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Atualidades / NOVOS TEMPOS

Walkiria Ribeiro, de Fuzuê, reflete sobre racismo: ‘Para atuar antes, precisava de um núcleo preto’

Na pele de Rejane Miranda na trama global, Walkiria Ribeiro comemora atual fase e novo olhar para as pessoas pretas em novelas

Walkiria Ribeiro está no elenco de Fuzuê - ANDRÉ IVO
Walkiria Ribeiro está no elenco de Fuzuê - ANDRÉ IVO

No ar em Fuzuê, Walkiria Ribeiro (46) reflete sobre racismo em entrevista a Revista CARAS. A intérprete de Rejane Miranda na trama das 7, da TV Globo, que está em fase final, vê hoje um resultado significativo da luta contra o preconceito, principalmente nas novelas. Ela destaca que na produção de Gustavo Reiz (42), por exemplo, são mais de 20 atores negros. “Para poder atuar numa novela antes, num filme, eu precisava de um núcleo preto”, ressalta.

Sempre bateram na tecla: a carreira como ator/atriz no Brasil é muito instável. Para Walkiria, ainda é mais complicada para as pessoas pretas, mas ela vê luz no fim do túnel. “Com pessoas pretas é ainda pior, né? Acho que nós estamos atravessando uma nova realidade, em que nós, atores pretos, não precisamos nos preocupar com que histórias a gente vai contar. Para poder atuar numa novela antes, num filme, eu precisava de um núcleo preto, precisava de uma família, precisava de uma situação, muitas das vezes histórias escravagistas”, diz.

“Mas a gente não tem mais essa realidade. Hoje, olho para a Rejane e penso que há 20, 30 anos, seria difícil ter pego essa personagem. Não por competência, mas por estética, perfil. Olho para Fuzuê e vejo que somos mais de 20 atores negros no elenco!”, completa.

Ela ainda reflete sobre o atual momento do audiovisual: “Mudar é uma palavra que não condiz, acho que a gente realmente está trazendo para esse universo a aceitação de uma sociedade. Você vai à padaria, o dono da padaria é preto. Você vai ao banco o gerente é preto. Isso faz parte da minha rotina. Quero ver no comercial de margarina essas pessoas que eu convivo todo dia, uma família japonesa com preto, os relacionamentos inter-raciais, uma mãe roqueira... Acho que o audiovisual parou de inventar um imaginário que em algum momento virou padrão. Está na hora de reconhecer essas pessoas que estão no nosso entorno todos os dias”.

Para a atriz, é uma felicidade ver aonde chegou, mas afirma que ainda faz parte de uma minoria. “Sou a exceção. Uma menina preta, da zona sul de São Paulo, periférica, pobre, que foi atrás de um sonho, que foi galgando, foi se transformando. Meu primeiro contato com a arte foi com a dança, meu pai me pôs no balé clássico aos 2 anos e todo o resto foi muito orgânico, as coisas foram acontecendo”, fala.

“Estudei no Theatro Municipal de São Paulo, aquele pedaço da cidade, para mim, diz muito. Foi o primeiro ato de racismo em que a minha família realmente acreditou. Uma professora de balé falou: ‘Você sabe que sua filha não vai ter carreira profissional, né? Não tem bailarina preta’. Os meus pais acreditaram nisso e me tiraram do balé clássico”, relembra.

Apesar das cicatrizes, Walkiria está vivendo um momento único em sua vida. “Estou profissionalmente em êxtase, porque a Rejane Miranda me traz o tamanho de uma personagem que eu nunca tive. Acho que é um momento de maturidade mesmo. E estou chegando a meio século! Acho que estou dando um caldo. Olha para mim! Vou chegar aos 50 bem (risos)”, comenta.

Walkiria Ribeiro, de Fuzuê, reflete sobre o racismo