CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil
Revista / CARREIRA

Paula Toller comemora 40 anos de carreira e descarta incômodo a excesso de elogios

Cantora Paula Toller afirma não se incomodar com elogios à aparência por saber que sempre ofereceu mais do que isso

Paula fala do início de sua carreira nos palcos, de desafios, medos e conquistas - FOTOS: PEDRO LORETO/FLÁVIO COLKER/CRISTINA GRANATO/PAULO TAUIL/AGNEWS/4IMAGENS/GETTY IMAGES
Paula fala do início de sua carreira nos palcos, de desafios, medos e conquistas - FOTOS: PEDRO LORETO/FLÁVIO COLKER/CRISTINA GRANATO/PAULO TAUIL/AGNEWS/4IMAGENS/GETTY IMAGES

A música sempre esteve presente na vida de Paula Toller (61). Aos 5 anos, ela se perdeu dos pais no baile de carnaval de um clube e foi encontrada por eles em cima do palco com a banda. “Eu estava lá, feliz da vida, dançando. Não estava nem me preocupando se estava perdida ou não (risos). Isso diz um pouco sobre uma espécie de chamado”, acredita. Um chamado que ela quase não atendeu, já que cursou faculdade de Desenho Industrial e Comunicação Visual, mas, prestes a se formar, desistiu para viver de música. À frente da banda Kid Abelha, se tornou uma das protagonistas da cena do rock no Brasil dos anos 1980 e, hoje, cantando solo, celebra 40 anos de carreira. Pouco antes de a artista gravar no Vivo Rio seu audiovisual da turnê Amorosa, ela fez uma pausa na agenda para conversar exclusivamente com CARAS sobre sua trajetória de sucesso.

– Como é celebrar essa data?

– É uma coisa que, quando você começa, nunca imagina. Você sempre acha assim: ‘Ah não, aí eu já vou estar muito mais velha’, como se você mudasse de personalidade só por causa da idade! (risos). E isso, evidentemente, não acontece. Então, de repente falam que você vai fazer 40 anos de carreira e é uma surpresa para mim também,porque eu vivo muito o dia, aquela semana, aquele projeto, não fico pensando muito lá na frente, mas aí chegou e eu quis comemorar. Considero esse show como se fosse um aniversário de casamento de 40 anos com o público.

– Você nem imaginava que sua carreira teria essa proporção...

– Não imaginava. Eu sou de uma família que gostava de música, de livros, de cultura, mas não tinha ninguém que tocasse alguminstrumento ou que fosse do meio musical. Então, para mim, isso era uma coisa impossível, eu não tinha noção do que era necessário fazer para se tornar uma cantora. Eu gostava de escrever crônicas para mim mesma quando era adolescente e gostava de ler. Escutava uma canção no rádio, achava que estava tocando para mim e cantava junto. Cantar, para mim, sempre foi uma coisa intuitiva, natural. E aí, de uma forma espontânea, juntou um bando de garotos, que tocava música nas horas vagas — era um hobby, não era a atividade principal, estava todo mundo na faculdade, não existia um projeto — e as coisas foram acontecendo. Eu trabalhei muito, mas tive muita sorte também. A gente conseguiu umas horas de graça em um estúdio simples, fizemos a primeira gravação e a Rádio Fluminense tocou, comecei a fazer programas de TV, viagens, foi muito rápido.

– Como sua família reagiu quando trancou a faculdade?

– Eu fui criada pelos meus avós. Meu avô já estava velhinho e não participou muito dessa situação, não estava muito presente mentalmente. E minha avó, apesar de ser cuidadosa e ter medo, foi vendo a coisa acontecer e me incentivando. Quando eu tranquei a matrícula, eu já tinha feito todas as matérias necessárias dos dois cursos, só não pude fazer os projetos finais porque já viajava toda semana, então, eu não tinha a menor condição de entregar um trabalho na faculdade e resolvi trancar. Falei: ‘depois volto e termino’, mas eu embarquei nesse trem louco! Quando vi, eu já tinha escolhido sem saber. Não sei se eu seria uma boa designer (risos).

– Se arrependeu? Deu medo?

– No dia seguinte que tranquei a matrícula, acordei pensando o que eu iria fazer, confesso que foi estranho (risos). Ainda pensei em me formar só para dar de presente para minha avó o diploma, porque naquela época era a coisa mais valorizada que tinha. Infelizmente, não pude fazer isso. Claro, deu insegurança, sim, não sabia onde eu estava pisando. Mas aí a gente se jogou na estrada e aprendeu a fazer show. Aprendi na estrada, fazendo, errando, por isso aquela música ‘Sou errada, sou errante, sempre na estrada, sempre distante’, é isso mesmo, vai que vai (risos)!

– Na época, o rock era dominado por homens, encontrou alguma resistência por ser mulher?

– Eu comecei com uma turma muito amiga, então, não senti. Eu senti isso com a crítica, quando os nossos discos começaram a ser lançados e a crítica caía em cima de tudo, da letra, da voz e eu falava: ‘Mas isso é injusto, é só comigo (risos)?’. Machismo é claro que existia e existe, mas eu nunca me preocupei com isso, eu fui fazendo as coisas. Quando eu entrei nesse negócio de música, banda, eu estava convicta de que a minha onda não era de ficar assistindo, eu não queria ficar embaixo do palco gritando, queria estar lá em cima fazendo a mesma coisa e acho que foi isso que me impulsionou.

– Você leva uma vida discreta por escolha ou é natural?

– Foi uma coisa que eu aprendi no percurso. No início da carreira, eu dei muitas entrevistas com o namorado do lado, foto e aquilo foi muito ruim, eu me senti muito invadida. Na época, não tinha internet, rede social, então, o que existiam eram as revistas de fofoca. Não era uma revista de celebridade, eram revistas de fofoca. Por exemplo, eu comecei a namorar o meu marido, Lui Farias, e nós fomos jantar fora. Ele ia me apresentar ao pai dele, o saudoso cineasta Roberto Farias. E quando a gente saiu do restaurante tinha um cara com uma câmera, um paparazzo, com o flash na nossa cara, batendo fotos, era uma coisa difícil, que nos deixava nervosos. Aquilo para mim foi muito ruim, senti quase como se fosse um assalto e era, né? Porque saiu na capa da revista, uma coisa bizarra. Hoje, é meio comédia a gente pensar, mas era o Lui querendo afastar o cara e saindo com umas caras meio distorcidas, uma coisa horrível. Então, esse tipo de abordagem foi me ensinando que eu tinha que me proteger, que a vida pessoal é uma coisa nossa. Depois que tive filho, mais ainda! Não vou ficar mostrando meu filho entrando na escola, no aniversário, não acho saudável para uma criança crescer com esse holofote o tempo inteiro, porque ela não tem maturidade para saber o que é aquilo.

– A maternidade somou nessa decisão então...

– Quando tive o Gabriel, eu tive certeza de que estava fazendo da maneira certa. Claro que a gente vai ao show de um amigo e tem pessoas na entrada fotografando, tem que se acostumar um pouco, não é 100% escondido, mas eu sempre achei que o bacana mesmo é o que eu faço em cima do palco e não se eu depilo a sobrancelha! Acho que é assim de modo geral com quem tem coisas a apresentar, coisas a dizer. Acho que isso não precisa, todo mundo vai ao supermercado, coloca gasolina, não tem nada de especial nisso. Agora, em cima do palco não, ali para mim é como se eu entrasse em um disco voador, não é normal e acho que essa magia se mantém até hoje.

– Brincam que você não encontrou a fórmula do amor, mas encontrou a da juventude. Esses comentários te incomodam?

– Perguntam qual é o creme que uso (risos). Não me incomodam de jeito nenhum, porque acho que eu tenho mais a apresentar do que uma boa aparência. E é uma coisa natural, a minha família é assim, meu pai sempre pareceu mais jovem, eu saía com ele quando tinha 15 anos e as pessoas achavam que eu era namorada dele, é uma coisa genética. E, claro, me cuido muito, tenho disciplina. Com 47 anos, fiquei diabética, tenho diabetes tipo 1. Isso é legal falar, porque muita gente sofre com isso e eu já tenho há um bom tempo e nunca tive nenhuma sequela. Por quê? Porque eu cuido muito, fiquei mais saudável depois do diabetes.

– O que passou a fazer?

– Passei a ter uma disciplina de atleta, de fazer exercício físico diariamente, seja aniversário, no meio da viagem, se está no hotel, na praia, eu vou lá no chão e faço um ou dois exercícios. Me cuido bastante porque tudo fica melhor, inclusive, o humor. Procuro ter uma alimentação equilibrada, independentemente do diabetes. É difícil, mas é uma coisa que você pode administrar. As pessoas querem uma fórmula mágica, mas, na verdade, é o dia a dia, um pouco de sacrifício, além de ter foco.

– E chega ser um pouco de etarismo a pessoa ficar surpresa com sua beleza. Uma mulher de 61 anos não pode estar bonita?

– Quando eu era criança, uma mulher de 61 anos era uma senhora, já estava com o corpo decaindo. Claro que existe a decadência da idade, a gente não deve fugir disso, do ponto de vista de negação, mas não é mais assim. Agora, uma mulher de 60 anos está quase que na quarta juventude (risos). Felizmente, a gente tem muitos recursos, e eu não estou falando de recursos estéticos não. Eu espero, com 81 anos, estar no palco, lindona, fazendo um show de quase três horas (risos).

– Até porque você já falou que a idade é só um número, que se sente uma moleca ainda...

– É a cabeça da gente, né? Até hoje entro no estúdio e penso: ‘que lugar incrível, que bom que estou aqui, que consegui descobrir a minha vocação cedo’. Porque, às vezes, as pessoas não descobrem e ficam com uma certa frustração, porque fazem uma coisa que é aquela que sustenta, que dá o dinheiro e não o que gostaria. A gente tem a mania de falar que, antigamente, era melhor. Eu não! Hoje em dia, tem coisas melhores também. Cada época tem suas mazelas e suas vantagens. Hoje em dia, você tem a possibilidade de mudar de profissão, de país, então, a gente precisa perceber as coisas legais que estão acontecendo e que são possíveis. Tento estar sempre nessa linha de procurar o lado bom das coisas, porque o lado ruim está direto, é uma avalanche na TV, no noticiário, tem muita coisa triste e, se eu puder fazer parte do lado que faz as pessoas ficarem mais felizes, estou contente. Quando a pessoa vai ao meu show, o meu objetivo final, além de me divertir, é claro, é que ela saia melhor do que ela entrou.

– Você cantou muito que “Nada sei dessa vida...” Ainda vive sem saber?

– Sigo sem saber, né! (risos). Sem saber, saber, não! A gente vai acumulando experiências, eu já sei alguma coisinha, sim, mas não tudo. E procuro descobrir coisas novas e também acompanhar os tempos. Eu tenho uma canção chamada Eu Amo Brilhar, que fala justamente isso, a marcha ré não é minha, eu não ando pra trás. Os novos tempos, o presente, tem sempre alguma coisa boa. Depende também do que você procura! Ficar só nessa lamentação do ‘no meu tempo era melhor’, eu acho que isso é envelhecer. Claro, as pessoas têm saudade dos bons tempos da juventude, mas veja que as pessoas de uma certa idade, que têm a cabeça boa, estão junto com os jovens fazendo coisas. Lógico, tem a decadência física e não é bacana, mas tem outras coisas legais também. O bom de hoje em dia é essa convicção de que você tem coisas legais para fazer mesmo depois dos 50.

– Parafraseando outra canção de sua autoria — a Grand’Hotel —, já descobriu qual é o verdadeiro segredo da felicidade?

– (risos) Felicidade pode ser um minuto por dia, pode ser um momento que você ouviu uma música, leu um livro legal, viu um filme bacana. Não necessariamente é estar com a vida resolvida, isso não é felicidade, até porque ela nunca está resolvida! Felicidade é você ter momentos bons, produzir esses momentos. Quando vejo que minha música toca na rádio ao lado das músicas dos meus ídolos, que estou ali junto com eles, isso, sim, é uma grande felicidade para mim. 

FOTOS: PEDRO LORETO/FLÁVIO COLKER/CRISTINA GRANATO/PAULO TAUIL/AGNEWS/4IMAGENS/GETTY IMAGES