Quem deseja viver junto precisa aceitar os gostos do companheiro

Nahman Armony Publicado em 21/06/2006, às 17h01

Nahman Armony -
Em recente programa de TV, depoimentos de mulheres na faixa dos 30 anos davam como causa de separação as diferenças de gosto entre as partes do casal: enquanto ela aprecia a paisagem bucólica das montanhas, ele prefere divertir-se na praia; ela adora festas e ele odeia. Sem muito esforço, é possível multiplicar as possibilidades de divergências como essas: gostar ou não de cinema, de ar-condicionado, de visitas. Preferências que, na verdade, não são fundamentais para a vida de ninguém. O apaixonamento passa por cima de todos os gostos. É um impulso avassalador, que leva tudo de roldão, na ânsia de abraçar e se fundir com a outra pessoa. Mas a paixão tem vida limitada. Se duas pessoas querem criar uma história comum, precisam se amar. Amor é carinho, companheirismo, ternura, confiança mútua, divisão de tarefas, satisfação de estar junto, mútuo amparo e outras coisas desse jaez. O sexo da paixão explode na ânsia do entredevoramento; o sexo do amor surge do carinho, da ternura, do sentimento de gratidão. O ideal é que a paixão e o amor possam caminhar juntos. Sendo a paixão sentimento mais fugaz, a base de uma união estável só poderá ser o amor. Para que um e outro sentimento convivam é preciso que a linha sinuosa do amor seja periodicamente invadida por picos de paixão. Céu claro do amor e céu tempestuoso da paixão. Choque cósmico de estrelas espalhando brilhos fascinantes nos corações e luz mansa das auroras e vésperas enchendo as almas de calmas belezas. Se a paixão é irresistível, o amor está sujeito a temperaturas e temperamentos. No entanto, pesquisas têm demonstrado que, apesar dos pesares, casados vivem mais que solteiros; as uniões estáveis permitem um maior relaxamento na presença de um parceiro amoroso, íntimo e confiável, facilitando a recuperação dos estresses da vida. As mulheres que deram seus depoimentos no programa citado são realizadas social e financeiramente e podem escolher entre viver sozinhas ou ter companheiro. Mas o que as leva a decidir pela primeira opção? Por que dispensaram o companheiro por uma banal questão de gosto? Por que não tentaram resolver as divergências, ora satisfazendo o prazer de um, ora o do outro, ou, ainda, por que não tentaram conviver com elas, admitindo-se a possibilidade de que um fosse ao futebol enquanto o outro iria ao teatro? Tais iniciativas poderiam resolver a questão sem comprometer o básico da convivência. Mas não foi o que ocorreu. Por quê? A pergunta merece pelo menos duas respostas. Parece-me que por trás da teimosia em não abrir mão de um gosto estava a necessidade de afirmação da individualidade. Ceder ao desejo do outro seria como abdicar de si mesmo, da essência da própria personalidade, tornando a pessoa um capacho, um nada. A questão deixa de ser aquilo de que se gosta ou não e passa a ser a conservação ou não da própria essência pessoal. A segunda resposta está ligada à primeira. Estamos mergulhados em uma cultura individualista. O modo de criação dos filhos da geração que chega aos 30 anos foi o de não opor obstáculos aos seus desejos. As crianças desde cedo se acostumaram a impor suas vontades aos pais. E quando adultos não conseguem conviver com desejos que limitem os seus. É verdade que alguns procuram vencer o individualismo e lutam para aceitar as restrições às suas vontades. Alguns são bem-sucedidos enquanto outros se privam da delícia da íntima convivência amorosa. Não se trata aqui de afirmar que um modo de vida é melhor que o outro. Enquanto Tom Jobim (1927-1994) nos diz que "é impossível ser feliz sozinho", outros dizem que amor é ilusão e só traz sofrimento. Cada um escolhe o caminho que quer e pode. Mas a maioria dos poetas canta o amor e lamenta sua perda.
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