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Quem traiu e foi perdoado deve acolher questões de quem perdoou

Célia Horta Publicado em 02/09/2008, às 15h26

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Célia Horta
Célia Horta
O infiel que foi perdoado em geral deseja passar uma borracha na história da traição. Conclui que, como lhe foi dada uma segunda chance, não há motivo para voltarem a um assunto que já causou dor. Mas quem perdoou pode ter a necessidade de voltar ao ocorrido. Ele se lembra de um detalhe que não questionou, se incomoda com uma cena de novela ou deseja uma renovação da promessa de que a infidelidade não se repetirá. Logo após o perdão, o infiel sente-se aliviado, reconhece a tristeza e o esforço do outro, e costuma expressar verbalmente ou com outras ações a sua gratidão. Quem perdoou nota: "Ele (ou ela) estava tão distante até eu descobrir sua traição... Mas agora está mais carinhoso (ou carinhosa) e a relação melhorou". Isso ocorre porque, ao ser flagrado, o traidor que não quer separar-se sente-se na iminência de perder tudo que envolve uma separação. Assim, une suas energias em busca da absolvição. Para isso, assume uma postura de quem está arrependido: manda flores, volta cedo para casa, surpreende o parceiro com um carinho. Também no sexo, preocupa-se mais com o prazer do outro. Dispensa tratamento especial a quem teve maturidade para tolerar seus deslizes. A desatenção anterior se transforma em delicadeza que lembra o início da relação; é o cortejo que visa à reconquista do parceiro. Mas, com o tempo, a mesma pessoa grata pelo perdão pode se irritar quando o assunto volta à baila. Tem a convicção de que o silêncio devolverá o sossego à união. Já o traído sabe que falar pode gerar briga, porém não suporta silenciar, sobretudo quando vê que o outro age como se nada tivesse ocorrido. É aí que o discurso do traidor muda. Seus esforços e sua condescendência recentes se transformam em queixas: "Mas você já não me perdoou? Essa conversa de novo!" Tal atitude costuma agravar a situação e o malentendido deve ser desfeito. Quem foi traído não consegue perdoar de uma hora para outra. Alguns conversam exaustivamente e verbalizam o perdão; outros falam o mínimo necessário; e há os que apenas silenciam, mas sinalizam com o perdão. De todo modo, não é possível apagar da mente a traição. E a experiência, embora dura, poderá servir para reestruturar o vínculo. É natural que alguém, eventualmente, desconfie do parceiro. Isso ocorre em qualquer relação. Pequenas desconfianças não devem ser rejeitadas, já que falar sobre elas também é uma forma de confiar. O infiel não pode esbravejar ou fugir do assunto. Nem se comportar como criança que fez arte e teme levar bronca. Até a postura corporal do infiel influi: a aproximação física, o toque seguro, o olhono- olho compõem um clima de asseguramento. Mas isso é só um desdobramento do essencial: a disponibilidade interna para enfrentar com dignidade a situação. O traidor pode iniciar o assunto: "Você está bem? Tem se perturbado com o que ocorreu?" E deve se dispor a conversar sempre que necessário. Perdão não é um contrato verbal que sela um período de conflito e dor. Envolve um processo no qual surgem sentimentos ambíguos em quem foi enganado, momentos de aceitação e de rejeição da nova etapa. Mas, com o tempo, se a necessidade de falar sobre a traição não diminui, se não há avanço na superação da crise e a tristeza não diminui, é recomendável que a pessoa traída ou mesmo o casal busque a ajuda de um profissional.