tem pouco trabalho, o que não é o caso de Sérgio Cezar, criador da minuciosa miniatura em papelão, do grego pápyrus, papiro, da favela na abertura da novela Duas Caras, da Rede Globo.
Bujão: do francês
bouchon, bucha, tampão, do antigo francês bouche, boca, presente na expressão
Faire la petite bouche, fazer-se de rogado, popularmente conhecida no Brasil como
"fazer beicinho", nascida da observação das caras e bocas que fazem as crianças ao recusar alguma coisa. A parte foi entretanto tomada pelo todo, e bujão, a tampa do botijão, especialmente o de gás de cozinha, aumentativo de botija, do castelhano
botija, botija, jarra, radicado no latim vulgar
butticula, tonelzinho, diminutivo de
buttis, tonel, odre, substituiu no português do cotidiano, como já ocorrera no latim, a designação clássica. E bujão, de variante ou reserva de botijão, tornou-se palavra titular para designar o recipiente, em geral de metal, para entrega do gás em domicílio.
Cabareteiro: do francês
cabaretier, de cabaré, igualmente do francês
cabaret, bar, botequim, depois casa de espetáculos onde os clientes podem beber, comer, dançar, ouvir música, divertir-se e que, com o acréscimo da prestação de serviços sexuais, se tornou parecida com o bordel. Cabareteiro passou a designar o dono ou o empregado do cabaré, mas especialmente aquele que anuncia as atrações. A palavra aparece neste trecho de
Amigos e Inimigos do Brasil, de autoria do crítico literário
Agripino Grieco (1888-1973):
"Cidadãos internacionais, que vacilam entre o pirata levantino e o cabareteiro de Budapeste."
Levantino: de levante, do italiano levante, o outro nome do oriente, o lugar onde o Sol se levanta, nascido do verbo latino levare, levantar, alçar-se, segurar, erguer. Designa o que diz respeito aos países da região do Mediterrâneo oriental, como a Turquia, a Síria e o Egito, acrescidos da Ásia Menor.
Rodolfo Felipe Neder (72), editor do site Millôr Online, em sua coluna na revista eletrônica Digestivo Cultural, referiu-se a um bom lugar para comer, na região dos Jardins, na capital paulista, um
"restaurante de cardápio levantino (Libanês e Sírio) que está estrategicamente localizado".
Maldizer: do latim
maldicere, maldizer, dizer mal de alguém, amaldiçoar. Na língua portuguesa, o verbo tornou-se também substantivo, sendo sinônimo de maledicência. Ao lado das de escárnio, as cantigas de maldizer foram um dos primeiros gêneros literários a florescer, ainda no século XII, exalando inconformidades diversas, sobretudo contra poderosos, amadas ou ex-amadas, pois seus autores eram homens. Nove séculos depois, mulheres cariocas estão criando espaços na internet destinados a desabafos semelhantes. Um bom exemplo do conteúdo está nesta confidência, tornada pública, da jornalista
Rozane Monteiro (41), que, apenas 72 horas depois de desfazer um romance, publicou num site o que segue:
"O canalhinha enrustido que me cruzou a biografia 'NÃO foi a saudade que eu gosto de ter', 'NÃO foi o amor mais amigo que me apareceu', muito menos foi 'a maldade que só me fez bem'". A paródia é de conhecida canção de
Roberto Carlos (66), intitulada Outra Vez, cuja estrofe final diz:
"Você foi toda a felicidade,/ Você foi a maldade que só me fez bem,/ Você foi o melhor dos meus planos,/ E o pior dos enganos que eu pude fazer,/ Das lembranças que eu trago na vida,/ Você é a saudade que eu gosto de ter/ Só assim sinto você bem perto de mim outra vez".
Papelão: do grego
pápyros, papiro, pelo latim
papyrus, papiro e dali ao catalão
paper, papel, de onde chegou ao português papel. O papiro, erva nativa das margens alagadiças do rio Nilo, na África, tem longas hastes das quais se obtinha o papiro, material usado como suporte para a escrita, antes da invenção do papel. Papelão designa o papel grosso, de espessura superior a 0,5 milímetro, utilizado na fabricação de caixas, capas de livros, pastas e embalagens. No sentido metafórico, é sinônimo de fiasco, gafe.
Fausto Barreira (73) usou a palavra papelão para designar o comportamento do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (62) no seguinte texto:
"Convidado de luxo do G-8, isto é, aquele que não decide nem participa das decisões dos grandes, Lula fez um papelão na Alemanha ao não reagir às chantagens do presidente mundial da siderúrgica ThyssenKrupp, que, sem nenhuma cerimônia, exigiu do governo brasileiro que acabasse com a greve dos funcionários do Ibama para que as licenças ambientais para a construção de hidrelétricas no rio Madeira fossem agilizadas". No sentido factual, trabalha com papelão o artista
Sérgio Cezar (50), filho de porteiro e empregada doméstica, que trabalha com sucata desde menino. Foi ele quem fez, com papel reciclado, catado no lixo, a favela apresentada na abertura da novela
Duas Caras. A obra foi realizada em 28 dias e teve a participação de mais nove pessoas.