Quando a convivência é longa, a separação se torna mais sofrida

por <b>Nahman Armony</b>* Publicado em 29/09/2009, às 02h19 - Atualizado em 30/09/2009, às 11h45

Quando a convivência é longa, a separação se torna mais sofrida -
A separação de amantes que mantêm em suas lareiras internas brasas de amor acesas, mas que por algum motivo, como concepções de vida discrepantes, não podem ficar juntos, é um ato dilacerante. Se a convivência foi longa, as dificuldades são ainda maiores, pois os tempos de entendimento e felicidade mantêm, contra todas as evidências, a esperança da volta daquelas alegrias. Além disso, uma longa convivência entrelaça a vida psíquica dos parceiros de modo quase inextricável, tornando a separação um ato de despedaçamento. Ninguém melhor do que Chico Buarque (65) exprimiu a dor da separação. Na canção Pedaço de Mim, diz, na terceira estrofe: "Oh pedaço de mim/ Oh metade arrancada de mim...". E na estrofe final: "Oh pedaço de mim/ Oh metade adorada de mim..." Isso faz sentido. O amante deposita no amado suas expectativas e seus sonhos; também estabelece com ele uma forma de funcionamento que se torna parte da valorização de sua imagem e, portanto, de sua autoestima. O amado é adorado. Podemos conjeturar que o abalo na função de sustentação da autoestima do parceiro é um componente importante nas dificuldades do casal. O processo de deterioração da relação leva algum tempo. Nesse período, tenta-se resgatar as coisas boas, o que poderá revitalizar a união, desde que a questão da valorização também seja contemplada. Se tal não ocorre, a relação despenca por um plano inclinado até se esborrachar de vez na amargura. Quando tudo está perdido, é hora de dar um jeito na figura internalizada do amado. Podemos dizer que essa figura interna, num plano mais profundo, se desdobra em duas: uma ligada à vivência de felicidade e outra, à de sofrimento; uma favorecendo a valorização e outra, a desvalorização; uma direcionando o foco para os aspectos positivos e outra, para os negativos. É do senso comum a ideia de que a desvalorização do amado facilita a separação. Isso pode ser verdade para alguns, mas não para todos. Para explicar melhor a questão farei uma incursão à infância. De início o bebê percebe a mãe como duas, com existências independentes: uma que gratifica e outra que frustra. Isso preenche sua necessidade de contar com uma figura bondosa na qual poderá depositar uma confiança ilimitada. Com o crescimento, ele percebe que se trata de uma só mãe, com dois aspectos: um positivo e um negativo. Para poder suportar essa realidade, terá sido preciso que a experiência de mãe-boa, no estágio anterior, tenha superado a experiência de mãe-má. Do contrário, a ansiedade e a depressão prejudicarão o seu desenvolvimento. Com essa experiência em mente, voltemos à separação de adultos: se a pessoa focaliza só os aspectos negativos do parceiro, terá maior dificuldade de se livrar de sua imagem interna, pois esta será mantida, na esperança de que finalmente corrija a imagem má que faz dele, aliviando-a da desvalorização e libertando-a para seguir sua vida. Por outro lado, a valorização dos aspectos positivos do parceiro (sem negar os negativos) manterá uma imagem interna benigna de aceitação e amor, possibilitando que a separação seja vista como uma incompatibilidade e não como uma falha no comportamento ou um defeito do ser.
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