajuda para meus amigos artistas para divulgarem as ONGs, pois quem sabe alguém pode ajudar com dinheiro. São 49 reais, um pouco mais de 15 dólares por mês, para cada criança, para tentar mudar este quadro.