Sedutor compulsivo perde interesse por objeto de desejo após conquista

Por Célia Horta Publicado em 12/07/2011, às 17h48 - Atualizado às 17h50

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Não é novidade que personagens da TV e do cinema ajudam as pessoas a elaborar suas dificuldades individuais e de relacionamento. A bola da vez é André Gurgel, personagem do ator Lázaro Ramos (32) na novela Insensato Coração, da Rede Globo. André mexeu sobretudo com o público feminino, que experimentou um misto de encantamento e raiva. Suas cenas de sedução, em especial no começo da trama, lembravam um programa de vida selvagem, em que a distância entre predador e presa se reduz a cada segundo, anunciando o encontro fatal. Ele seduzia e depois “tirava o corpo fora”, para seduzir de novo e de novo.

Os conquistadores compulsivos como André não sabem agir de outro modo. Embora pareçam libertinos, experimentam uma espécie de prisão, pois só têm prazer com a sedução e, uma vez que conquistam, perdem o interesse pelo objeto desejado.

O mais famoso personagem com essa característica, Don Juan, surgiu no romance El Burlador de Sevilha, escrito pelo espanhol Tirso de Molina (1584-1648). Seu sucesso inspirou variações na literatura, na ópera, no teatro, no cinema, na TV. O lendário e eterno conquistador passou a servir também como modelo para estudiosos da personalidade e das relações amorosas. Eles descrevem como donjuanismo um padrão de comportamento de pessoas com um narcisismo patológico e que não têm interesse genuíno e duradouro pelo outro. No máximo, conseguem um breve período de investimento emocional em alguém que represente algum desafio, que teste sua competência em seduzir. A admiração provocada em outras pessoas é que recarrega sua autoestima e autoidealização. Para renovar a fonte de admiração, eles trocam de parceiro.

Um elemento complicador — o fato de a mulher ser indiferente, casada ou envolvida com um amigo — pode tornar sua caça mais interessante. Como na novela, o desafio muitas vezes se transforma em aposta entre amigos e as conquistas são apresentadas como troféus.

O desinteresse pelo sentimento alheio aponta sua incapacidade de empatia. O que o outro sente só merece atenção se servir como ferramenta para a conquista. Um verdadeiro Don Juan percebe fraquezas e desejos, sabe exatamente o que a mulher quer ouvir. Mas conquista realizada significa final próximo, pois a gratificação dura pouco e o desejo se esvai. Surge então necessidade de renovar o ciclo.

A intimidade adquirida com o tempo representa um aborrecimento e uma ameaça porque acaba com a idealização, revelando suas qualidades e também seus defeitos. Às vezes, ele até crê estar apaixonado, sente que encontrou a mulher com quem deseja viver indefinidamente. Por isso, casa-se sucessivas vezes, sempre “acreditando” no amor, mas caindo logo no transitório.

Vale lembrar que também existe o donjuanismo feminino, porém, em uma sociedade patriarcal como a nossa, essas mulheres são malvistas, não carregam a aura de bon-vivant, de garanhão. E, pelo andar da novela, os autores Gilberto Braga (65) e Ricardo Linhares (49) parecem tender a ser ainda mais generosos que a sociedade em geral com André. Talvez até lhe concedam a libertação de sua prisão interna para que possa ter prazer com a continuidade da relação amorosa. Vamos esperar para ver como prossegue a história.

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