...Este é um dos motivos que muitas vezes levam paulistas, cariocas, nordestinos, mineiros e gaúchos a fazer paródia, do grego paroidía, imitação engraçada, uns dos outros.
Alônimo: de
alo e
ônimo, dos compostos gregos
allos, outro, e
ónoma, nome, significando, portanto, outro nome. É semelhante a pseudônimo, do grego
pseudónomos, que tinha sentido fortemente pejorativo (
pseudés é mentiroso, enganador), mas acabou por tornarse recurso lícito, adotado por escritores e artistas. O pensador católico
Alceu de Amoroso Lima (1893-1993), por exemplo, assinava Tristão de Ataíde. Os atores
Paulo Gracindo (1911-1995) e
Lima Duarte (77) e as atrizes
Fernanda Montenegro (78) e
Tônia Carrero (85) também adotaram nomes diferentes dos de batismo, que eram, respectivamente: Pelópidas de Guimarães Brandão Gracindo, Ariclenes Venâncio Martins, Arlette Pinheiro Esteves da Silva e Maria Antonieta Portocarrero Thedim. Já os alônimos de
Demi Moore (45) e de
Elton John (60) são Demetria Gene Guynes e Reginald Kenneth Dwigth. Algumas personalidades omitem um dos nomes.
Hillary Clinton (60), por ter adotado o nome do marido,
Bill Clinton (61), excluiu o prenome Diane e o sobrenome do pai, Rodham. Só que o nome completo de seu marido também é outro: William Jefferson Blyte III. Ela adotou o apelido do marido como sobrenome. A ministra
Marta Suplicy (62), cujo nome de solteira é Marta Teresa Smith de Vasconcelos, continuou com o sobrenome do ex-marido, o senador
Eduardo Matarazzo Suplicy (66), mesmo depois de ter se casado com
Luís Favre (58), pseudônimo de Felipe Belisário Wermus.
Langor: do latim
languor, declinação de
languor, langor, cansaço, preguiça, calmaria. A origem remota é uma raiz indoeuropéia, (s)
lang, distender, presente no português deixar, do latim
laxare, estender, permitir, deixar. Langor aparece no conto
Betsy, de Histórias de Amor, de
Rubem Fonseca (82):
"Então ela estendeu o corpo, parecendo se espreguiçar, e virou a cabeça para trás, num gesto cheio de langor. Depois esticou o corpo ainda mais e suspirou, uma exalação forte. O homem pensou que Betsy havia morrido. Mas alguns segundos depois ela emitiu novo suspiro. Horrorizado com sua meticulosa atenção o homem contou, um a um, todos os suspiros de Betsy".
Paródia: do grego
paroidía, paródia, imitação engraçada, pelo latim, paródia, com o significado de arremedo, de imitação burlesca, o que se dá principalmente na reprodução, com alterações cômicas, de textos literários. O étimo grego indica, pela formação composta da palavra -
pará, ao lado de;
oidé, ode, versos para serem cantados -, que a paródia remete a um texto anterior, de todos conhecido. O cronista
José Simão (63), na
Folha de S.Paulo de 4 de outubro, fez sua paródia a partir de um erro de ortografia cometido por funcionário público, que mandara fazer um carimbo em que estava escrito "Congreço":
"O Congreço é um suceço! Tô paçado! O Congreço tá falando lulês. Desaprenda português no Congreço! Rarará! Assaltaram a gramática. Ops, açaltaram tudo! Herrar é umano. Haja çaúde! Reforma hortográfica. É problema de QI: Quanta Ignorância."
Regionalismo: de regional, do latim
regionale, mais o sufixo "ismo". O étimo está presente em região, do latim
regione, local conhecido. Regional é aquilo que se refere a uma região, que é próprio dela, como o modo dos mineiros interioranos resumirem a pronúncia de palavras e expressões. O professor
Mário Eduardo Viaro (39), autor de
Por Trás das Palavras: Manual de Etimologia do Português, deu exemplos dessas reduções na revista
Língua: "oncotô" significa "onde que eu estou"; "lidileite" é litro de leite; "mastumate", massa de tomate; "denduforno", dentro do forno; "ãnsdionte", antes de ontem; "badapia", debaixo da pia; "tirdeguerra", tiro de guerra. Também
Juó Bananére (1892-1933), pseudônimo do escritor Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, aproveitou a fala típica dos imigrantes italianos e seus descendentes paulistas ao parodiar textos de grandes escritores, entre os quais o poema
Meus Oito Anos, de
Casimiro de Abreu (1839-1860), que ele mudou para
Os Meus Otto Anno: "O chi sodades che io tegno/ D'aquillo gustoso tempigno,/ C'io stava o tempo intirigno/ Brincando c'oas mulecada./ Che brutta insgugliambaçó,/ Che troça, che bringadêra,/ Imbaxo das bananêra,/ Na sombra dus bambuzá". Os versos que parodiou são: "Oh! Que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida,/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores,/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras,/ Debaixo dos laranjais!"