Individualismo moderno deixa a mulher menos disposta ao sexo

Paulo Sternick Publicado em 08/08/2008, às 15h58

Paulo Sternick -
Depois da pesquisa que mostrou que as inglesas são mais interessadas em shoppings do que em sexo, chegou a vez - pasmem! - das cariocas. Convidadas a listar atividades que definem a qualidade de vida, elas valorizaram mais as horas de sono e a malhação do que o momento do amor. Foi o que revelou uma enquete sobre o comportamento sexual dos brasileiros realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), tendo à frente a médica psiquiatra e psicoterapeuta Carmita Abdo (58). Contraditoriamente, as mais de 1 000 entrevistadas admitiram manter em média 2,3 relações sexuais por semana, embora desejassem 4,5. Ainda que a indagação inicial tenha influenciado a resposta que colocou o sexo em segundo plano - afinal, focou a qualidade de vida, e não o prazer ou a emoção -, os resultados são curiosos e destacam uma realidade atual: o aumento do interesse das pessoas em si mesmas, no trabalho, na ginástica, no sono, na estética, na alimentação e no bem-estar. Inevitavelmente, tais desfrutes rivalizam não só com a hora do amor, mas com a sociabilidade de maneira geral. Alguns casais relatam um certo desencontro de desejos, sofrendo frustrações que podem pôr em risco a relação. Na verdade, este é um ponto sensível que deve ser observado desde o início da relação. Quer dizer, se os pares combinam, qual é o valor que cada um concede à intimidade e se a disposição de acompanhar o ritmo do outro é semelhante. Claro que existem outras afinidades e também estimulantes diferenças a serem acolhidas. O problema é que na atualidade as pessoas são bombardeadas por uma crescente oferta de estímulos, que competem pela captura da atenção e do desejo. Claro que malhar, vestirse bem, realizar-se profissionalmente gratifica, mas também pode distrair do foco em manter um vínculo. O egocentrismo enfraquece não só o amor, mas até mesmo a amizade, o espírito de cooperação e a solidariedade. É provável que, com a maior liberdade, o sexo tenha perdido um pouco daquela obsessão de quando era mais reprimido. De fato, tudo o que é muito ofertado, ou abundante, perde valor. E no mundo de hoje, onde o imaginário da sexualidade é exagerado e banalizado, é natural que as mulheres preocupadas com a qualidade de vida prefiram uma intimidade seletiva, na qual sejam consideradas para além das qualidades físicas, sem ficar submetidas ao egoísmo masculino. Isto se aplica não apenas a quem está na balada, ou namorando, mas também a quem está casado, pois é exatamente no casamento que se deve ter o cuidado de não confundir as licenças da intimidade, do cotidiano, com o descaso pela qualidade erótica e afetiva do vínculo, o que pode desestimular a sexualidade e afastar o casal. O ponto é que o amor consistente encontra demasiados rivais no ritmo hipermoderno. A mesma concorrência sofrem o pensamento crítico, o vínculo de conhecimento (como a psicanálise), a atenção aos pais, avós e filhos, a leitura e o estudo. Tudo vem sendo tragado por uma corrente de pressa, objetividade e superficialismo. Estarão as pessoas se transformando em marionetes de um tempo alucinante? O desafio do casal moderno é seguir antenado e instigado pelas mudanças, sem deixar, porém, de proteger seu amor e seus valores humanistas do assédio de tantos estímulos que, na verdade, não somos capazes de assimilar sem sofrer indigestão mental.
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