A estilista destaca a brasilidade que supera as influências nipônicas em seu DNA
Redação Publicado em 28/06/2011, às 16h47 - Atualizado em 29/06/2011, às 13h00
Uma carreira não faz muito sentido quando você não tem paixão pelo o que faz. A estilista Fernanda Yamamoto (32) conhece bem esse sentimento. Jovem tímida que cresceu em uma família tradicional de ascendência japonesa em São Paulo, até a faculdade seu futuro parecia certo... e monótono. Depois de estudar no Colégio Bandeirantes, aos 17 anos ela passou no vestibular para Administração de Empresas e começou a frequentar as aulas na Fundação Getúlio Vargas. “Mas eu era uma aluna mediana, não sentia a mesma paixão de alguns colegas”, lembra Fernanda, que era conservadora até no jeito de se vestir. Nada levava a crer que aquela garota viria a se tornar uma das mais promissoras estilistas brasileiras da atualidade. “Não tinha clareza do que queria, acho que por isso fui fazer Administração”, recorda ela. Aos 22 anos, recém formada e insatisfeita, decidiu dar novo rumo a sua vida. Nesta época, durante o dia trabalhava na confecção dos pais na área administrativa, e, à noite, fazia um curso de Moda na Faap, Fundação Armando Alvares Penteado. “Foi lá que me encontrei e descobri minha paixão”, conta. O estilista Jum Nakao (44), um dos professores de Fernanda, não esquece a impressão que a aluna lhe causou. “Eu me lembro sempre do brilho que surgiu no olhar dela durante uma das aulas em que tive a chance de ser seu professor”, diz. A jovem também fez curso de Design na Parsons, escola em NY que formou nomes como Tom Ford (49), Marc Jacobs (48) e Donna Karan (62).
Mas era apenas o começo. Fernanda ainda teve uma passagem pela área de criação de Alexandre Herchcovitch (39). “Comecei como estagiária, separando botão. Eu nem falava com o Alexandre”, lembra ela. Depois fez trabalhos com Jum Nakao, que ela aponta como “seu exemplo”, até criar sua própria marca. Em 2009 enviou projeto para o Rio Moda Hype, evento que lança estilistas. Ao ter seu trabalho escolhido, Fernanda pôde exibir suas criações em uma passarela. A grife, que leva o nome da estilista, chamou a atenção da crítica pelo estilo autoral e com ênfase na experimentação. No mesmo ano, ela abriu loja na Vila Madalena e, em 2010, estreou no São Paulo Fashion Week. Ano em que foi escolhida em um concurso com estilistas do mundo inteiro para ser a única designer não japonesa a desfilar na Semana de Moda do Japão.
– Como foi a sua experiência no Japão?
– Mandei o projeto para a Tokio Fashion Week e parte do prêmio era 20000 dólares para comprar tecidos, além da passagem. Fiquei três semanas lá. Na primeira, ocorreu o terremoto e o tsunami. O desfile foi cancelado, mas as imagens do que seria visto foram colocadas na internet. E eu trouxe de lá uma técnica de papel transformado em tecido que usei na coleção outono-inverno que mostrei no SPFW no início do ano.
– Um estilista de ascendência oriental sempre tem seu trabalho apontado como de “influência oriental”. Isso não a limita?
– De alguma forma sou influenciada por minhas origens. Sou tímida e disciplinada, o que talvez seja um traço oriental. Meu trabalho pode até ter um quê de japonês, mas nasci e cresci no Brasil. Acima de tudo, sou brasileira.
– Uma estilista tímida parece ser a exceção e não a regra. Como você lida com isso?
– Sou tímida, mas criar uma coleção e colocá-la na passarela é a maneira que encontrei de exibir um lado que acabo mostrando menos.
– A arquitetura parece ser uma influência nas suas criações. Isso tem relação com o fato de namorar há quase um ano o Rodrigo Ohtake, arquiteto e filho do Ruy Ohtake, também arquiteto?
– Sempre gostei de arquitetura, mas ao começar a namorar o Rodrigo esse interesse aumentou. As formas e materiais são uma constante preocupação para quem faz design ou arquitetura.
– Quais os próximos passos para a sua marca?
– Ainda é uma marca bastante jovem, precisamos torná-la mais conhecida do público. Vamos continuar a investir no trabalho mais autoral e também temos planos de começar a fazer criações para festa. Vestidos de madrinha e de noivas, mas algo mais cool. Uma noiva não precisa ser bolo de noiva, pode ser algo mais surpreendente.
