Cérebro de quem é usuário leve de maconha também sofre danos

por Maria Alice Fontes* Publicado em 01/03/2011, às 17h19

Cérebro de quem é usuário leve de maconha também sofre danos -
Também o uso crônico leve de maconha parece afetar a área do cérebro responsável pela memória e pela execução de atividades complexas que requerem planejamento e gerenciamento das informações. Uso crônico leve, vale destacar, é fumar desde mais ou menos os 18 anos de idade pelo menos dois cigarros da droga todo dia durante vários anos. Essa é a conclusão de uma pesquisa que apresentamos como tese de doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na capital paulista. O estudo, realizado entre os anos 2005 e 2009 sob a orientação do doutor Acioly Tavares de Lacerda, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, teve a maior amostra de usuários de maconha já documentada em todo o planeta. Começou com 173 usuários de 18 a 55 anos de ambos os sexos, de todas as classes sociais, que, na época, buscaram tratamento na Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad), do Departamento de Psiquiatria da mesma universidade, para se livrar da dependência da maconha. Reunimos, então, os dependentes apenas da maconha (comprovado com teste de urina); que não apresentassem nenhuma doença psiquiátrica; e não tivessem tido traumatismo craniano nem outra doença neurológica. Também em função das alterações cerebrais que podem ocorrer nas pessoas idosas, limitamos a idade dos participantes do estudo em 55 anos. Realizamos a pesquisa sobre o funcionamento cognitivo dos usuários de maconha - eu e outros neuropsicólogos que me ajudaram - no momento em que os dependentes da droga chegavam à Uniad para começar o tratamento. Consistiu em avaliar o funcionamento neuropsicológico deles com uma série de questionários e de testes por meio dos quais medimos seu grau de inteligência e sua capacidade de atenção, de memória, de planejamento e execução de tarefas e projetos, de raciocínio, de lógica e outros itens. As conclusões mais importantes são de que o uso leve e crônico afeta a capacidade de organização e planejamento, em especial para quem começou a usar a droga ainda no início da adolescência. Comprovamos igualmente que os problemas de memória persistem mesmo depois de um período de abstinência. O mecanismo de formação das alterações é o seguinte. O cérebro humano tem receptores para a anandamida, substância produzida pelo próprio organismo que participa do controle do sono, do apetite, da memória, da capacidade de decodificar e armazenar informações, entre outros processos cerebrais. Quando uma pessoa passa a usar maconha de maneira crônica, o THC, substância presente na droga, ocupa os receptores cerebrais de anandamida e, assim, o organismo diminui sua produção. Com isso, o funcionamento neuropsicológico, como a capacidade de memorização e de planejar e gerenciar ações, entra em pane. O principal achado da pesquisa, que será publicada nos próximos meses pelo British Journal of Psychiatry (Jornal Britânico de Psiquiatria), é que, quanto mais cedo a pessoa começa a consumir a droga, maiores os danos cerebrais. Quem inicia aos 15 anos, ou mais cedo, período em que o cérebro está em desenvolvimento, sofre danos maiores ainda.
Arquivo

Leia também

Marido de Isadora Ribeiro morre após sofrer infarto no Rio de Janeiro

Drake tem cartão de crédito recusado durante live: ‘Vergonhoso’

BBB 23: Key Alves diz que nunca leu um livro na vida: "ficava nervosa"

Matheus Yurley tem casa roubada e ameaça: "Não vai passar batido"

Priscilla Alcantara abre álbum de fotos e arranca elogios: ‘Sempre mais legal’

Diretor de 'Travessia' comenta críticas sobre performance de Jade Picon: "normal"