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Aline Zattar ensina a ter amor-próprio

Top plus size descreve sua longa jornada para descobrir a autoestima

Bianca Portugal Publicado em 14/08/2020, às 11h00 - Atualizado às 11h32

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Vaidosa assumida pela profissão e por prazer, Aline mantém o bronzeado na piscina - Paulo Santos
Vaidosa assumida pela profissão e por prazer, Aline mantém o bronzeado na piscina - Paulo Santos

A infância não foi fácil. Ainda aos 6 anos, a modelo plus size e Miss Brasil Plus Size 2013 Aline Zattar (35) começou a frequentar endocrinologistas, psicólogos ou qualquer tipo de profissional que pudesse ajudá-la a se enquadrar nos padrões estéticos. “Desde muito cedo ouvia ‘seu rosto é tão lindo, você só precisa emagrecer para ser perfeita’. Passei minha vida toda tentando me encaixar em um padrão estético porque as pessoas diziam que era o certo. E eu acreditava que só poderia viver quando atingisse esse padrão. Aí, sim, iria ser feliz.” Somente aos 27 anos, Aline começou o que ela define como um “processo de desconstrução do seu corpo”. Foi com essa idade, já formada em direito, quando as agências no Brasil começaram a investir em modelos plus size, que ela descobriu que é bonita e começou a ter prazer em se olhar no espelho. A nova profissão surgiu após insistência de amigas que já viam sua beleza, mas logo tornou-se mais do que pose para fotos. Como modelo, Aline desenvolveu um sentimento que até então desconhecia: a autoestima.

– Quem mais fazia bullying, os meninos ou as meninas?

– Sofri muito em relação ao meu corpo. Sempre sofri bullying na escola e até mesmo de parentes. Se eu chegasse a um lugar, logo ouvia “Aline está mais gorda”, “faz uma dieta nova” etc. Na escola, eram muito mais os meninos. Fingia que era segura, ia atrás deles, dava tapas, mas no fundo eu sofria bastante e ia pra casa chorando. Foi bem difícil. Hoje em dia, eu trataria diferente, claro! Até porque, que fique claro que gorda não é palavrão, é uma característica nossa. E não tem problema ser chamada de gorda. 

– Ser chamada assim não te ofende de nenhuma forma?

– Eu sou gorda. Assim como as pessoas são altas, baixas e por aí vai. É uma característica. O problema é quando usam de forma ofensiva. O que não aceito são ofensas.

– Tomou remédios para emagrecer, fez dietas milagrosas ou cogitou fazer cirurgia bariátrica?

– Tomei todos os remédios imagináveis para emagrecer. Desde anfetaminas até tarja preta e “fórmulas milagrosas”. Os próprios médicos davam porque, afinal, eu era doente. Isso aconteceu por muito tempo na minha vida. Também fiz várias dietas milagrosas e depois engordava no efeito sanfona eterno. E pensei em fazer bariátrica depois da gravidez do meu filho, mas optei por não fazer porque estava com depressão pós-parto bem forte. Cheguei a fazer todos os exames, mas desisti. E hoje não é uma opção pra mim.

– Você teve depressão somente após a gravidez?

– Tive depressão por muito tempo em minha vida. Muito tempo mesmo! Sempre fui um pouco depressiva por não conseguir conquistar as coisas que queriam que eu conquistasse. Esse sentimento de frustração me acompanhou por muito tempo. Fiz e faço terapia até hoje.

– Você teve namorados na adolescência, foi namoradeira?

– Alguns, sempre escondido. Eles não queriam aparecer comigo, tinham vergonha e eu achava que era melhor assim do que nada. Achava que não era merecedora de ter um namorado porque era gorda. Hoje, não passaria por isso.

– Como surgiu a nova carreira como modelo em sua vida?

– Surgiu por insistência das minhas amigas. Elas sempre me apoiaram e me estimularam muito. Isso foi há oito anos. Antes de ir a uma agência a primeira vez, fiquei pensando muito se eu deveria, se ia passar vergonha, se iam rir de mim, mas tomei coragem e comecei a fazer as primeiras fotos. Logo me apaixonei pela profissão e pelo que estava vivendo ali, conhecendo meu corpo, minhas possibilidades e entendendo que eu podia ser muito mais do que eu pensava que poderia.

– Você é Miss Brasil Plus Size 2013. Uma grande conquista, mas ainda sofre preconceito?

– O título foi mais um clique para eu me enxergar de outra forma. Trouxe muito mais representatividade em minha vida para iniciar um processo de mudança do que extinguiu preconceitos. Valeu mais como um processo interno, mas era exatamente o que eu precisava começar em minha vida naquele momento.

– O que falaria para as meninas que hoje passam o que passou?

– Além da gordofobia, tem a pressão estética que atinge todos os tipos de corpo. Então, o principal é lidarmos melhor com a imagem que temos de nós mesmas para que possamos desconstruir o que fizeram com que acreditássemos por muito tempo. Não é uma jornada fácil, mas é muito recompensadora. O caminho é mais leve quando aprendemos que as únicas pessoas que precisamos agradar somos a nós mesmas.