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Por volta de 180 bebês prematuros ficam cegos anualmente no Brasil

Nilva Simeren Bueno de Moraes Publicado em 06/09/2006, às 20h36 - Atualizado em 26/08/2012, às 23h31

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Nilva Simeren Bueno de Moraes
Nilva Simeren Bueno de Moraes
O Instituto da Visão, da Universidade Federal de São Paulo, realizou recentemente campanha de alerta sobre os riscos da retinopatia da prematuridade. Trata-se de uma doença grave que pode formar-se na retina dos bebês prematuros. Infelizmente, embora tenha sido descrita em 1942, seja conhecida nos Estados Unidos desde a década de 1950 e aqui tenha ganho maior importância nos anos 1980, ela tem sido pouco divulgada até no Estado. Quando não é tratada no início do segundo mês de vida da criança, pode levar à cegueira. A retina é um tecido mais ou menos esférico que se localiza no fundo do olho. Tem a forma de uma concha. É frágil e mole como o papel celofane. Todas as imagens captadas pelos olhos são projetadas nela, de onde são levadas pelo nervo ótico ao cérebro para serem identificadas. Tudo no olho pode ser trocado, menos a retina. Já prematura é a criança que nasce antes de completar 40 semanas de gestação. O número de nascimentos de prematuros é crescente em função das gravidezes múltiplas resultantes dos tratamentos de infertilidade. Felizmente, nem todo prematuro desenvolve retinopatia; só 30% daqueles que nascem de até 32 semanas e com peso igual ou inferior a 1 500 gramas. Nascem todo ano cerca de 1 mil crianças nessa situação em São Paulo e por volta de 6 mil em todo o país. De outro lado, 82% das crianças que nascem de gestações inferiores a 27 semanas podem desenvolver a retinopatia da prematuridade. O fator de risco mais importante é o tempo que o bebê recebe oxigênio artificialmente para sobreviver. Aqueles que nascem de umagestação de 32 semanas, pesando 1 500 g ficam 40 dias com respiração artificial, por exemplo, têm maior risco de apresentar retinopatia do que outros nas mesmas condições que recebem oxigênio por 20 dias. A explicação é a seguinte. Crianças que nascem de gestações normais, isto é, de 40 semanas, já têm os vasos sanguíneos da retina inteiramente formados. Nas que nascem prematuras uma porção final deles ainda não se formou. Recebem oxigênio artificialmente para sobreviver. O gás provoca contrações nas porções de vasos formadas no útero da mãe e, assim, a irrigação sanguínea e a oxigenação dos tecidos ficam insuficientes. As partes finais dos vasos formam-se só com duas camadas de tecido - o que é chamado de neovaso -, quando deveriam ter três. Fragilizados, muitos se rompem e provocam hemorragia. O fenômeno causa o descolamento da retina e,portanto, cegueira em 10% dos casos de retinopatia. O mais grave é que tudo ocorre em três meses e não apresenta sintoma. A única indicação é que, quando a retina se descola e "cai", a pupila da criança fica esbranquiçada. Mas, infelizmente, já é tarde. Grande parte do país, em especial fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, praticamente desconhece o problema. Os pais e os pediatras precisam, pois, ficar atentos e, caso a criança nasça de até 32 semanas de gestação e com peso igual ou inferior a 1 500 gramas, um mês depois pedir a presença de um oftalmologista. Ele dilata a pupila da criança com o uso de colírios de tropicamide e analisa os vasos de sua retina. Verá uma espécie de linha branca de células normais como que empilhadas pela interrupção da formação dos vasos a partir do nascimento do bebê. Sobre ela haverá pontos vermelhos indicativos do surgimento dos vasos defeituosos (neovasos). O médico cauteriza ("queima") com raios laser a área da retina localizada além da linha divisória branca. Evita, desse modo, a formação dos neovasos perigosos e cria uma "meia retina", que funciona muito bem. O paciente fica apenas com um campo de visão menor. Terá, também, maior possibilidade de desenvolver miopia e estrabismo nos primeiros cinco anos de vida. Nos três primeiros meses precisará ser avaliado quinzenalmente pelo oftalmologista. Depois, uma vez por ano até os cinco anos. Então, o risco acaba e a criança recebe alta.