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A delicada situação daquele que critica pessoas da família do outro

Alberto Lima Publicado em 30/01/2006, às 15h33

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"Eu posso falar mal de meus pais. Você, não." A frase expressa a vivência de quem se melindra se o parceiro ou a parceira faz críticas à família. Isso não ocorre quando criticamos nossos parentes, porque os vemos com relativa exterioridade e grande intimidade. Assim, um filho ou filha desaprovar os pais jamais seria leviano e não restringiria o amor que sentem. Já se o marido ou a mulher manifestam restrições, teme-se o contrário. Considerando-se que os sogros não são pai e mãe de quem critica, tudo fica mais difícil, pois o amor que deveria envolver a crítica não é garantido. Paralelamente, o parceiro ou a parceira que são filhos receiam que a restrição represente desafeto, ou algo impensado, coisas injustas difíceis de tolerar. E esse relativo distanciamento afetivo, que lhes permite enxergar coisas penosas para o filho ou a filha, talvez desperte neles as críticas que também tinham, mas reprimiam. "Não venha mexer com o conflito que tenho com minha mãe; está sob controle, mas qualquer novidade pode ser o gatilho para dificuldades, que me recuso a enfrentar", é o que a pessoa sente, sem dizer. Ou seja, o amor filial teme sofrer um abalo perante a crítica. Além disso, a restrição destinada à mãe é sentida como um ataque ofensivo a uma parte de si, que a mãe real simboliza. "Se você vê algo desabonador em minha mãe, isso indica que vê algo de errado comigo. É a mãe em mim quem recebe a sua crítica", sentem, sem exteriorizá-lo, tanto homem quanto mulher. Esse foco de conflitos em parcerias conjugais aplica-se também a outras uniões afetivas que compõem a história de uma pessoa - os irmãos, os filhos, o marido, talvez amigos. Fale mal do filho de alguém e verá como lhe atinge o coração. É o mesmo que estabanadamente entrar numa loja de cristais, inconsciente do caráter precioso daquele afeto. Nessas horas, é bobagem afirmar que você tem razão em apontar um defeito, mera observação objetiva; quem a ouve sente-a como pisão no tapete branco de um templo sagrado. Eis, justamente aqui, a questão. Pessoas sentidas como minhas, por muito tempo e por numerosos motivos, são sagradas e cultuadas como tais. "Mas você faz críticas. Por que eu não as posso fazer?" "Por uma questão de zelo: algo divino em mim cuida de algo divino fora e dentro de mim. Eu sei o que faço. Quando você se mete a falar de quem amo, trata uma jóia preciosa como bijuteria barata.". Estamos diante de algo de difícil manejo. Integra a aprendizagem, na união amorosa, a descoberta do que é sagrado ao outro, e desenvolver uma atitude de respeito. Não é preciso adotar como sagrado o que lhe parece profano, como numa conversão religiosa. Basta reconhecer que há na vida do outro uma dimensão a respeitar, assim como você requer consideração pelo que lhe é especial. Mas respeito não é sinônimo de camisa-de-força. Não sacrifique sua espontaneidade, sob pena de mutilar-se. Transmita que econhece o caráter sagrado da pessoa. Com isso, será ouvido em sua eventual restrição. De outro lado, faz parte da evolução existencial o processo de dessacralização de figuras parentais, ou de outros vínculos significativos. Críticas, queixas e restrições, próprias ou alheias, contribuem para o processo. Uma das metas do desenvolvimento emocional é a correta leitura da realidade, sobretudo a humana: amável, adorável, falha, gratificadora, frustradora e, pois, inteira. O intento de preservação do sagrado em vínculos humanos pode resultar na glorificação de coisas banais, mas também pode eternizar uma grande e mentirosa ilusão.