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Estilo de Vida / MARCOS DE ANDRADE

Ator de Cidade Invisível abre mão das redes sociais e justifica decisão: 'Muito prejudicial'

Como Danilo em Cidade Invisível, Marcos de Andrade ainda lamenta atualidade da série

por Mariana Arrudas

marrudas_colab@caras.com.br

Publicado em 03/03/2023, às 13h40

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O ator Marcos de Andrade; sem redes sociais, artista espera estreia da 2ª temporada de Cidade Invisível - Foto: Divulgação/Caio Olviedo
O ator Marcos de Andrade; sem redes sociais, artista espera estreia da 2ª temporada de Cidade Invisível - Foto: Divulgação/Caio Olviedo

"A série chega tragicamente atual". É assim que o ator Marcos de Andrade classifica o lançamento da segunda temporada de Cidade Invisível, que levanta o debate sobre a exploração garimpeira nas terras indígenas brasileiras. Agora, há dias da estreia, ele prepara novos espetáculos para o teatro e explica a decisão de se manter fora das redes sociais: "É muito prejudicial para a arte e os artistas".

"Nunca tive vontade [de ter redes sociais]. Não tenho nada contra especificamente, mas acho que chegou em um nível que nenhuma discussão ou opinião importa mais", justifica ele, em conversa com a CARAS Brasil. Para o ator, a cultura das mídias digitais ensina a acreditar que não existem defeitos ou imperfeições, e que todos são passíveis de julgamento.

Andrade acompanha as redes, e diz estar ciente do que acontece na internet, mas assegura que precisa se manter distante, justamente por entender suas imperfeições e não querer expor uma imagem mascarada. "Querer o tempo todo falar sobre tudo, opinar sobre tudo. É preciso silêncio, é preciso respirar e observar de fora. Ninguém é tão puro quanto a nossa consciência ingênua quer."

Fora do mundo da internet, o ator lamenta que a temática abordada pelo trabalho continue para além da ficção, com as explorações na Reserva Indígena Yanomami. A temporada, que chega ao catálogo da Netflix em 22 de março, foi finalizada em junho do ano passado, e para ele, foi um desafio mergulhar nos estudos para a sequência e fazer um personagem com o qual não se identifica em nenhum grau.

Na trama, ele vive Danilo, um violento chefe de garimpo do núcleo da família Castro. "É uma dessas famílias que se considera uma casta, a típica formação da elite brasileira. Para eles é um desperdício pensar que tem ouro debaixo de uma terra", explica o artista, sobre os novos episódios.

Andrade conta ter assistido cerca de 10 horas de materiais sobre a atividade garimpeira, e que estudou desde as máquinas utilizadas para a extração do ouro até entrevistas de pessoas afetadas pela exploração do solo. "Quando eu cheguei lá, eu já sabia como funcionava cada máquina. É fascinante, mas teve seu peso também."

O ator diz que poder levantar a bandeira e mostrar o cenário aos fãs e espectadores da série carrega a essência do audiovisual brasileiro, que é representar grupos e contar histórias, até nos textos menos políticos. "Obviamente não me identifico em nenhum grau com esse personagem violento, truculento e assassino. Mas, qualquer ato de atuação conversa sobre o momento em que a gente vive."

Para o futuro, o artista diz já ter uma nova série engatilhada para a Netflix, mas não dá muitos detalhes do projeto. Além disso, ele conta que prepara dois espetáculos teatrais com o seu grupo, Máli Teatro, para o segundo semestre de 2023. "A primeira é baseada em uma adaptação na tragédia grega Electra, um texto com mais de 2.500 anos e espetacularmente atual. Na segunda, eu volto a atuar com uma adaptação do Homem do Subsolo, de Dostoiévski, que é o autor que eu mais li na minha vida."

Abaixo, Marcos de Andrade fala sobre o início da carreira no teatro, os desafios de migrar entre diversos formatos de trabalho, e a entrada em universos diferentes como o mundo dos detetives, que deve virar um novo filme. Confira a seguir trechos editados da conversa.


Como você começou a carreira de ator?
Comecei a fazer teatro com 12 anos, em Santa Catarina, Joinville. Quando eu e a minha mãe nos mudamos para Minas Gerais, fiquei sem fazer, mas nunca vislumbrei outra possibilidade a não ser fazer faculdade de artes cênicas, e foi o que eu fiz, me formei na UNICAMP. Um ano depois de sair da universidade, ingressei no Centro de Pesquisa Teatral, que era coordenado pelo Antunes Filho (1929-2019). Foi um lugar que eu tive realmente minha formação espiritual, técnica, artística… Trabalhei 13 anos lá, e metade da minha carreira foi dedicada ao CPT e ao teatro, fiz cerca de oito peças. Esse foi um período que não queria fazer mais nada na vida, só estar lá. Não fui atrás do audiovisual e freei os contatos que tiveram. Faz cerca de sete anos que ingressei de verdade no audiovisual.

No audiovisual você migrou entre diversas temáticas em seus trabalhos, como Aruanas e Onde Nascem Os Fortes. Em um dos mais recentes, Vale dos Esquecidos, você trabalhou com o gênero terror, que não é muito explorado em produções nacionais. Como foi fazer?
Foi uma entrada em um universo que eu não tinha intimidade, não sou muito fã de filme de terror, por exemplo. O que eu fiz foi ler a literatura de terror, ler é algo que eu adoro, e foi incrível. Esse universo fabular é uma versão do mundo em forma de pesadelo, e ler me ajudou a compreender o cinema de terror. Vale muito a pena, é um gênero fantástico e parte da prerrogativa que as regras são outras. Em Vale dos Esquecidos, meu personagem não morria, ele devia ter quase 200 anos.

Como é a experiência de migrar entre diversos formatos? Você já fez cinema, teatro, séries para streaming…
Tudo é igual e diferente. O cinema tem uma concentração, em geral você filma um mês e desaparece do mundo. A série se estende no tempo e então dá para voltar à vida e ir gravar de novo. Não faço mais teatro contratado, faço os meus projetos, para mim é mais visceral, é mais meu.

Você tem novos projetos que possa compartilhar?
Tenho um projeto de cinema baseado na vida dos detetives daqui de São Paulo, entrevistamos muitos detetives da velha guarda, muitos jovens que querem ser detetives e fizemos um curso de detetive aqui no centro da cidade. É um universo completamente paralelo, com as figuras mais inacreditáveis.