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Revista / Entrevista

Igor Guimarães: ‘Eu já fui muito homofóbico'

No auge da carreira, Igor Guimarães luta contra a vaidade e o próprio preconceito

Mariana Silva

por Mariana Silva

mariana.silva@editoracaras.com.br

Publicado em 04/10/2023, às 07h00

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Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: MARCELO PAEZ
Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS - FOTOS: MARCELO PAEZ

A pergunta é quase automática: “ele é assim o tempo todo?”. A indagação já virou rotina para as pessoas que conhecem Igor Guimarães (31). Consagrado como um dos maiores humoristas de sua geração, seja pelo tom de voz ou pelo jeito irreverente e nada sério, de fato, fica difícil reconhecê-lo para além dos personagens. “Crio as coisas e fico admirando meu trabalho, sou a primeira pessoa que dá muita risada de uma piada minha. Até que paro e penso: ‘nossa, como sou imbecil’”, conta ele, aos risos.

Contratado do SBT, ele reforça o time do The Noite e participa de quadros no Programa do Ratinho, mas o espírito cômico o acompanha faz tempo: aos 17 anos, enquanto cursava a faculdade de Jornalismo, foi influenciado pelos amigos a se arriscar em shows de stand-up. “As pessoas sempre comentavam que eu era engraçado, até que um amigo me convenceu. Meu primeiro show foi em um bar, um fracasso. Eu achava que era de um jeito, mas era de outro. Pensei: ‘Nunca mais eu faço isso’. Até que surgiu uma nova oportunidade e eu decidi fazer de forma mais espontânea. Deu certo”, relembra Igor, que abriu as portas de seu lar “maluco” com exclusividade à CARAS. “Este é meu primeiro apartamento e a primeira vez que moro sozinho. Quando vim pra cá, falei para o arquiteto que queria um ambiente que desse dor de cabeça nas pessoas. Nem vi o projeto, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Ficou minha cara”, explica ele, com ar de satisfação. E o porquê da dor de cabeça? O local é democrático nas cores, tem decoração inusitada, objetos improváveis e muita, mas muita personalidade e, claro, bom humor.

Embora tenha concluído os estudos, seguir carreira como jornalista nunca esteve em seus ideais. Coincidência ou não, não demorou para que o humor lhe rendesse frutos. “Eu trabalhava em redação, mas queria mesmo era ser humorista. Fazia shows de segunda a segunda. Às vezes, chegava a quatro apresentações por dia. Quando percebi que, financeiramente, era possível seguir só com isso, decidi deixar o Jornalismo para lá”, entrega. Foi por meio do programa Pânico, exibido na Band entre 2012 e 2017, que Igor colocou seus maiores talentos em evidência. “Desde então, o reconhecimento se tornou maior. Eu sai de centenas para milhões de seguidores”, recorda ele, criador dos personagens Advogado Paloma, Boneco Josias, Índio Ana Jones, Duendão Maravilha, entre outros. “Hoje em dia, o pessoal me encontra na rua e abre aquela bocona imensa de surpresa”, diz. Somando mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais, Igor desconsidera a fama. “Famoso é o Faustão... mas eu? Tem muita gente que não sabe nem meu nome, nunca vai me ver ou me assistir num show. Tenho essa consciência. Fora o lance da geração e das barreiras de idade”, reflete ele.

Entre os principais aprendizados de sua carreira, está a inibição da vaidade. Inclusive, este é dos motivos pelos quais ele não se prende à própria popularidade. “Eu trabalho contra a minha própria vaidade toda hora. Penso que um humorista muito vaidoso, tende a ser ruim. Por que você pode falar e rir dos outros, mas os outros não podem falar e rir de você? É uma hipocrisia, no fim”, diz. “Tenho que ser uma máquina de riso. Sempre digo que sou escravo da alegria, então, eu tenho que rir comigo, de mim e por mim. Primeiro eu, depois os outros”, emenda.

Ainda que lhe pareça fácil, fazer o público rir se torna um grande desafio quando Igor está nos palcos. “O riso, por si só, é algo muito fácil. Despertar outras emoções nas pessoas é muito mais complicado”, pontua. Depois de estrear seu primeiro show internacional em uma turnê nos EUA, atualmente, o humorista está em cartaz com Benignismo, em São Paulo. “Encaro cada apresentação como se fosse uma orquestra. Eu dou a direção e vejo se o público segue. Até existe um script, mas eu acabo brincando com isso”, explica. “Meu texto é muito grande, o que possibilita várias interpretações”, completa ele, buscando equilibrar as piadas com algum tipo de reflexão. “Às vezes, ir a um show de humor pode até ser uma terapia. Você vai equilibrando suas dores e refletindo, por meio de uma piada, se aquilo é algo que realmente merece o valor que tem”, avalia ele.

E por falar em terapia, este foi um dos pilares essenciais para Igor entender os seus sentimentos. “A gente não pode só ser feliz, isso faz muito mal. Eu estava sempre dando risada. Quando acontecia algo ruim, eu reprimia esse sentimento e esquecia de sentir. A terapia foi o que me ensinou a entender o bom humor com um equilíbrio de sentimentos”, conta.

Com o equilíbrio veio também a aceitação da própria sexualidade. Assumidamente homossexual, Igor demorou 26 anos para aceitar a si mesmo. “Tinha um autopreconceito. Fui o maior homofóbico que encontrei na vida. O tempo me deu experiência e a chance de trabalhar com pessoas como Nany People, que me ensinaram demais, até que tomei forças e coragem para me entender. Agora, está tudo ótimo, estou muito feliz. Recomendo a todo mundo, inclusive. Quem puder ser gay um dia, seja”, dispara, aos risos.

Colhendo os frutos do sucesso, ele prepara novidades e outras “loucuras” profissionais. Em breve, poderá ser visto em Benigno in Paradise, especial da Prime Video. Já para o próximo ano, ele idealiza o show Bariloche 2.0. “Teremos novas piadas e muitas canções”, adianta ele, animado e pronto para novas tiradas. 

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

Igor Guimarães em entrevista na Revista CARAS

FOTOS: MARCELO PAEZ