...No passado, moços e moças se olhavam muito durante o footing antes de saber seus nomes e, nessa hora, às vezes tinham surpresas, pois certos pais gostam de nomear, do latim nominare, os filhos de maneira curiosa.
Desgraça: de graça, do latim
gratia, graça, dom, mercê, benefício, favor, antecedido de "des", prefixo de negação. Entretranto, desgraça não é falta de graça, timidez ou embaraço, mas, sim, antônimo de graça, sinônimo de azar ou tragédia, conforme o caso. Os americanos criaram a Lei de Murphy, indivíduo que ninguém sabe quem foi ou é, para sintetizar uma série de azares e desgraças. Entre eles, os seguintes:
"Se alguma coisa pode dar errado, dará";
"Tudo irá mais longe do que você pensa que vai";
"Nada é tão simples quanto parece";
"Tudo que começa bem, acaba mal";
"Tudo que começa mal, acaba pior";
"No exame final, a prova será sobre matéria explicada na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu";
"É impossível criar coisas à prova de erros - os idiotas são muito inventivos";
"Quando seu vôo atrasa, a sua conexão sai no horário". Nos últimos meses muitos brasileiros puderam constatar a veracidade deste último item.
Elisabetano: do nome da rainha
Elizabeth I (1533- 1603), a rainha virgem, o vocábulo refere-se ao seu reinado, de extraordinárias realizações na prosa, na poesia, na arquitetura, na pesquisa, nas artes e em diversas outras áreas. Foram 45 anos, de 1558 a 1603, durante os quais brilharam o dramaturgo
William Shakespeare (1564-1616), os poetas
Edmund Spenser (1552/53-1599) e
Christopher Marlowe (?-1593), o filósofo
Francis Bacon (1561-1626) e
Francis Drake (1540/43- 1596), primeiro navegador inglês a dar a volta ao mundo, entre outros. A rainha tinha aguçada sensibilidade artística e deu grande atenção às manifestações culturais. Mas foi ela também quem confinou sua prima
Mary Queen of Scots (1542- 1587), rainha da Escócia, e seus seguidores. Era filha do rei
Henrique VIII (1491-1547) e de sua segunda esposa,
Ana Bolena (1507?-1536), assassinada pelo marido, sob a acusação de bruxaria e adultério com o irmão mais velho do rei, quando a filha tinha apenas 3 anos. Numa fala ao Parlamento, Elizabeth disse:
"Vocês podem ter tido e poderão ter de novo muitos príncipes mais poderosos e mais sábios neste trono, mas vocês jamais tiveram ou terão alguém mais cuidadoso e mais amado". Ao contrário da prodigalidade dos antecessores e sucessores na concessão de honrarias, ela distribuiu apenas oito títulos de nobreza: um de conde e sete de barão. Diminuiu também o número de conselheiros, de 39 para 19, e mais tarde para 14. O Estado de Virgínia, nos Estados Unidos, tem este nome em sua homenagem. A atriz
Judi Dench (72) ganhou o Prêmio Oscar de melhor atriz no papel de Elizabeth no filme
Shakespeare Apaixonado, do diretor inglês
John Madden (58), e a emissora inglesa BBC fez uma requintada série sobre ela, marcada pelo esmero na reconstituição histórica e pela fidelidade dos diálogos.
Footing: do inglês
footing, ir a pé, de
foot, pé. A palavra, que ainda não sofreu aportuguesamento, entrou para as expressões brasileiras para designar passeio a pé, com o fim de espairecer ou fazer um exercício físico moderado, constituído apenas do caminhar, sem esforço. Antigamente, nas pequenas cidades, o
footing tinha um objetivo adicional ou talvez mesmo preferencial: o flerte. As moças saíam a caminhar e eram observadas a distância ou de perto por pretendentes a namorá-las. Por metonímia, a palavra passou a denominar também o lugar onde eram feitas essas caminhadas. O costume foi muito bem sintetizado pelo escritor
Moacir Japiassu (65) no livro
Carta a Uma Paixão Definitiva (Editora Nova Alexandria):
"Havia footing nas pracinhas, as meninas passeavam de braços dados e os meninos olhavam. Risadas, pequenas sem-vergonhices. Passavam-se semanas até que o rapaz dirigisse o primeiro olá à sua eleita. Haroldo demorou oito meses para abordar Julita Cruz. Na noite tão angustiadamente escolhida e esperada, a desejada moderou o passo e o apaixonado disse-lhe, gaguejante: 'Tás passeando?'(...) Talvez em cinco, dez anos, estivessem casados".
Nomear: do latim
nominare, dar um nome, designar. Embora tenha se consolidado o sentido de indicar para exercer algum cargo ou função, nomear quer dizer dar nome. Todos nós fomos nomeados ao nascer ou pouco tempo depois, constando esses nomes nos registros civis e religiosos. Os nomes da cultura luso-brasileira têm muitas curiosidades. Pesquisa realizada em toda a rede de cartórios do país encontrou
Ava Gina - homenagem à atriz americana Ava Gardner (1922-1990) e à italiana
Gina Lolobrigida (80) -, Maria-Você-Me-Mata e Madeinusa. Este último foi dado à filha por uma passadeira de roupas, que o justificou desta maneira:
"Eu li numa etiqueta e achei bonito". Foram ainda encontrados nomes inspirados em medicamentos, como Magnésia Bisurada e Aspirina.