CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil
Revista / Entrevista

Christiane Torloni diz: 'Começamos a ter consciência de que somos a Amazônia'

Guardiã da floresta, a atriz Christiane Torloni atesta a urgência da preservação ambiental

por Fabricio Pellegrino Publicado em 12/06/2023, às 09h34

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS - FOTOS: GUSTAVO BETTINI
Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS - FOTOS: GUSTAVO BETTINI

Uma epifania. Assim Christiane Torloni (66) define o primeiro mergulho que deu no Rio Negro há décadas. A partir dali, emergiu uma voz em defesa da Amazônia. De lá para cá, entre diversas iniciativas em nome da preservação da floresta, ajudou a colher cerca de 1,5 milhão de assinaturas pelo movimento Amazônia para Sempre, produziu e dirigiu o documentário Amazônia, o Despertar da Florestania e se tornou embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), ONG que promove conservação ambiental e melhoria na qualidade de vida dos ribeirinhos do Amazonas. Pelo ativismo, a atriz foi convidada por CARAS para liderar um grupo de atores e influenciadores em uma imersão na Amazônia por três dias. “Todos que sentem o chamado da floresta e abraçam a Amazônia como um pedaço de si se tornam embaixadores. É um convite pessoal e intrasferível. E não tem idade para receber esse chamamento. Só tem que vir par cá”, defende Chris. E a luta continua.

O próximo destino da atriz é a Ilha da Madeira, em Portugal, para participar do Fórum Internacional Amigos da Amazônia. O evento é um braço da FAS na Europa. Christiane, além de exibir seu filme no encontro, falará sobre as ações de impacto positivo na Amazônia.

– Como recebeu o convite para a imersão na floresta?
– Senti que estamos mudando. A Amazônia parece inexpugnável, longínqua, assustadora... Mas começamos a ter a consciência coletiva de que somos a Amazônia e que ela não está longe. CARAS também vem mudando. Essa atualização de conceito ligado à cidadania, à brasilidade é à florestania está funcionando.

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

– Como foi a sua primeira vez na Amazônia?
– A primeira vez que mergulhei no Rio Negro, no anos 1980, foi um batizado emocionante. Senti um preenchimento no coração, entendi o que faltava em mim. Uma epifania. A causa nasceu ali: é impossível se apaixonar por algo e não querer proteger, afinal, é amor. Vir à Amazônia e deixá-la conversar com você te ajuda a entender o que falta para se tornar um brasileiro integralmente.

– E aí, então, se tornou ativista?
– Nós somos responsáveis por ações de proteção e preservação. Quando começamos a agir, não nos sentimos sós e arregimentamos pessoas. A ferramenta para isso é a educação. Nossa educação é colonialista. Sou filha do colonizador e do colonizado. Tenho avós espanhóis, italianos e indígenas.

– Como foi criada?
– Fui educada com a percepção de entendimento quântico de que esses elementos todos formam nosso DNA. Como mudamos uma consciência de exploração em nome do progresso? Quando a bandeira do Brasil foi pensada era para estar escrito amor, ordem e progresso. O amor foi tirado. Tirar esse elemento da equação pode fazer com que a ordem e o progresso sejam devastadores. Ordem de quê? Progresso em nome de quê? Acima de tudo e todos? Precisamos segurar o aquecimento global para não perder o planeta. Como nós, os últimos a chegar aqui, seremos os destruidores do planeta? Meu neto diz: “sei que você é ‘guadião’ da floresta”. Como impedir que quem vem depois de nós destrua a Amazônia? Educação!

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

– Você é embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável, que tem 9 miniuniversidades espalhadas pela floresta. Como funciona esse trabalho?
– São pontos de educação dentro das unidades de conservação. Temos escolas nesses lugares e nosso mestre é o Darcy Ribeiro. Ele dizia: “temos que amazonizar a educação” ou seja, trazer o conhecimento dos povos originários. Não adianta ensinar apenas Aristóteles e as lendas do Sudeste. Existe a educação dos ‘fazimentos’, e os povos originários têm conhecimento sobre todo esse ecossistema. A fundação não é paternalista. Pelo contrário, perguntamos: “o que necessitam? Vocês têm conhecimento para trabalhar os óleos da Amazônia, o que precisam para isso deslanchar? Sabem como fazer o trabalho da farinha, o que é necessário para ela chegar a outros lugares?”

– Que mudanças promoveram?
– Antes não tinha luz, diesel... Agora plantamos as fazendas de captação de luz solar, que neutralizam e têm baixo custo. As comunidades em que a Fundação chegou ganharam autonomia.

– Temos muito a aprender com os povos originários, né?
– O guia que nos acompanhou é um professor da floresta. Fizemos uma trilha e foi uma master class. Você olha para uma árvore e não vê nada, mas ele explica que ali tem água, proteína... Os nativos sabem o que comer, caçar, se abrigar... Nós não sobrevivemos nem na cidade, precisamos do seguro do carro para trocar um pneu. No universo urbano, estamos perdendo nossas habilidades.

– O que acha do ecoturismo?
– É a grande saída desse enigma. É uma forma de preservamos sem sujar e começar a restaurar os biomas degradados em nome dessa
colonização predatória.

– E a responsabilidade de participar do fórum em Portugal?
– É a mesma dos anos 1980, época das Diretas Já. O mesmo sentimento de “precisamos avançar e o tempo está passando, vamos para a rua, pegar a bandeira e gritar ‘democracia já’”. A democracia nunca será uma guerra ganha, assim como a florestania. Quando vi a floresta queimar e recebi esse chamamento, tive que levantar a bandeira de uma causa global. Tem quem queira achar outro planeta para predar quando esse acabar. Mas a Terra é a nossa joia, a nossa mãe. Nesses fóruns temos lideranças indígenas, engenheiros florestais... Discutimos possibilidades, não deveres e direitos, mas oportunidades para que possamos, nesse trabalho de rede, melhorar coisas comuns. 

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

Christiane Torloni em ensaio fotográfico na Revista CARAS

FOTOS: GUSTAVO BETTINI