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Não deixe a euforia de fim de ano precipitar suas decisões amorosas

Por <b>Paulo Sternic</b>* Publicado em 30/12/2009, às 21h30 - Atualizado às 22h08

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Paulo Sternick
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Esta época de fim de ano é bonita e festiva, mas nem todo mundo gosta dela. Alguns odeiam o Natal e adoram o réveillon, outros vibram com Papai Noel e se escondem na virada do ano e há também os que não toleram nenhuma das duas festividades. A verdade é que ninguém fica indiferente com a proximidade dos últimos dias de dezembro. Por mais que se tenha consciência crítica sobre as histerias coletivas, o clima de mudança, de recomeço, invade os poros, avança pelo corpo e atinge a alma, onde tece inesperadas armadilhas. Uma delas é a de que não se pode enfrentar o fim do ano sem resolver impasses, em especial os amorosos. O momento induz a decisões que podem ser precipitadas. Muitas vezes são decisões que vêm sendo adiadas e que não queremos levar para o novo ano. Não seria melhor limpar a área, pensamos, renascer no novo ano sem pendências, com a alma leve? A sensação que temos é a de que, se não decidirmos agora, a questão se arrastará indefinidamente. Existe uma dimensão promissora nessa situação: o clima de final de ano muitas vezes serve mesmo como parteiro de decisões que iriam ser tomadas e estavam só aguardando um empurrão. Mas é preciso saber diferenciar a atitude consciente daquela tomada pela pressão da época. Nada mais absurdo do que essas prestações de contas que as pessoas acham que precisam fazer na virada do ano. O superego, instância mental severa, que julga de forma implacável tudo o que fazemos, parece exercer nesta época a sua crueldade máxima. Toda relação sofre impasses e tropeços, provocando aqui e ali dúvidas e desânimos. Mas é verdade também que passadas essas fases muitos parceiros reencontram as fontes do seu amor e os valores que os uniram, o que os leva a superar as dificuldades. Além disso, muitos tomam consciência de que há uma parte que não tem jeito, nem nunca terá: a falta que jamais será preenchida e com a qual é necessário se conformar - até a próxima crise! Afinal, toda relação viva é necessariamente instável, algumas mais, outras menos. Não há como ser diferente, uma vez que falamos da interação de duas pessoas irremediavelmente imperfeitas, dinâmicas, que nem sempre concordam (exceto se um ou outro é subjugado). O amor requer renúncia e espírito de tolerância e negociação - do contrário, os pombinhos vão para o brejo da solidão, ou para a sarjeta dos amores líquidos, de alta rotatividade. O fato é que quando dezembro vai se encerrando, embora imaginemos Cristo (século I) lá no céu, orgulhoso de ver a maioria do planeta em festa pela passagem da data de seu nascimento e de mais um ano de sua era, paradoxalmente, aqui na Terra, sentimentos depressivos despontam com mais intensidade do que em qualquer outro momento. Parece que há uma exigência de felicidade e êxito no ar. E, ao vermos o mundo como algo inteiro e coerente, nos sentimos regredidos mentalmente. Os casais em crise olham em volta e imaginam que todos estão unidos e se divertindo de forma ideal, enquanto eles se sentem excluídos e não merecedores da satisfação global. Tal fantasia depressiva pode provocar uma visão pessimista, levando ao término da relação logo no momento em que o melhor seria estar próximo dos vínculos existentes. Pense bem, portanto, antes de entrar na recorrente onda das decisões de final de ano. * Paulo Sternick é psicanalista no Rio de Janeiro (Leblon, Barra e Teresópolis). E-mail: psternick@rjnet.com.br