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Viver só para o outro não é bom para você e nem para a relação

Paulo Sternick Publicado em 16/10/2007, às 14h52

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Paulo Sternick
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Todas as pessoas dependem, em certo grau, umas das outras. E mais, ainda, quando vivem uma relação amorosa: suas vidas se entrelaçam, há satisfações e intimidades exclusivas do casal, o desejo de fazer coisas em comum. A presença de um na mente do outro é freqüente. Em certa medida, essa interdependência é natural e até importante para a relação. Mas a experiência indica que só haverá um entrosamento salutar se for preservada a identidade de cada um, assim como seu raio de ação, seja no trabalho, nas amizades ou nos afazeres pessoais. Porém, nem todos os casais acertam na dose e, em alguns casos, a dependência de um chega a beirar a sujeição em relação ao outro. O que às vezes leva a essa situação é a ilusão que algumas pessoas têm de obter a completude absoluta junto do companheiro. Isso é impossível. É claro que seria injusto definir uma pessoa somente por seu lado amoroso. Sigmund Freud (1856-1939) estimava em apenas 20% a proporção dos que tinham sorte no amor. Uma das razões é que há problemas que só experimentamos quando nos vinculamos afetivamente. A relação amorosa põe à prova não só nosso nível de maturidade emocional como nossa sanidade. Se alguém duvida de que "loucos" também amam, deve lembrar-se de tudo o que já se cometeu em nome do "amor". Na verdade, amor e loucura não raro desfrutam de arriscada vizinhança. A razão e o bom senso é que impedem o esgarçamento dessa fronteira, levando os problemas de um casal a extremos insustentáveis. Um desses problemas é justamente a excessiva dependência. O amor se torna uma espécie de tóxico no qual a pessoa se vicia, passa ser remédio contra problemas de afirmação da identidade, solução para as incertezas e ambivalências naturais da relação e também uma fórmula para curar a angústia da existência. Ufa! São encargos demais para o amor. Ele não dá conta. Já "medicalizado" o problema encontrou um diagnóstico: "AP", ou amor patológico. Antes, Freud já havia descrito o "tipo erótico": aquele que vive para o amor e cujo principal temor é perdê-lo. Dizem que a mulher depende mais do que o homem, mas desconfio dessa estatística. Na verdade, o que parece acontecer é que elas expressam mais sua fragilidade e titubeiam menos em largar tudo para viver em função do companheiro. No chamado "sexo forte", a dependência é camuflada por atitude defensiva oposta, uma espécie de superindependência, ou fica escondida sob a forma de ciúme possessivo - convertido em subjugação da mulher. Quanto mais o homem é dependente e frágil, mais precisa oprimir a parceira. Um dos grandes riscos nesses casos é o de a fome juntar-se com a vontade de comer, como se diz. Aí, um se submete e o outro oprime, como se isso fosse natural. Em todas essas situações há uma curiosa associação entre o estar amando e a fragilidade emocional. A permanência de traços infantis de dependência e as assombrações presentes nos adultos ditam a forma de amar. Mas a dependência na relação amorosa tem efeitos colaterais. Qualquer distância ou indiferença do parceiro dispara forte angústia. A pessoa perde o brilho pessoal e pode terminar sendo percebida como chata. Sem falar do perigo de ser explorada. Ao viver só para o outro, relaxa com todos os demais interesses, não desfruta das satisfações da vida e onera a relação com expectativas exageradas e frustrações, colocando-a em risco de desgaste. Não é uma situação confortável e dela, muitas vezes, só é possível se livrar com ajuda de psicoterapia.