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Revista / CARREIRA

Andrea Bocelli abre o coração em retorno ao Brasil: 'Música é um instrumento de paz'

Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Andrea Bocelli reflete sobre arte, fé e solidariedade

por Tamara Gaspar

tgaspar@caras.com.br

Publicado em 12/04/2024, às 11h00

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Com a caçula, Virginia, a amada, Verônica Berti, e o pet, Bocelli exalta seus 30 anos de carreira - FOTOS: LUCA ROSSETTI, MASSIMO SESTINI, STEFANO MARINARI E GETTY IMAGES
Com a caçula, Virginia, a amada, Verônica Berti, e o pet, Bocelli exalta seus 30 anos de carreira - FOTOS: LUCA ROSSETTI, MASSIMO SESTINI, STEFANO MARINARI E GETTY IMAGES

Dono de uma das vozes mais potentes do mundo, Andrea Bocelli (65) está em festa! Celebrando 30 anos de carreira, o tenor tem escrito uma trajetória singular nos palcos e democratizou a música clássica ao aproximá-la do universo pop. “Espero ter dado minha modesta contribuição para a causa. Como digo, a ópera não é, por si só, um espetáculo elitista; pelo contrário, é feita de histórias apaixonantes, sentimentos universais, temas sociais urgentes e música maravilhosa”, diz ele, em contagem regressiva para aterrissar no Brasil com a turnê comemorativa pelas suas três décadas de jornada musical, com shows em Belo Horizonte, Brasília e SP.

O Brasil é um dos poucos países onde realmente não sinto a distância de casa”, afirma ele, durante entrevista exclusiva para CARAS. Casado com Verônica Berti (40), com quem tem Virginia (12), e ainda pai de Amos (29) e Matteo (26), de relação anterior, o artista não esconde a gratidão diante das conquistas: são três Grammys, cinco BRIT Awards e mais de 70 milhões de cópias vendidas de seus ábuns “Estou em dívida com a vida. Recebi muito, tanto profissionalmente, quanto afetivamente, mais do que fui capaz, até hoje, de retribuir”, fala ele, cuja voz também ecoa solidariedade. Em 2011, o tenor criou a Andrea Bocelli Fundation, entidade que capacidade pessoas em situações de vulnerabilidade.

– Como você descreveria o público e os fãs brasileiros?

– É uma relação sólida. E não é apenas devido à presença de uma comunidade italiana numerosa e acolhedora... É uma empatia que percebi desde jovem, primeiro na produção artística desse grande país e, depois, quando tive a oportunidade e a honra de verificar pessoalmente. Com os fãs brasileiros, tenho um canal privilegiado, em nível emocional. Sinto a força da amizade e benevolência. Logo, estou entusiasmado por poder voltar e cumprimentar um público que tem sido sempre muito generoso comigo. Além disso, a turnê coincide com meus trinta anos de carreira: mais um motivo para dar o meu melhor no palco. Será um momento inesquecível para mim. E eu espero, sinceramente, que também seja para aqueles que quiserem compartilhar essa experiência, sempre em busca do belo e da luz de um sorriso.

– Qual é a maior lição que você aprendeu com a música?

– A música é uma linguagem universal e, de certa forma, misteriosa, à qual dediquei toda minha existência. É um dom divino, a serviço de promover o espírito. A música sempre foi minha terapia. A música nos ajuda a ouvir a voz da consciência, tornando-nos melhores, educando-nos para o bem. Ela pode arar nossas almas e torná-las fecundas, pode abrir nossos corações e mentes, acendendo em nós um desejo sensual ou contemplativo. Além disso, a boa música é um poderoso instrumento de paz. E, nesse sentido, espero que minha voz seja compreendida.

– Muitas pessoas entraram em contato com a música clássica através da sua voz. Ao longo destes anos, acha que aproximou o grande público deste gênero?

– Espero ter dado minha modesta contribuição para a causa. Como sempre digo, a ópera não é, por si só, um espetáculo elitista; pelo contrário, é feita de histórias apaixonantes, sentimentos universais, temas sociais urgentes e música maravilhosa. Não é por acaso que eu aprendi a amar o melodrama quando criança, na zona rural da Toscana, onde eu nasci e cresci, sem a necessidade de grandes recursos culturais. E, desde então, isso permaneceu no meu coração por toda a vida. Como italiano, tenho orgulho de que a ópera seja um gênero que teve origem em meu país, há mais de quatro séculos, e considero uma delicada responsabilidade – além de um privilégio – divulgar no mundo as obras-primas criadas por gênios compatriotas como Verdi, Puccini, Mascagni, Donizetti e tantos outros.

– Sempre foi um homem de fé. Qual a importância dela em sua jornada profissional e pessoal?

– Sem ela, a existência seria uma tragédia anunciada: a fé é minha maior aposta, é um presente valioso que cultivo diariamente. Aqueles que a possuem, melhoram suas vidas e o mundo. Porque a fé é humildade, é disposição para o milagre, é o impulso em direção ao céu que está acima de nós e ao que está dentro de nós, o que eu poderia resumir como “alma”. Na minha experiência como artista, a fé desempenha um papel fundamental: como crente, com fé, coloco meu talento – do qual não tenho mérito algum – à disposição, para que Deus faça de mim o que Ele considerar mais adequado. A voz é um presente que recebi e é meu dever compartilhar com aqueles que desejam ouvi-la. É por isso que, após trinta anos, ainda tenho alegria e força interior para percorrer o mundo cantando.

– A Andrea Bocelli Foundation ajuda milhares de pessoas ao redor do mundo. É uma forma de agradecimento por todo carinho que recebeu ao longo dos anos?

– É, antes de tudo, a alegria em partilhar. Não se trata de bondade ou generosidade, mas simplesmente de um gesto que, em minha opinião, todos deveríamos considerar necessário: um ato de inteligência, porque a vida é como um banquete em que todos podem se sentir bem, se houver comida para todos... Caso contrário, a festa fracassa. Estou em dívida com a vida, recebi muito, tanto profissionalmente quanto afetivamente, mais do que fui capaz, até hoje, de retribuir. O que posso fazer diariamente é levantar as mãos para o céu e agradecer; e pedir ajuda; e sussurrar: “Seja feita a tua vontade”. A Fundação Andrea Bocelli é um sonho que se tornou realidade, graças à ajuda e à generosidade de muitas pessoas. Procuramos dar nossa contribuição para deixar um mundo melhor para as próximas gerações que virão depois de nós: é uma grande família estendida que avança no mundo, com projetos voltados às pessoas e às comunidades – especialmente aos jovens –, oportunidades para expressar ao máximo seus talentos.

– Após tantas conquistas, qual é o seu grande sonho?

– Repito, estou em dívida com a vida e não me atrevo a cultivar sonhos para mim. Para nossos filhos, para as gerações futuras, no entanto, sonho com um mundo no qual o bem vença o mal, no qual o homem seja capaz – através dos avanços da medicina – de vencer a dor, onde possamos acolher e celebrar em serenidade esse extraordinário presente que é “viver”. Claro, como artista, aspiro a continuar cantando, enquanto Deus permitir, e, como pai, gostaria de poder segurar os filhos dos meus filhos um dia. Mas o meu maior desejo é viver em um mundo finalmente sem guerras, porque – seja entre duas pessoas, dois estados, dois blocos de estados ou duas culturas – estão sempre e de qualquer maneira erradas: todo conflito é fruto de vaidade e orgulho, um acidente intelectual. Todos devemos nos esforçar para acolher e celebrar em tranquilidade essa dádiva, essa experiência privilegiada, esse “teste” que é a vida.

FOTOS: LUCA ROSSETTI, MASSIMO SESTINI, STEFANO MARINARI E GETTY IMAGES