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Convívio fica bem mais fácil se um respeita o modo de pensar do outro

Alberto Lima Publicado em 01/06/2006, às 15h59

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Prioridades femininas diferem das masculinas. O que para a mulher é especial, talvez para o homem seja banal, da mesma forma como para o homem certas coisas são preciosas, ao passo que a mulher as avalia como pouco importantes. Em razão de experimentarem as coisas da vida de formas distintas, muitas vezes um desqualifica o outro, sem se dar conta de que, com isso, causa mágoa, desrespeita e atropela. O fator que contribui para essa falta de sensibilidade é o excesso de auto-referência, um mal que avassala corações e mentes em nossos dias, uma espécie de epidemia narcísica difícil de se dissolver. Na concretude de nossas vidas conjugais, as diferenças aparecem nas coisas pequenas, não nas grandes, mas são suficientes para minar a alegria do convívio. O correto manejo das situações pode promover a força do vínculo e preservar a matéria que o mantém vivo: a admiração pelo outro. Quando a mulher vai às compras, por exemplo, antes de preparar um jantar especial, precisa de tempo. O passeio pelo supermercado é um ato criativo, um artesanato. Há uma interação sincrônica entre o pensamento dela e o percurso que faz pelas gôndolas. Tudo isso se dá no silêncio da subjetividade feminina, sem a participação do homem. Ela vê umas castanhas e se lembra de uma sobremesa que há tempos queria fazer. Retorna, então, ao setor das frutas secas. Vislumbra servir o creme em taças e lhe vem a idéia de usar damascos para enfeitar. Um a um, os elementos do jantar vão sendo compostos, como num mosaico. A mulher experimenta grande contentamento quando antevê o clima romântico da refeição e almeja que o parceiro reconheça o quanto foi considerado na obra de arte que ela compôs. Alheio a toda essa construção mental, o marido impacienta-se e não compreende como a mulher pode complicar tanto o que lhe parece tão simples. Para ele, fazer compras é uma coisa prática, objetiva, e deveria seguir um raciocínio lógico e ágil. Ele a critica pela demora e ela fica magoada: "É um insensível. Não vê o que é importante para mim." Por outro lado, quando decide comprar um carro, o homem também precisa de tempo. Ao longo de algumas semanas, examina os jornais, visita concessionárias e conversa com amigos. Compara. Verifica as condições de pagamento. Pensa no seguro. Pondera sobre a forma mais sensata de realizar seu desejo sem causar rombos nas finanças. Confere até qual veículo será menos desvalorizado quando mais tarde for vendido. A mulher testemunha esse movimento com irritação. Acha que o companheiro complica a situação sem necessidade. "Você quer o carro, não quer? Então compre de uma vez, em vez de ficar embaçando." Sentindo-se incompreendido, ele fica chateado. "Ela não dá importância às minhas coisas e não reconhece o quanto é necessário ser ponderado." Os dois exemplos, embora um tanto estereotipados, deixam claro que tanto o homem quanto a mulher são cuidadosos, criteriosos e caprichosos no que fazem. A diferença é que esses expedientes se destinam a finalidades e objetos distintos, cada um honrando o que é prioritário para si. O homem não precisa gostar do método que a mulher emprega para fazer as compras no mercado, nem adotá-lo. Ele não precisa se transformar numa mulher para ser sensível às necessidades da parceira. Basta que compreenda que, embora escape à sua percepção, existe uma lógica que a norteia, distinta da sua, capaz de fazê-la sentir-se inteira e feliz quando realiza seus intentos. Reciprocamente, a mulher não precisa aprender a comprar veículos com os mesmos rigores do marido. Isso talvez fizesse dela um homem, coisa desnecessária para compreender o parceiro. Basta que reconheça que ele precisa agir daquele modo para sentir que é consistente. Assim, os dois ficarão mais felizes.