da soma do latim non, não, e natam, acusativo de nata, nada. Já o título do primeiro livro do escritor, Sagarana, talvez tenha origem no alemão sagen, dizer, não em sagaz, do latim sagace.
Atlético: do latim
athleticus, atlético, relativo aos atletas, do grego
athletikós, isto é, aquele que luta, que combate. O esporte é metáfora da guerra, é a guerra feita por meios pacíficos, donde seu caráter de elemento de união e solidariedade entre as nações, mediante competições baseadas em regras claras, iguais para todos e de todos conhecidas. Mas, antes do triunfo mundial de atleta como sinônimo de esportista, atlético era aplicado a outros tipos de lutador. Nos tempos monárquicos, era aquele que lutava contra o Império e almejava a República. Os clubes com o adjetivo atlético na designação, como Atlético Paranaense e Atlético Mineiro, receberam tal denominação quando o futebol ainda não era ali o esporte dominante, assim como, por privilegiarem originalmente o remo, conhecidos clubes trazem na denominação a palavra "regatas", caso do Clube de Regatas Flamengo.
Bacamarte: provavelmente do francês
bragamas, alteração do italiano
bergamasca, dança e música de baile originárias da cidade de Bergamo, na Itália. São obscuras as razões que levaram a palavra a designar certo tipo de espada, faca ou cutelo e mais tarde arma de fogo. Pode ter havido mistura com o holandês
breecmes, trinchante, ligado ao verbo
braecken, partir, e ao alemão
brechen, quebrar. Até o século XVIII, bacamarte era em português a espada de lâmina grossa. Depois passou a designar preferencialmente arma de fogo, a cravina curta, de boca larga. Isso foi possível pela perda do "r", pois, no século XVI, "
bracamarte" era espada curta e larga. No Brasil do século XIX, bacamarte ganhou novo significado e "definia o cavalo de má qualidade, normalmente derrotado nas provas", segundo nos informa o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Victor Andrade de Melo (36) em seu
Dicionário do Esporte no Brasil: do Século XIX ao Início do Século XX. Curiosamente, craque, aplicado ao cavalo vencedor, passou para o futebol, indicando o jogador excepcional, no entanto bacamarte, seu antônimo, não. O jogador ruim de bola é chamado cabeça-de-bagre ou perna-de-pau.
Nonada: provavelmente da soma de
no, redução do latim
non, não, e nada, de
natam, acusativo de nata, nada, que passou a designar ninharia, coisa insignificante, pelo cruzamento de duas expressões latinas: "
homines nati non fecerunt" (homens nascidos não fizeram) e
"rem natam non fecit"(não fiz coisa nascida, isto é, não fiz nada). No espanhol, no ano de 1074, já aparece registrado "nada"com o significado de "coisa nenhuma", por processo de negação de que o assunto em pauta, em latim
res nata, coisa nascida, não tinha importância. Com este sentido, o primeiro registro escrito de "nonada" dá-se em 1562, nos
Sermões, de
Diogo de Paiva Andrade (1528-1575). É a primeira palavra de
Grande Sertão: Veredas, obra-prima de
João Guimarães Rosa (1908-1967), cujo centenário do nascimento celebramos em 2008:
"- Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade". Quem narra é Riobaldo, jagunço letrado, aposentado das lides do cangaço. Nascido em Cordisburgo, cidade do coração - do latim
cordis, genitivo de
cor, coração, mais o germânico
burgs, pelo latim
burgus, povoado -, o escritor adiou por quatro anos a posse na Academia Brasileira de Letras, pois tinha presságio de que morreria, temendo emoções que nele eram sempre exageradas. De fato, faleceu três dias depois, em 19 de novembro de 1967. Era casado com
Aracy Moebius de Carvalho (100), a única brasileira que tem o nome inscrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel, por trabalho, apoiado pelo marido, então cônsul adjunto em Hamburgo, de providenciar vistos de entrada no Brasil para judeus perseguidos pelo nazismo.
Sagaz: do latim
sagace, declinação de
sagax, sagaz, perspicaz, inteligente, esperto, astuto, veloz, que não se deixa enganar. Passou a designar aquele que é capaz de vislumbrar coisas futuras, donde sagus, palavra latina aplicada ao faro do cão, servir de base à saga, feiticeira, e ao verbo
sagire, ter sentidos apurados. O étimo está presente em presságio,
praesagium, conhecimento antecipado. Já saga, no sentido de narrativas em prosa, históricas ou lendárias, redigidas sobretudo na Islândia, nos séculos XIII e XIV, veio do alemão sagen, dizer, cujo étimo está presente também no verbo inglês to say, dizer, do latim dicere, e no título do livro de estréia de João Guimarães Rosa,
Sagarana, de 1946.