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Revista / TRAJETÓRIA

Marcos Caruso avalia relação com o tempo após 50 anos de carreira: 'Ainda vou fazer muito'

Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Marcos Caruso fala abertamente e pela primeira vez sobre seu casamento com Marcos Paiva

Daniel Palomares Publicado em 02/02/2024, às 15h00

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No Rio, Marcos Caruso abre as portas de seu novo apartamento de frente para a Praia de Ipanema - FOTO: MARCIO FARIAS
No Rio, Marcos Caruso abre as portas de seu novo apartamento de frente para a Praia de Ipanema - FOTO: MARCIO FARIAS

São 50 anos de carreira completados no ano passado. Cerca de 12000 apresentações de teatro. E 780 dias em cima do palco. Fora as novelas, séries, filmes e o trabalho por trás das câmeras, como autor e diretor. Marcos Caruso (72) acumula as mais diversas experiências ao longo da vida, mas se mantém sempre jovem. Destaque em Elas por Elas, novela global das 6, na qual dá vida a Sérgio, seu primeiro vilão, e de volta aos palcos cariocas com Intimidade Indecente, ao lado da parceira de profissão de longa data, Eliane Giardini (71), o ator não dá sinais de diminuir o ritmo de trabalho.

Em papo exclusivo com CARAS, Caruso abre as portas do seu apartamento de frente para a Praia de Ipanema, no Rio, e fala abertamente — e pela primeira vez — sobre seu casamento com Marcos Paiva (56), com quem divide a vida desde 2018. “Na época em que era casado com mulheres maravilhosas, não tinha essa utopia de que um dia eu me apaixonasse por um homem. Existia mais moralismo e repressão. Hoje, não é mais utopia. É um momento de grande esperança”, comemora o veterano.

– Cinquenta anos de carreira... Qual a sensação de chegar a essa marca e ainda estar na ativa?

– Esses 50 anos foram preenchidos com muito trabalho. Olho as fotografias em casa e penso: ‘como eu já fiz tanta coisa’. Acho que é paixão. A minha profissão sempre esteve à frente até da minha família. Se eu tivesse que escolher morar numa cobertura ou num camarim de teatro, ia preferir o camarim. Que loucura, como trabalhei! Olhando para trás, é uma vida de sucesso e não no sentido da capa de revista ou do aplauso. Sucesso no sentido de ser bem-sucedido naquilo que me propus fazer. O público, a crítica, o prêmio, o dinheiro também são sinônimos de sucesso, mas não é o que conta para mim. Que bom que não passei em branco nesta vida. Vim, me propus e ainda vou fazer muito.

– Lá no início da sua trajetória, como ator, imaginava chegar aonde chegou?

– Eu era um ator com pouquíssimas ferramentas. Tinha uma insegurança própria de quem não fez escola de teatro. Aprendi tudo com a vida, eu sou um autodidata. Sou um obstinado. No começo, jamais poderia imaginar que um dia fosse contracenar com Antonio Fagundes, Marco Nanini, Tony Ramos, pessoas da minha geração que já despontaram como grandes atores desde o início. Não foi o meu caso. Entrei na Globo com 50 anos, em 2001. Não fui atrás da televisão ou da fama. O que eu sempre quero é encontrar o caminho mais difícil para chegar lá.

– E como é sua relação com a passagem do tempo?

– Eu amo envelhecer. Vejo que todas as rugas e marcas de expressão fazem parte de uma trajetória de vida, de uma evolução. Chegar aos 72 anos com a disposição física e mental, com a curiosidade pela vida, querendo aprender com o jovem... Sou uma pessoa extremamente curiosa. Não consigo fazer uma coisa só. Já atuei, já dirigi, já escrevi novela, já escrevi teatro. Eu me sinto jovem, não na idade, mas na disposição para tudo. Existem limitações que começam a aparecer. Ou tento superá-las na medida do possível ou, então, aceito como coisas naturais que vêm. Não me vejo envelhecer com tristeza. Não tenho nenhum problema com a velhice. É muito natural para mim. Tive um pai que se foi aos 98 e dirigia até os 96. Eu nunca fiz plástica, eu nunca fiz regime. Tenho as mesmas medidas agora de quando eu tinha 30 anos!

– Conta um pouco sobre esse apartamento. Qual o seu cantinho favorito?

– Estou no Rio há pouco tempo. Minha casa sempre foi em São Paulo. Vivia lá porque era casado, minha família estava lá. Agora, estão aqui. O Rio se tornou esse lugar. Meu espaço de reflexão é meu escritório, onde tenho minhas fotos, meus livros. Eu que escrevo, atuo, leio e assisto, por isso, preciso de um lugar que me dê todo esse aconchego.

– Acompanhar a cumplicidade entre você e o Marcos é muito especial. Como vê a importância de viver esse amor plenamente e sem amarras, sendo uma espécie de símbolo para tantas outras pessoas da comunidade LGBTQIAPN+?

– Fui casado quatro vezes com mulheres maravilhosas que são minhas amigas até hoje. Minha união com ele foi de alma. Sou reservado e tenho o direito de ser, mas vou falar pela primeira vez sobre isso. Acho que aconteceu na hora certa. O momento que estou vivendo é lindo porque, agora, tudo é possível. Ao mesmo tempo que existe muita patrulha de pessoas horrorosas, moralistas e preconceituosas que não entendem que o ser humano pode amar independentemente do gênero, existe um mundo que se abre para a possibilidade do amor. Se acontecesse isso na minha vida há 20 anos, teria sido difícil. Hoje, não mais. Quando apresento o Marcos como o meu companheiro, ninguém fala nada. Eles veem nos nossos olhares um encontro de almas. Os homens que estão nascendo hoje em dia estão chegando a um mundo muito melhor que antes. Depende de nós construir um mundo ainda melhor para os descendentes deles. É um mundo de esperança concreta. 

FOTOS: MARCIO FARIAS; BELEZA: GRAZIELE BRAGANÇA; STYLING: SAMANTHA SZCZERB; AGRADECIMENTOS: AMIL CONFECÇÕES, BREDA UOMO E RAFFER