Etimologia

por Deonísio da Silva* Publicado em 04/04/2011, às 19h23 - Atualizado em 05/04/2011, às 20h01

Etimologia -
Batizado: de batizar, do grego baptizo, mergulhar, pelo latim eclesiástico baptizare, imergir. A festa do batizado torna público o nome da criança. O escritor paraibano Ariano Suassuana (84) recorda episódio em que um sujeito quis dar nome de Raposa à filha recém-nascida e ouviu o padre negar o batizado porque se recusava a dar nome de bicho à menina. O pároco ficou sem resposta diante do contra-argumento do pai da criança: "Mas quantos papas se chamaram Leão? Por que Leão pode e Raposa não?". Canha: do espanhol caña, designando a cana-de-açúcar e, por extensão, a cachaça. A palavra veio para os pampas argentino e uruguaio e dali para o do Rio Grande do Sul, espalhando-se para todo o Brasil. Há um ditado popular que diz "mais triste do que velório sem cachaça". E são dos compositores e cantores gaúchos César Oliveira (40) e Rogério Melo (34) estes versos de O Velório do Juca Torto: "Se agora me encontro aqui, é pra te dizer por inteiro,/ Pode ir-te embora, parceiro,/ que a viúva eu cuido pra ti". Antes introduzem o tema assim: "Tomei um trago de canha meio sem jeito,/ É que tenho este defeito de gostar de coisa triste,/ E quem resiste a um velório com cachaça/ Com rapadura, bolacha e umas 'veia' pra dizer um chiste". Ferrar: do latim ferrare, pôr ferro, do latim ferrum. O ferro é um metal tão importante que deu nome a uma das idades da História, a Idade do Ferro, que superou a Idade do Bronze. Foram tribos indo-europeias que o trouxeram para o Ocidente a partir de 1200 a.C., quando os celtas emigraram. Utilizado na fabricação de ferramentas, teve importância decisiva na confecção de facas e espadas. Também os cavalos receberam ferro nas patas. O ofício de ferreiro tornou-se arte militar. Por exemplo: o frâncico marhskalk, criado que cuidava dos cavalos, tornou-se marechal no francês e veio a designar o fabricante de ferraduras para os animais. Com o tempo, era tão importante cuidar de bem ferrar os cavalos que esse artesão, entrando para o Exército, tornou-se oficial da cavalaria. Dele dependia a preparação das batalhas, incluindo o aparelhamento dos cavalos. Logo era o maior posto do Exército brasileiro, que extinguiu essa patente em 1967. Maior: da raiz indo-europeia mag, grande, que deu magnus em latim, em domínio conexo com magis, advérbio, e major, maior, que transformou o jota em "i" ao passar para o português como grau aumentativo de grande. Entretanto, é correto em Portugal dizer mais grande, em vez de maior, e mais pequeno, em vez de menor. Major, com a manutenção do jota, passou a designar na hierarquia do Exército o posto logo acima de capitão e imediatamente abaixo de tenente-coronel. Com a instituição da Aeronáutica, acrescentou-se aviador aos postos, criando-se, por conseguinte, as patentes de major-aviador e tenente-coronel-aviador. A história dessas designações militares é repleta de complexas sutilezas, tendo havido inversão da importância ao longo da História. Trilíngue: do latim trilingue, adjetivo aplicado a quem fala três línguas. É o caso dos brasileiros cultos, com formação escolar acima da média, ou daqueles que, pelo contexto, vivendo em zonas fronteiriças, falam duas línguas: a do próprio país e a da nação vizinha, como é o caso dos gaúchos, que, aliás, têm um português repleto de palavras e de expressões ligadas ao espanhol. Atualmente, é obrigatório no Brasil o ensino do inglês e do espanhol, que faz trilíngue o brasileiro. O espanhol é o terceiro idioma mais estudado no mundo, perdendo apenas para o mandarim e para o inglês. Velório: de velar, do latim vigilare, vigiar, guardar, cuidar, ficar acordado para isso. Ao contrário do que possa parecer, velório não se originou de vela. Vela é que se originou de velar. Contribuiu para esse engano o fato de, na noite escura, guardas de palácios e residências, assim como aqueles que passavam a noite ao redor do defunto, utilizarem velas de cera ou archotes para iluminar entornos e recintos. Também ao contrário do que a evocação sugere, pela presença da morte e da tristeza, o brasileiro tornou alegre o velório, carnavalizando-o e fazendo dele motivo de festa, onde se bebe cachaça e se contam histórias engraçadas, das quais às vezes só quem não ri é o próprio defunto.
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