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Pela carência de vitamina C, os navegantes portugueses...

...freqüentemente contraíam o escorbuto, do latim scorbutus, doença que causa hemorragias. Homens rudes e sujos, seu cheiro surpreendeu a corte do rajá de Calicute, na Índia, o samorim, do malaiala samudri, rei do mar.

Deonísio da Silva Publicado em 19/07/2007, às 14h38

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Deonísio da Silva
Deonísio da Silva
Banho: do latim baneum, banho, sala de banho, origem de banheiro e balneário. A expressão "vá tomar banho", ofensiva, pode estar vinculada à concepção de que a higiene tem muito a ver com a virtude, assim como a sujeira com o pecado. Sujo é um dos nomes do diabo. Não somente pecados, mas também crimes e erros são qualificados como sujeiras. A frase, dita em desabafo ou em reprimenda, inscreve-se na tradição geral que considerava o banho como a condição prévia ao recebimento de algum favor, insígnia, distinção. Foi considerado tão importante lavar-se que o rei inglês Henrique IV (1367-1413) criou a Ordem do Banho. E no Rio de Janeiro, na segunda metade do século 19, nos arredores da famosa Rua do Ouvidor, a Casa de Banhos Pharoux convidava num anúncio: "Venha tomar banho na Pharoux, que é do que o senhor precisa". Dogue: do inglês dog, cachorro, alteração de dogge e docga, formas presentes no inglês antigo. No português brasileiro, dogue vinha sendo preferencialmente cão de guarda, como o buldogue e o dogue alemão, mas atualmente é sinônimo franco de cachorro. As designações desses animais domésticos têm origens curiosas. Schnauzer, em alemão, é aquele que rosna. O boxer foi criado e treinado para brigar, semelhando um pugilista no boxe. O francês terrier é redução de chien terrier, cachorro da terra. Em francês, terrier é toca, e ele começou a vida como exímio cavador. O são-bernardo tem este nome porque, conta-se, São Bernardo (1090-1153) utilizava esse tipo de cão para socorrer vítimas de tempestades e avalanches de neve nos Alpes Suíços. Escorbuto: de origem controversa, provavelmente do sueco skörbjug ou do normando antigo skyr-bjugr, tumor do leite coalhado. Navegadores escandinavos levavam provisões de leite coalhado para suas longas viagens marítimas. Mas talvez tenha se tornado preferencial a pronúncia do russo skrobota, já com influência do polonês. Em holandês é scheurbuik, ventre aberto. Todas as variantes foram sintetizadas no latim medieval scorbutus, passando a designar o mal-estar geral, vindo da falta de vitamina C, que resultava em extrema fraqueza, hemorragias, inclusive na gengiva, e mau hálito. Na Retirada da Laguna, durante a Guerra do Paraguai, século 19, soldados brasileiros saciaram a fome num laranjal. Sem querer, abasteceram-se de vitamina C, combatendo o escorbuto e salvando as próprias vidas. Samorim: do malaiala samudri, que no sânscrito é samuri, rei do mar, título do rajá de Calicute, na Índia. O primeiro encontro do soberano com os portugueses deu-se a 29 de maio de 1498, quando recebeu a comitiva de Vasco da Gama (1460?-1524), que ali aportara. O contraste entre as duas culturas logo se manifestou. Os visitantes exalavam um fedor horrível, decorrente das longas temporadas sem tomar banho, e os anfitriões os recebiam de banho tomado, roupas limpas, em ambientes perfumados. Assessores do samorim pediram aos visitantes que tapassem a boca com a mão esquerda, "para não o macular com seu bafo". Católicos, os portugueses pensaram que o líquido perfumado que os sacerdotes hindus esparziram sobre eles fossem água benta, mas tinha a função de amenizar o cheiro ruim. Na chegada dos portugueses ao Brasil, ainda que os índios não tivessem cidades limpas e ajardinadas como as do Oriente, eram cuidadosos com a higiene pessoal, tomando vários banhos por dia. Na síntese de Eduardo Bueno (49), em Passado a Limpo: História da Higiene Pessoal no Brasil (Ed. Gabarito), "os homens peludos estavam na proa" e "os homens pelados estavam na praia", os primeiros, "fatigados e imundos" e os segundos, "desnudos, depilados e limpos". Trimestre: do latim trimestre, espaço de três meses, pelo prefixo tri, três, e mens, mês, presente também em menstruação - que as mulheres agradeceriam se pudesse ser trimestral, não mensal. O terceiro trimestre do ano começa em julho, mês que tinha outro nome, quintilis, antes do assassinato do imperador Júlio César (100?-44 a.C.), em alusão ao fato de ser, então, o quinto mês do ano. Depois dele vinham sextilis, sexto; septembre, sétimo; octobre, oitavo; novembre, nono; e decembre, décimo. O antigo calendário romano era lunar, tinha só 304 dias e iniciava em março. Foi Marco Antônio (82?-30 a.C.), amante de Cleópatra (69-30 a.C.), quem propôs a mudança de quintilis para julius, julho, mês de nascimento de César. Em inglês, era julie, mas mudou para july. Otaviano, sobrinho de César, nasceu em setembro, mas preferiu homenagear-se em augustus, agosto, que substituiu sextilis, porque fora em agosto que o Senado lhe dera o título de Augustus.