Bauhaus: a utopia que virou realidade (ou quase)

Como o sonho de idealistas professores de design mudou o mundo, se tornou a pedra no sapato de Oscar Niemeyer e foi fundamental para a criação do iPhone

Guilherme Ravache Publicado em 10/10/2012, às 13h03 - Atualizado em 22/02/2013, às 10h28

Na Bauhaus, o design começou a ser pensado de modo mais abrangente. Envolvia dança, tapeçaria, teatro, pintura, escultura, entre outras expressões artísticas - Getty Images

Lançada em 1919, a Bauhaus tinha uma proposta ousada. Seria uma escola com a missão de revolucionar o mundo das artes e do design. Utópico, e de certo modo ingênuo, o movimento liderado por Walter Gropius fez até um manifesto: “Desejemos, inventemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que reunirá tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de artesãos, se alçará um dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura”.

 

Design para as massas

O que poucos poderiam prever era que a iniciativa daquele grupo de professores/designers idealistas de fato mudaria o mundo. Mas em um rumo que nem mesmo os participantes do movimento poderiam imaginar. Afinal, como uma escola de ideal socialista como a Bauhaus se tornou a maior fonte de inspiração de design para Steve Jobs, o fundador da Apple, a mais valiosa empresa do mundo e símbolo máximo do capitalismo?

 

Fundada em Weimar, na Alemanha, no final da Primeira Guerra Mundial, a Bauhaus ao longo de 14 anos tentou criar uma identidade artística e visual que desse significado a uma era de máquinas, consumo em massa e ao caos do pós-guerra. Mais do que um novo modelo de educação, Gropius e seus seguidores buscavam um novo entendimento da arte. “A Bauhaus rompeu com o modelo de escola onde os alunos apenas reproduziam as obras do passado”, diz Claudio Goya, arquiteto e coordenador do curso de design da Unesp Bauru, “eles foram os primeiros a pensar o design de maneira mais abrangente. Havia dança, tapeçaria, teatro, pintura, escultura, entre diversas disciplinas”. Outra particularidade da escola era a proximidade com a indústria, já que o ideal socialista vigente na Bauhaus determinava que tudo que ali fosse criado deveria ser reproduzido para as massas, para que qualquer um tivesse acesso de maneira igualitária.

 

Gropius foi o primeiro diretor da Bauhaus. Foi sucedido por Hannes Meyer, de 1927 a 1930, e depois Ludvig Mies van der Rohe dirigiu a instituição de 1930 a 1933, até ela ser fechada pelos nazistas. Em uma ironia da história, foi justamente o fechamento da escola que fez com que sua filosofia se espalhasse pelo mundo. Fugindo da perseguição nazista, os alunos e professores como Josef Albers, Marcel Breuer, Wassily Kandinsky e Paul Klee emigraram para todas as partes do mundo, onde se estabeleceram e iniciaram carreiras de sucesso inspiradas nas ideias da Bauhaus. Gropius foi dar aulas em Harvard, nos Estados Unidos e van der Rohe, no Instituto de Tecnologia de Illinois.

 

Oscar Niemeyer, o inimigo da Bauhaus

O Brasil também sofreu influência da Bauhaus, mas ela foi menos direta do que em outras partes do mundo. Na década de 1950, a escola foi bastante influente no país. “A Bauhaus nasceu como uma resposta ao projeto de modernização da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial, que buscava se reconstruir e ser mais avançada”, diz Eunice Abascal, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. “E essa ideia de modernização era forte no Brasil dos anos 1950. Vivíamos a Era Vargas, do projeto desenvolvimentista, com o estado atuando ativamente para estimular a indústria e modernizar o país”, acrescenta. Mas no final, por aqui, prevaleceu a vertente francesa do modernismo, menos preocupada com a reprodutibilidade das obras. O francês Le Corbusier e seus seguidores, os brasileiros Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, acabaram por ditar o rumo do design no país. Inclusive há uma polêmica histórica entre Niemeyer e Walter Gropius. Em uma passagem do alemão pelo Brasil, Niemeyer convidou Gropius para conhecer a Casa das Canoas, a residência que ele havia projetado para morar. O resultado Niemeyer descreveu no livro O Risco: Lucio Costa e a Utopia Moderna: “O Gropius esteve aqui. Um arquiteto medíocre, mas ele era professor, era inteligente e tal, conversava, era instruído, falava bem. Mas ele foi lá ver a minha casa das Canoas, e quando saiu disse pra mim: ‘olha, a sua casa é muito bonita, mas não é multiplicável.’ Mas que burrice fantástica! Era um terreno sinuoso, eu não podia procurar um terreno igual. Então você vê como eles pensavam errado, esse pessoal da Bauhaus. O Le Corbusier é que teve a coragem de dizer: ‘é mediocridade ativa, não sabem nada, só querem criar regras’. Depois todo mundo tem que seguir… Eu sou o único a esculhambar a Bauhaus, ficam com medo de dizer que é uma m....”. Niemeyer dá voz a uma crítica recorrente à Bauhaus. Porém, ao mesmo tempo que são pontos fracos, a busca pela simplicidade e possibilidade de multiplicação também tornou a Bauhaus tão influente.  

 

De Weimar ao iPhone

De fato, com o tempo, a Bauhaus ficou associada ao minimalismo, formas geométricas e linhas simples, mas sua contribuição para o design vai muito além. A escola mostrou que a arte é mais que inspiração e está diretamente associada à pesquisa e ao desenvolvimento. Conhecer os materiais e seus usos é parte fundamental do processo, bem como a possibilidade de multiplicá-lo infinitamente, reduzindo custos. Atualmente, a Apple talvez tenha se tornado o maior símbolo da realização do conceito da Bauhaus, mesmo que deixando de lado a filosofia socialista no que se refere aos lucros. Steve Jobs em sua biografia se declara um fã da fabricante alemã de eletrodomésticos Braun, que foi diretamente influenciada pela Bauhaus. E tome um iPhone como exemplo. É minimalista, elegante e ergonômico. Teve milhares de horas de pesquisa e reúne milhares de técnicas de produção, materiais e design. É uma peça extremamente complexa, mas simples ao primeiro olhar. E, acima de tudo, rompeu com o passado e se tornou um produto para as massas, seja na versão original ou copiada pelos concorrentes. 

 

Por Guilherme Ravache

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