Litoral, na ordem do dia em tempos estivais, vem do termo...

...latino litorale, derivação de littus, cujo significado é margem. Outra palavra, atualmente muito usada em especial por políticos, é mudança, do latim mutare. Mas nada muda, exceto os titulares dos cargos.

Deonísio da Silva Publicado em 07/02/2006, às 11h37

Deonísio da Silva -
Brado: de bradar, do latim blaterare, gritar, que no latim vulgar se tornou deblaterare e no português blatar, com a variante bradar, tendo havido metátese, isto é, troca de fonemas no interior do vocábulo: blatar para bradar. Aparece na última estrofe do Hino à Proclamação da República, letra de José Joaquim de Medeiros e Albuquerque (1867-1934), antes da última vez em que o estribilho é cantado: "Do Ipiranga é preciso que o brado/ Seja um grito soberbo de fé!/ O Brasil já surgiu libertado/ Sobre as púrpuras régias de pé." Na estrofe anterior, num ufanismo que falsifica a história, proclama:"Nós nem cremos que escravos outrora/ Tenha havido em tão nobre país.../ Hoje o rubro lampejo da aurora/ Acha irmãos, não tiranos hostis./ Somos todos iguais! Ao futuro/ Saberemos, unidos, levar/ Nosso augusto estandarte que, puro,/ Brilha, avante, da Pátria no altar!" Equívoco: do latim aequivocus, confuso, ambíguo, que tem mais de um significado. No latim, o radical voc, presente em vocus, está na raiz de vocare, chamar, e vox, voz; já qu e qü indicam equivalência, igualdade. Equívoco, por conter esses dois ou mais sentidos, designa confusão, engano, ambigüidade. Está presente no título do livro de João Uchoa Cavalcanti Netto (71), Contos Bandidos: o Equívoco (Editora Rio, 166 páginas), capa e vinhetas de Millôr Fernandes (81). O equívoco começa na ilustração da capa: a figura do autor aparece atrás de grades, e também sugere que o único livre é o escritor - de fora da prisão contempla com olhar maroto os leitores. No capítulo 14, depois de comprovar diversos crimes em um bordel disfarçado de hotel, um soldado é condenado a oitenta meses de prisão. Antes, manda fotografar o gerente ao lado de clientes, entre os quais um senador e um banqueiro. O soldado equivocou-se ao pensar que "todos são iguais perante a lei, artigo cento e cinqüenta, parágrafo primeiro, constituição federal", sem atentar para o que lhe dissera o sargento: "Gente fina demais, soldado, hotel de luxo." Comentando o livro, escreveu Carlos Eduardo Novaes que o autor "combinou suas experiências passadas como escrivão da Vara Criminal e juiz de Direito com sua sensibilidade de 'fotógrafo literário' para retratar com absoluto domínio das palavras um tenebroso mural a do mundo e do submundo do judiciário, da polícia, dos causídicos, dos presídios." E diz que "o juiz de Direito, no Ceará, que matou um vigilante, com um tiro na nuca, e foi aposentado com um salário de R$ 15 mil por mês, poderia fazer parte dos 32 contos que compõem O Equívoco." O primeiro registro de equívoco em nossa língua deu-se em 1599, em ata de serviços diplomáticos portugueses. Litoral: do latim litorale, declinação de litoralis, praia, costa, derivado de litus, às vezes escrito littus, borda, margem. Significa região banhada pelo mar. A palavra chegou ao português no século XIX e era utilizada como oposição a hinterlândia, interior. Um dos primeiros registros está no livro O Segredo do Abade, de Arnaldo de Sousa Dantas da Gama (1828-1869), advogado português, que trocou o Direito pelo Jornalismo e pela Literatura, sem que se possa dizer que tenha feito um bom negócio. Há no Rio de Janeiro uma rádio com esse nome, em freqüência modulada, com boa programação musical e noticiosos apresentados, entre outros, pelo jornalista Hermano Henning (59). Em recente aferição, constatou-se que 56% dos ouvintes da Rádio Litoral têm curso superior. Mudança: de mudar, do latim mutare, e o sufixo ança. Tem aparecido em todas as eleições do mundo porque há unanimidade dos candidatos em reconhecer que as coisas não vão nada bem e mudanças são necessárias. Mas o que muda, quase sempre, são os titulares dos cargos. Permanece a situação anterior, tão criticada. O padre Antônio Vieira (1608-1697), orador sacro, missionário e diplomata português, tratou do tema no Sermão da Sexagésima, no século XVII: "Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes; os grandes desprezando as riquezase vaidades do mundo; os reis renunciando os cetros e as coroas; as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? Nada disto!" Pavilhão: do francês pavillon, pavilhão, paiol, abrigo, quiosque, cortina. Representa, em sentido figurado, algum símbolo de nacionalidade, de que é exemplo a penúltima estrofe do Hino à Bandeira, cuja letra é de autoria do poeta Olavo Bilac: "Sobre a imensa nação brasileira,/ Nos momentos de festa ou de dor,/ Paira sempre sagrada bandeira,/ Pavilhão da justiça e do amor!" Do mesmo hino, o jornalista e escritor Paulo Francis (1930-1997) tirou o título de um livro de memórias, O Afeto que se Encerra, aproveitando a ambigüidade do verbo encerrar, que significa guardar e concluir: "Recebe o afeto que se encerra,/ Em nosso peito juvenil,/ Querido símbolo da terra,/ Da amada terra do Brasil!"
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