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Revista / Entrevista

Késia, de Elas Por Elas: ‘Sou o sonho dos meus ancestrais'

No ar em Elas Por Elas, a atriz Késia narra desafios dentro e fora da telinha: ‘É mais um divisor de águas na minha vida'

Késia em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: SELMY YASSUDA
Késia em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: SELMY YASSUDA

Serva da música, é assim que Késia (39) gosta de se descrever. Prova disso é que em seu único dia de folga das gravações da novela global das 6, Elas por Elas, a cantora e atriz, depois de papo com CARAS na Fundição Progresso, no Rio, partiu para o estúdio para registrar suas novas canções. A vida tem sido corrida desde a estreia no folhetim, no qual vive uma das protagonistas, mas ela não poderia estar mais feliz. Realizada, a artista que começou cantando na igreja, chamou a atenção do Brasil no reality The Voice e brilhou em musicais e filmes, agora experimenta o sabor da vitória. Sem deslumbre, a escorpiana reflete sobre conquistas e representatividade.

– Como foi a estreia como protagonista. Já caiu a ficha?
– Não sei se ela vai cair de uma maneira que vou ter um impacto grande ou se, de alguma forma, estou tentando colocar no meu coração! Não sei se a palavra é normalizar, mas entender que a gente merece estar nos lugares que a gente deseja ou nos lugares grandes, que a gente acha que são especiais, e recebê-los com carinho, saber celebrar cada passo. Mas, também, entender que se a gente está ali é porque é o nosso destino. Então, não sei se a ficha vai cair de um jeito que vou entrar numa catarse. Tive os momentos de choro, de crise de riso, de alegria sozinha em casa. Essa ficha vai caindo devagar e acho que é mais por tentar normalizar, porque pessoas pretas, principalmente, têm pouca intimidade com felicidade, com afeto, com a ocupação dos melhores espaços, com as vitórias, isso é estrutural. A gente acaba se boicotando e não acredita que é nosso. Pode ser um mix dos dois, mas estou feliz, trabalhando muito e quero trabalhar mais.

– Esses choro é de quê?
– Alegria, né? Porque é muito gostoso o sabor da vitória, da vitória de uma batalha, do resultado do estudo. Você lembra do tempo que acordava de madrugada. Não que não acorde de madrugada mais, mas pegava três, quatro ônibus, o metrô, a marmita. É um corre que valeu muito a pena. Não me
arrependo de nenhum passo que dei, de nenhuma escolha que fiz. Foram importantes todos os momentos que resolvi seguir o meu instinto, meu coração, por mais árdua e dolorosa que tenha sido essa caminhada. E isso, até mesmo nos processos pessoais da nossa vida, que é uma loucura.

– É uma alegria diferente?
– Eu tenho muitas alegrias, mas esse é um lugar novo que, com certeza, é mais um divisor de águas na minha vida, assim como o The Voice Brasil foi, o Nós do Morro, e o musical Elza. O universo vai presenteando a gente com oportunidades que se você consegue se valer delas, elas ficam para o seu legado, para a posteridade, para sua contação de história. O choro tem um pouco disso, ele não é pesado, ele é forte. Acho que é um alívio, é uma coisa de lavar, de deixar ir tudo que foi difícil para chegar aqui. Essas dores me fortaleceram bastante, mas elas tiveram um momento de ser muito fortes, mas que, agora, são só cicatrizes.

– Sentiu o peso de estrear logo como protagonista?
– Ainda sinto. Eu tenho que entregar o que as pessoas querem ver, o que a direção e o roteiro pedem, o que os meus colegas de cena propõem. Não é fácil, é muito difícil, dá nervoso na hora, porque é uma dramédia, a personagem carrega culpa, vergonha, trauma, é difícil performar isso. Eu estava acostumada a fazer isso cantando, que acaba sendo um lugar confortável para mim, que é escrever, poder chorar na minha casa e escrever coisas felizes, coisas tristes, mas não ter que fazer isso na frente de todo mundo. Abandonar o personagem, para mim, é um dos maiores desafios. Às vezes, você passa 15 cenas chorando. Mas sou escorpiana, gosto de desafios.

– Sempre quis fazer novela?
– Não é que nunca quis, mas nunca passou pela minha cabeça. Eu não comecei a minha vida como atriz, comecei na música, então, nunca olhei para novela, para o audiovisual. Eu achava que ia passar por lá cantando ou que eu ia dar um close, dar uma entrevista, até atuar cantando. E, hoje, fico grata por fazer personagens que não cantam.

– Isso mostra que você faz outras coisas também...
– E mostra para mim também! Primeiro temos que acreditar na gente para que o outro acredite e, às vezes, é preciso se convencer, porque a gente se boicota o tempo todo. Então, é importante fazer uma personagem que não canta. Mas pode me colocar para cantar também gente, anota aí!

– O audiovisual tem buscado cada vez mais representatividade. Como vê esse momento?
– A gente passa por um momento de revolução, evolução, conscientização, sabedoria, mas, também, acho que o mundo entendeu que preto consome, vende e existe. Isso é o mais interessante de as pessoas entenderem: a gente pode estar em absolutamente todos os lugares. Até que vai chegar o momento que você não vai precisar mais perguntar isso para uma menina! Assim como eu vi a Taís Araujo, essa menina vai falar que teve referência sim, que viu a Taís, a Viola Davis, a Késia, a Iza, a Ludmilla, a Cacau Protásio... Esse momento vai chegar. E que bom que as empresas e a sociedade estão olhando, mas a gente também tem que ficar atento para o que é de verdade e o que é conveniente. Novembro, o mês da Consciência Negra, por exemplo, é quando todo mundo acha que deve chamar a gente para trabalhar, mas a gente tem mais 11 meses para colocar comida no prato do filho, de carteira de trabalho para ser assinada, de vida acontecendo, de aluguel para ser vencido, de sonho para ser conquistado, não é só novembro. Espero que diante do movimento de representatividade — e não só
preta, mas também indígena, por exemplo —, daqui a um ano, quando a gente se reencontrar, eu tenha coisas legais pra falar e que esteja normalizada nesse lugar.

Késia em entrevista na Revista CARAS

Késia em entrevista na Revista CARAS

Késia em entrevista na Revista CARAS

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Késia em entrevista na Revista CARAS

FOTOS: SELMY YASSUDA; ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: ROBSON ABREU; AGRADECIMENTOS: FUNDIÇÃO PROGRESSO

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