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Atualidades / PROJETO

Ludmila Dayer colhe os frutos de documentário sobre saúde mental: 'Privilegiada'

Na produção Eu, Ludmila Dayer, que encara com leveza diagnóstico de esclerose múltipla, narra sua saga contra a síndrome do pânico

Ludmila Dayer estreia como diretora em documentário que fala de doença - Pedro Curi
Ludmila Dayer estreia como diretora em documentário que fala de doença - Pedro Curi

No ano passado, a atriz e produtora Ludmila Dayer (40) estreou como diretora no tão sonhado documentário Eu, onde teve a oportunidade de narrar sua saga contra a síndrome do pânico. Hoje, ela colhe os frutos desse projeto, que está disponível na plataforma de streaming Aquarius. “Eu quis falar sobre este tema para ter a oportunidade de me conectar com outras pessoas, para que elas também não se sentissem sozinhas. Tem muita gente passando por isso, e passar essas informações adiante era quase que uma obrigação que senti”, revela a artista, em entrevista à CARAS Brasil.

Diante de tantas informações sobre a doença, Ludmila achou que era hora de arregaçar as mangas e fazer algo por quem estava enfrentando o mesmo problema que ela. “A ideia veio porque tive acesso a tantas informações, a tantos profissionais, a tantas ferramentas, me senti muito privilegiada, porque não é todo mundo que tem acesso a isso. Tem pessoas que não têm acesso nem a terapia, por exemplo. Fiquei com a sensação de que precisava passar isso adiante, sabe? Porque se me ajudou, talvez poderia ajudar outras pessoas”, desabafa.

“Me senti muito sozinha nesse momento, quando estava passando por isso tudo, então, quis falar sobre isso, para que eu pudesse me conectar com outras pessoas, para que elas não se sentissem sozinhas. Passar essas informações adiante era quase que uma obrigação que senti. Fui muito ajudada e queria retribuir ao universo tudo de bom que aconteceu para mim. Então, por isso essa urgência, essa vontade de fazer esse filme, onde conto um pouco da minha história”, completa.

LUTA E RESILIÊNCIA

Os últimos anos para Ludmila foram de muita luta e resiliência, pois antes de enfrentar a síndrome do pânico, ela foi diagnosticada com esclerose múltipla. "Fui diagnosticada, primeiro, com o EBV, que quando fica crônico, desencadeia milhares de coisas no corpo, inclusive o pânico. Esse diagnóstico foi assustador porque nunca tinha ouvido falar. Como tive um acompanhamento médico e também li bastante, eu já tinha entendido que doenças ele poderia reativar no corpo e que a esclerose seria uma dessas. Então, já tinha clareza de que você pode fazer um tratamento e viver normalmente a vida toda sem nenhum sintoma, que é o meu caso hoje", explica.

Durante o bate-papo, a artista falou da importância de se estar atento aos sinais do corpo e sobre a relevância de discutir, cada vez mais, a saúde mental; um dos assuntos mais pertinentes do mundo moderno, mas que muita gente ainda ignora.

“É como se isso não fosse uma doença, é frescura. Essa era a sensação que eu tinha. E fisicamente me limitava completamente. Fiquei fisicamente doente, não conseguia viver normalmente e era estranho, porque você não sabe nem como pedir ajuda. E é um diagnóstico real, não é frescura. Só quem está passando por isso sente. Você não consegue explicar para uma pessoa o que é uma crise de ansiedade, o que é uma crise de pânico, você tem que sentir para entender”, destaca.

“Eu mesmo era muito leiga nesse assunto antes de ter passado por isso. Até os meus 36 anos, nunca entendia. As pessoas falavam que tinham pânico e eu pensava: ‘Gente, o que é isso?’. Não entendia. Por isso essa vontade de falar sobre, conectar com as pessoas que já sentiram e sentem isso, e se sentem incompreendidas, sabe?”, continua a atriz.

No documentário, Ludmilla confessa que não admitia que estava com a doença. “A gente tem medo de começar a tentar entender a dor; olhar para dor e não conseguir sair daquele lugar e ficar depressivo. É um medo que acho que a maioria das pessoas têm, quando estão passando por alguma dor. Aí vem o ‘prefiro não sentir isso porque vou me ‘emburacar’ e não vou conseguir sair dali’. E aí você tenta usar artifícios para você congelar aquele sentimento, botar literalmente a sujeira para debaixo do tapete. Só que chega uma hora que vai acumulando e não tem jeito, a gente precisa processar em algum momento”, ressalta.

A artista pondera: “Seja lá qual for a dor, ela precisa ser processada. E eu aprendi que a maneira mais fácil de seguir é processar uma coisa de cada vez. A gente acha que é muito cultural também... Você tá sofrendo, está triste: ‘Ah, é besteira! Bota uma música que passa’. São vários artifícios que a gente fica usando que acaba se tornando uma positividade meio tóxica, né? Que na verdade não é positividade, você está mascarando as coisas. Então, só fui aprender quando passei por esses desafios, quando vi que não tinha saída para eu melhorar e a minha vida voltar ao normal. Precisava cuidar da minha saúde mental”.

Ludmila Dayer comemora sucesso de documentário sobre saúde mental

IMPORTÂNCIA DA TERAPIA

A terapia foi importante neste processo de recuperação e aceitação, segundo Ludmila. “A terapia me ajudou nisso, nessa autoanálise, no autoconhecimento, a conseguir me entender, me enxergar de verdade sem essas lentes distorcidas que eu colocava de autoproteção, para não sofrer. O início desse processo de autoconhecimento é muito doloroso. Cheguei a quase desistir, lá atrás, porque te faz (a terapia) tirar a venda, e você vê tudo aquilo que não está querendo ver a vida toda”, diz.

Ludmila declara que tem vivido dias muito melhores: “Minha saúde mental está bem melhor do que era. Não tenho mais pânico. A saúde mental é uma coisa que todo dia eu checo. Estou sempre prestando atenção em mim, se sinto que estou, às vezes, com acúmulo de trabalho e ficando estressada. Aí, tento tirar uns minutos que seja por dia e respirar, dar um tempo para mim, porque a vida é muito corrida, com a quantidade de informações que a gente é bombardeado por dia. Mentalmente é muito cansativo”.

A atriz também curte fazer caminhadas e meditação. “Às vezes, na caminhada que faço com meu cachorro, tento, naquele momento, estar no presente. Tipo agora: não vou pensar em trabalho. Vou focar no agora e isso me ajuda. Então, são algumas técnicas que aprendi, como a própria meditação, que me ajudam a focar no presente. Porque o que deixa a gente muito ansioso, é estar sempre no futuro.  Ou a gente está no passado, ou está no futuro. E nunca no presente! É muito engraçado quando a gente para pensar sobre isso. Parece uma coisa tão fácil, mas é muito difícil, porque os nossos pensamentos estão constantemente pensando no que a gente tem que fazer, no que queremos construir ou está lamentando alguma coisa que aconteceu, né?”, frisa.

“A autoanálise, que eu não fazia, hoje em dia ela é constante na minha vida. Mando uma mensagem para alguém, às vezes no telefone, e faço essa autoanálise: ‘Será que fui grosseira? Será que me fiz compreender? Por que estou reativa? Talvez porque estou cansada mentalmente ou talvez tem alguma coisa me incomodando que preciso processar?’. Hoje em dia, o fato de não ter pânico, mostra que estou melhor, mas é um esforço diário, é um cuidado diário”, continua.

CONTINUAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO e PODCAST

Ao falar, novamente, sobre trabalho, Ludmila Dayer conta que pretende fazer a continuação do documentário e um podcast. “Já está fechada a continuação do filme, que se chama Você. E começaremos a filmar este ano, acredito. Inclusive, o ‘Você’ vai ser sobre o nosso relacionamento com o outro, em todas as esferas. Ele continua esse movimento que fiz, uma vez que passei tanto tempo olhando para dentro, sabe? Muito introspectiva. Abordo o ‘como é que é voltar para vida, para os relacionamentos, para os nossos gatilhos, como é sair desse casulo e voltar para o mundo de novo e aplicar tudo isso no dia a dia’. Porque não adianta nada eu ter todos esses ensinamentos que tive, se não aplico no dia a dia? Não serve de nada. Então é exatamente sobre isso que o que vou falar”, revela.

“E tem o podcast com a Max Tovar, que é a minha terapeuta, que a gente vai falar só sobre saúde mental. É como se fosse uma conversa, um bate-papo bem relaxado, mas como se você tivesse com o seu próprio terapeuta. Então, vou trazer assuntos e questões e a Max vai poder desmembrar isso. Vou ser meio que o canal das “, completa.

NOVELAS NÃO ESTÃO MAIS NOS PLANOS DA ATRIZ

Morando nos Estados Unidos e muito engajada no tema, Ludmila não pretende mais fazer novelas. “Não consigo imaginar outra coisa no momento. A minha vida é aqui nos Estados Unidos, a minha produtora é aqui, família aqui, não tem a menor possibilidade de eu voltar para o Brasil para fazer novela. Cinema é diferente, né? Que pode ser uma coisa mais rápida. Mas, no momento, tem esse projeto, que é o meu foco. O resto é continuar dirigindo e produzindo”, afirma.

Porém, a artista confessa o enorme carinho que tem pelos trabalhos em telenovelas. “É um trabalho que me dediquei desde criança. Atuo desde os 10 anos. Tudo o que fiz, coloquei tanto amor. Acho que as pessoas conseguiram perceber isso, porque sentem falta (de Ludmila atuando na televisão), porque acho que teve muita verdade nesse meu processo de atuação. Então, fico muito lisonjeada toda vez que escuto um elogio. É muito bom quando você faz uma coisa com tanta dedicação. Você sempre escuta as pessoas falando sobre, mesmo depois de tantos anos. É muito legal, fico muito agradecida”, comemora.

Ludmila Dayer comemora sucesso de documentário sobre saúde mental