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Amar é um privilégio de poucos. Exige dedicação e maturidade

Rosa Avello Publicado em 09/08/2007, às 14h56

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Rosa Avello
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É comum as pessoas confundirem atos de controle, desejo, ciúme, apego, paixão e até de ansiedade com atos de amor. Essa confusão está na raiz dos problemas que em geral as mobilizam a buscar atendimento psicológico. Não pretendo entrar nos detalhes dessa discussão. Também não tenho a intenção de definir o sentimento. Já deixei claro em textos que publiquei nesta revista que não acredito que seja possível defini-lo. Não creio que as palavras tenham alcance para tal. Mas minha prática clínica indica que é muito importante explicar, deixar claro para as pessoas o que são atos de amor. Partilho da crença de teóricos como o psicólogo e psiquiatra norteamericano M. S. Peck segundo a qual o ato de amar é fundamental para nossa evolução. Amar implica superar-se, ampliar os próprios limites. Ser capaz de amar é por si só um salto em evolução. Ao buscarmos o crescimento de nosso parceiro, ampliamos nossos limites e também evoluímos. Mas isso não ocorre naturalmente. Requer esforço. Quando amamos alguém, nosso amor só se torna demonstrável, ou real, por meio de nosso esforço. O amor por nosso parceiro e o desejo de fazer o melhor por ele nos dão a oportunidade de superar limites e barreiras que estão apenas em nossa cabeça. Por amor abandonamos crenças limitantes e conseguimos fazer o que não acreditávamos que fôssemos capazes. Como diz Peck em seu livro A Trilha menos Percorrida, "o amor é um ato da vontade, tanto uma intenção quanto uma ação. Todos desejam estar amando. Contudo, muitos não estão. O desejo de amar não é amor. O amor é expresso amando". Amar, portanto, não é um evento espontâneo, como o desejo e a paixão, tampouco obrigação. Não importa o quanto achamos que estamos amando; se de fato não fizermos a escolha interior, não estaremos amando. Isso nos leva a outra consideração: é de uso corrente a idéia de que só podemos amar o outro se amamos a nós mesmos. Embora essa noção teórica circule por aí, sua prática é bem diferente. Ter cuidados consigo, poupar-se de riscos inúteis, proteger-se de experiências destrutivas são escolhas que poucos têm empenho em cultivar, já que isso implica autodisciplina. A cada ano que passa, constato o aumento do número de homens e mulheres cada vez mais jovens que se entregam e se abandonam vorazmente, infiéis a si mesmos. Vivem experiências fortuitas, uniões sem valor e sem propósitos a não ser o de usufruir o fugaz e alienante prazer imediato. Não se dão conta de que destroem as próprias estruturas e minam a auto-estima. Se não nutrem a própria força, como esperam fortalecer o outro? Vemos, novamente, que amar é trabalhoso. Mas não quero dar a impressão de que os atos de amor são penosos, destituídos de prazer, de alegria e de leveza. Amar implica esforço sim, entretanto, uma vez que a opção tenha sido feita, precisamos iniciar a jornada, como uma aventura que foi planejada e acalentada com entusiasmo. Uma aventura cheia de desafios, de situações envolventes que vão nos ensinar a reconhecer e usufruir o que há de mais belo, instigante e profundo na experiência humana. Uma aventura em que a cada dia temos a possibilidade de mergulhar na alma do outro e sair de lá enriquecidos, prontos para ser desbravados por ele. Ao amar buscamos entender o outro a ponto de mergulhar em sua alma. Essa façanha exige de nós habilidades desconhecidas de nós mesmos. Em resumo, amar é para poucos, coisa de gente grande.