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Telas e obesidade: a tecnologia está afetando crianças e adolescentes?

Em entrevista à CARAS Brasil, o endocrinologista Miguel Liberato orienta os pais a evitarem o ganho de peso de seus filhos

Dr. Miguel Liberato

por Dr. Miguel Liberato

Publicado em 01/07/2024, às 14h46

'Quanto maior o tempo de tela, maior a chance de ganho de peso', diz o especialista - Freepik

Crianças cada vez mais novas têm tido acesso a equipamentos eletrônicos, como smartphones e computadores. Esse acesso acontece não somente em casa, mas também nas escolas e até mesmo em restaurantes; sempre com o objetivo de distrair a criança. Para o endocrinologista Miguel Liberato, a temática traz um importante alerta para os pais e familiares de crianças e adolescentes, vez que diversos estudos têm mostrado interferências em vários aspectos do desenvolvimento desde muito cedo.

Em entrevista à CARAS Brasil, o especialista explica que bebês expostos às telas por períodos prolongados, por exemplo, apresentam maior chance de atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem. “Já está clara a relação entre o excesso de tempo de tela e a obesidade em crianças e adolescentes. A obesidade infantil está crescendo em todo o mundo, e estima-se que, no Brasil, em 2035, metade das crianças e adolescentes estarão com excesso de peso. Esses números têm relação direta com o tempo e a exposição precoce às telas. Quanto maior o tempo de tela, maior a chance de ganho de peso”, diz Liberato.

Embora pareçam inocentes e práticas na rotina, as telas interferem no ganho de peso de diversas formas. “O brilho azul emitido por telas de celulares, tablets e computadores, principalmente à noite, pode interferir na produção de melatonina, afetando diretamente o sono e dificultando tanto seu início quanto sua qualidade. Isso pode levar a uma sensação de fadiga no dia seguinte, aumentando a propensão ao consumo de alimentos com maior valor calórico para obter energia de forma rápida”, fala o médico.

“Além disso, o uso de telas favorece o sedentarismo, pois a criança entra em um ciclo vicioso com o dispositivo, aumentando as oportunidades de lanches menos saudáveis, rápidos e práticos, que possam ser consumidos sem interromper o uso da tela”, completa.

Outro fator, não menos importante, que relaciona o uso de telas ao ganho de peso, é a influência da publicidade sobre essas crianças, de acordo com Liberato. "Com anúncios de alimentos ultraprocessados, doces e sem nenhum valor nutricional, eles acabam influenciando indiretamente a preferência da criança por esses alimentos anunciados em comparação aos alimentos saudáveis", fala.

Tentando enfrentar esse grande problema, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou algumas orientações:

- evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente;

- limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre dois e cinco anos;

- limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão, para crianças com idades entre seis e dez anos;

- nunca “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos;

- para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir;

- oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios e outras atividades que promovam a interação e o desenvolvimento saudável.

Dr. Miguel Liberato

Dr. Miguel Liberato é endocrinologista pediátrico formado em Pediatria (CRM 170830) na Universidade Federal do Espírito Santo, com especialização pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e título pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Professor do curso de Medicina da Faculdade das Américas e da pós-graduação em Endocrinologia Pediátrica no Instituto Superior de Medicina (ISMD).

Saúde tecnologia crianças adolescentes Obesidade

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