MODERNIDADE

Especialista aponta desvantagens no uso da inteligência artificial na medicina: 'Limites'

Em entrevista à CARAS Brasil, o oncologista Jorge Abissamra aponta os desafios e possibilidades no uso da inteligência artificial na medicina

Dr. Jorge Abissamra

por Dr. Jorge Abissamra

Publicado em 28/06/2024, às 14h39

A IA ocupará cada vez mais um papel relevante em nossa sociedade - Freepik

A sociedade contemporânea alcançou avanços nas mais diversas áreas do conhecimento, em consequência, na área da medicina. Doenças que dizimaram milhões de pessoas foram vencidas com o desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e tratamentos adequados. Em entrevista à CARAS Brasil, o oncologista Jorge Abissamra diz que o vírus da Covid-19 foi o último grande dilema para a medicina moderna,  também responsável por colocar a humanidade no desafio da sobrevivência coletiva e na busca acelerada pela cura.

"Em pouco mais de dois anos, quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo morreram em decorrência do novo coronavírus, porém, sem o desenvolvimento nas pesquisas que resultaram nas vacinas e demais cuidados resultantes dos avanços da medicina, certamente esse número seria muito maior", ressalta o especialista.

De acordo com ele, da máquina de Turing em 1936, ao Sistema Mycin de 1972, somados ao desenvolvimento da engenharia computacional, nanotecnologia, neurociência, matemática e outras áreas, chegamos a Inteligência Artificial (IA) como uma das mais importantes revoluções da história humana. "Nesse mesmo cenário nos deparamos com o dilema: quais os desafios e possibilidades do uso da IA na área da medicina, particularmente, no tratamento contra o câncer?", diz.

"Não há dúvidas de que a IA ocupará cada vez mais um papel relevante em nossa sociedade, há ainda muitas áreas que serão afetadas por sua chegada, daí o debate ocupar as preocupações da ética, legislações, política, economia, entre outros, entretanto, me resguardo aqui a uma reflexão específica sobre os desafios e possibilidades do uso da IA na área da medicina, em particular, no tratamento contra o câncer", emenda.

Segundo Abissamra, no tocante aos desafios, é necessário destacar a limitada contribuição da IA no tratamento e acompanhamento das doenças. "Ela é incapaz de substituir a sensibilidade do médico na identificação das condições clínicas a partir da singularidade de cada paciente, em face da observação, do toque e do acompanhamento médico no tratamento de seus pacientes", salienta.

Para o oncologista, quanto as possibilidades, a IA agrega conhecimentos de ramos distintos, os sistematiza com uma velocidade incomparável, estabelece análises de protocolos e facilita os conhecimentos disponíveis na literatura. "Entretanto, o desafio reside naquilo que é a condição elementar do profissional, o tratamento em si no consultório, a maneira como cada paciente apresenta sua forma particularmente singular de responder ao tratamento, a interpretação da toxicidade de cada paciente, condição insubstituível pela Inteligência Artificial ou qualquer outra tecnologia", informa.

No caso específico da oncologia, a ação do médico alcança um lugar que a IA não consegue acessar, garante o especialista. "A análise dos efeitos colaterais de cada medicação, o modo singular do tratamento em cada paciente, suas condições clínicas e as questões da subjetividade humana são condições elementares da atuação médica. Nestes casos, a IA apresenta seu limite", explica.

Por outro lado, de acordo com Abissamra, exames laboratoriais, como Raio X, eletrocardiograma ou tomografia podem ser ações contributivas da IA na medicina. "Entretanto, a interpretação médica e a sensibilidade necessária na oncologia e tratamento do câncer são questões em que IA não terá um papel de relevância", afirma.

"Esse debate certamente ganhará novos capítulos, porém, insisto que a IA ou qualquer outra tecnologia, por mais contributivas que sejam não serão capazes de atravessar aquilo que é próprio de cada médico, o toque em seus pacientes, a sensibilidade em observar suas subjetividades, o poder da escuta e a análise de resposta a cada tratamento. Essa é uma condição elementar no tratamento contra o câncer, uma ação propriamente humana e insubstituível", finaliza o oncologista.

Dr. Jorge Abissamra

Dr. Jorge Abissamra é médico (145307 CRM SP) pela Universidade de Santo Amaro e especialista em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e especialista em Oncologia Clínica pelo Instituto de Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho. Atualmente é coordenador da Oncologia da Hospital Santa Clara e coordenador da Oncologia da HapVida Intermedica NotreDame. Também atua como diretor da Oncologia da Amo Saúde e possui experiência na área de Clínica Médica, com ênfase em Oncologia.

medicina inteligência artificial Oncologista modernidade

Leia também

Médica defende resguardo pós-parto e revela risco de sangramento; entenda

Como funciona a mente de uma pessoa com ansiedade? Especialista explica

Canabinoides podem ajudar no tratamento de doenças reumáticas? Especialista esclarece

Jamie Foxx dá detalhes sobre colapso de saúde no ano passado

Viih Tube compara autoestima na gravidez dos filhos: 'Me sentia feia'

O sono é um anabolizante natural? Especialista desmistifica grande mistério