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A fascinante missão dos parceiros: criar uma história familiar própria

Anna Veronica Mautner Publicado em 15/03/2006, às 17h47

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Anna Veronica Mautner
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Uma das mais importantes missões que cabem ao casal, parece-me, é a de fazer uma história própria. Através dela, e nela, graças a um sentimento de pertinência, cada membro da família formará a sua identidade: pertence a uma família, a um grupo, a uma torcida, a uma comunidade, a um país. E tudo começa pelo casal gerador, por sua forma de interagir e sociabilidade. Essa herança deixaremos aos que vêm depois de nós. Todo casal faz parte da história de vida dos filhos e netos a nascer ou já presentes. Casais sem descendência, divorciados, solteiros também participam, são parte da cultura familiar. E, mesmo que não se encontrem sempre, quase todos mantêm contato esporádico em datas especiais: nascimentos, casamentos, festas religiosas e - por que não? - também em velórios e enterros. A unidade emblemática na qual ocorrem os contatos mais freqüentes e intensos é a do homem, da mulher e seus filhos. A partir do casamento começa a construção de uma nova história, que tanto pode ser feliz quanto infeliz. Algumas tradições herdadas das famílias do casal serão mantidas, adicionando-se nova cronologia e novos hábitos. E vamos sobrevivendo a nós próprios, porque podemos transmitir não só a história de nossa vida como a que herdamos. Pensamos, lembramos, contamos, ensinamos. O casal faz história ao conversar, contar casos, falar sobre o que viu, ouviu, percebeu. Quem não comunica deixa pouca herança, faz pouca história. Quero chamar a atenção para a singeleza das ocorrências e hábitos com os quais a história familiar é constituída. À primeira vista, parece que será lembrado o inesperado. Se o peru de Natal queimar e tiver aquele gostinho de fumaça, será lembrado e fará parte do anedotário da família. O sumiço do gatinho de estimação pode desorganizar o dia-a-dia. Mas o fazer história não se constitui só de surpresas e sim, e muito em especial, das constâncias, pouco explicitadas, defendidas com fervor quando sob ameaça: um grito da parte de quem nunca grita, uma briga entre quem nunca briga. Cada casal estabelece e se apega aos rituais que criou pela repetição e o aperfeiçoamento da vida em conjunto. Nos rituais de mesa e comida, em geral manda dona de casa, mãe, esposa ou matriarca. Em outros hábitos, a participação do homem e da mulher pode se equivaler. O capítulo do dinheiro da família é um ponto sensível, mas cada casal tem a sua forma de lidar com os gastos necessários e a poupança. Como nem só de pão vive uma família, faz parte também a leitura de certo jornal, a compra de livros, o planejamento do lazer, o jeito de guardar e armazenar, a fidelidade ou infidelidade à marca de eletroeletrônicos. Muitas vezes deixamos entrar em nossa vida um objeto novo que nos obriga a rever o já estabelecido. O controle remoto é um exemplo muito rico. Tê-lo na mãoé poder. Outras novidades eletrônicas entraram em cheio na rotina de todos nós, como o computador e a Internet. Sua assimilaçãoé um novo capítulo da história da família. Ainda bem que nossos rituais cotidianos nos protegem e não é porque inventaram microondas que vamos parar de querer mingau. O casal vai incorporando, e em cada experiência de constância ou mudança, novos capítulos serão lembrados. Cada família tem o seu jeito e rituais que mudam raramente. Uma é lembrada pelo silêncio, outra por festejar os aniversários de véspera; tem família autoritária, e aquela em que tudoé negociado. São suas marcas registradas. Pensem nisso, ao conduzir a sua vida diária. Valorizem os momentos em comum, os rituais, a graça da convivência. Somos nosso cotidiano, nosso jeito de lidar com o novo e o estranho. Aprendemos a evitar, a assimilar e a nos recriar - herança que nossos pais deixaram, que nós deixaremos, a marca registrada formadora da identidade. A fascinante missão dos parceiro