O â¬ÜPEOUENO PRÍNCIPEâ¬" É O CAMPEÃO DE INTERLAGOS

por Márcia Gimenez Logo após cruzar a linha de chegada, o "Pequeno Príncipe" parou por um momento. Arrancou logo em seguida, segurando em sua mão uma bandeira brasileira, que acenou para as arquibancadas durante toda a volta de celebração da vitória. O público aplaudia e gritava o nome do vencedor - Felipe Massa (25) - comemorando com ele. Impossível não lembrar de outro campeão nacional, Ayrton Senna, fazendo o mesmo gesto, em 1993, vibrando e sendo cercado pelas pessoas que invadiam a pista para saudar seu ídolo. A era Senna se encerrou de forma trágica em 1994. No domingo, outra era histórica - a de Michael Schumacher (37) - acabou. Talvez Interlagos tenha visto no mesmo dia o início de novo período de alegrias para o torcedor do Brasil. Felipe, jovem, talentoso e carismático, tem tudo para continuar vencendo. Com a aposentadoria do alemão - indubitavelmente o "rei das pistas" - chegou a vez do nosso Príncipe. A corrida do brasileiro foi irrepreensível. Felipe largou na pole position e manteve a ponta por todas as 71 voltas. "Eu tinha um carro fantástico. Acabou sendo a corrida mais fácil de minha vida. Foi um sonho que se tornou realidade", analisou ele, após a prova. Na torcida, entre as mais de 70 000 pessoas que lotaram o autódromo de Interlagos, a família e uma fã muito especial: a namorada, Raffaela Bassi (29). Nos treinos do sábado, a loira, que é herdeira da grife Guaraná Brasil, lembrava que a data era marcante para o casal: há quatro anos, Felipe lhe dava o primeiro beijo. "Eu até brinquei dizendo que queria a pole para comemorar", disse ela. Brincadeira ou não, o namorado resolveu atendê-la.Em seu primeiro ano correndo para a escuderia Ferrari, Felipe encerra o campeonato na terceira colocação, com 80 pontos. Na bagagem, tem duas vitórias - Brasil e Turquia -, três segundos lugares e dois terceiros. O piloto admitiu que vencer em sua terra natal é uma conquista inesquecível. "Este foi o dia que eu sempre esperei, que eu sempre sonhei. Sou muito iluminado", revelou. Raffaela, claro, comemorou a boa fase do amado. "Sei que a carreira do Felipe está em primeiro plano neste momento, por isso fico feliz por tudo estar dando certo para ele. Não que eu não seja importante, mas hoje a Fórmula 1 é mais importante que qualquer coisa", comentou a bela empresária, sem ciúmes ou ressentimento. Na hora da vitória, o piloto citou todos os que contribuíram para que ele chegasse ao topo. "Quero agradecer aos que me ajudaram, minha família, meu pai, minha namorada... Todos os que torceram por mim. Isso é muito importante, porque tive ajuda para estar onde estou." Ao fim, uma reverência especial aos torcedores: "O público brasileiro me transmitiu uma força muito grande. Se não fosse por eles, minha disposição para lutar seria menor." Felipe também não se esqueceu de seu companheiro de escuderia. "Michael me deu os parabéns e disse que estava feliz por mim. Com ele, aprendi a ter garra, a trabalhar com a equipe e a entender que, em alguns momentos, deve-se tirar tudo do carro e, em outros, poupá-lo", lembrou ele, que antes do pódio em Interlagos, mostrou ter garra em diversos outros desafios. O brasileiro deu início à carreira em 1990, no kart. Em 1998, sentiu o sabor de ser campeão no Brasil, pela Fórmula Chevrolet. Um ano depois, deixou sua família com saudades ao partir para a Europa para disputar a Fórmula Renault. Compensou a distância com alegria e boas notícias: no mesmo ano, tornou-se campeão italiano e europeu da categoria. O desafio seguinte foi na Fórmula 3 000. Sagrou-se campeão europeu na disputa de 2001 e, em meados deste mesmo ano, foi apresentado a um dos chefões da Sauber, sua primeira equipe na Fórmula 1. Conhecido por sua simplicidade e simpatia, Felipe conquistou os companheiros de equipe da Ferrari com a rapidez de um ás das pistas. E, ao vê-lo brilhar em Interlagos, os colegas também trataram de agradá-lo com uma bela - e ousada- surpresa. Logo que desceu de seu carro, Felipe foi celebrar com os mecânicos da Ferrari quando viu, no meio deles, Raffaela. Indo até a namorada, ele comentou, incrédulo: "Você não podia estar aqui!". Feliz, a moça respondeu: "Foi o homem da Ferrari que me colocou aqui dentro!". O beijo apaixonado que se seguiu mostrou que o Pequeno Príncipe aprovou a gentileza. Outros beijos foram dados pelo casal à noite, na festa da Ferrari, no elegante Buffet Fasano, em São Paulo. A escuderia italiana encerrou sua passagem pelo Brasil com uma homenagem ao vencedor da prova, Felipe, e ao seu mais consagrado piloto, Schumacher. O alemão não teve a chance de ouvir o hino de seu país em Interlagos. Mas pôde se despedir de sua vitoriosa carreira com uma noite animada. Famoso por ser um europeu do tipo sisudo, ele surpreendeu os convidados com tanta descontração - e por vezes teve Massa como companheiro de farra. Schumi chegou à vontade ao Fasano, vestindo camisa branca e jeans. Ao seu lado, a mulher, Corinna (37), que escolheu uma blusa estampada para a noite. Depois de brindar com a esposa, o alemão entrou na brincadeira, ensaiou passinhos de dança e até chegou a passar por debaixo de uma cordinha improvisada pelo amigos. Corinna, por sua vez, brincava com uma máscara verde. No fim da noite, o alemão era a imagem da alegria. A camisa, que chegou à festa engomada, já estava aberta. Abraçado com amigos, ele reinava absoluto ao som de um grupo de samba.