O espirro costuma ser barulhento e deixa quem o emite meio tonto, palavra provavelmente originada no latim tontum, tosquiado, numa referência ao costume medieval de raspar a cabeça dos loucos.
Bruxulear: do espanhol
brujulear, bruxulear, nada tendo a ver com bruxa, pois provavelmente a origem remota é o latim vulgar
perustulare, abrasar, queimar. No latim clássico é
perurare, usado também em sentido metafórico, designando arder de amor ou de paixão. Embora aparentemente sem relação, os étimos latinos citados estão na origem do francês
brûler, queimar; no italiano
brusciare, tostar. Outros parentescos seriam o germânico
brunst, queimado; o alemão
Brunst, cio; e o latim
bustum, fogueira, que teria recebido o "r" por influência de expedições romanas à Germânia. O étimo está ainda presente em carburador, onde é queimado o combustível, semelhando, por metáfora, o latim
bustum, onde eram queimados os cadáveres, em funerais. O significado mais comum de bruxulear é tremeluzir, oscilar fracamente, arder com intermitência, ameaçando apagar a qualquer momento.
Maurício Medeiros (1885-1966), escritor, professor e político carioca, que foi catedrático da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, usou o verbo neste trecho de
Homens Notáveis, livro atualmente encontrado apenas em bibliotecas ou em sebos:
"São amparinas de azeite, que bruxuleiam uma luz morta". Em
À Beira do Cais, do escritor cearense
Nilto Maciel (62), lê-se:
"A lua bruxuleava nas ondas. Alfonso não parava de fumar, e a luz do cigarro às vezes semelhava outra lua".
Corcovado: de corcova, saliência, em geral nas costas, como no caso dos camelos, dos dromedários e das pessoas corcundas, mas também em colinas e montanhas, de que é exemplo este trecho de
A Cidade e as Serras, do escritor português
Eça de Queirós (1845-1900):
"O rio defronte descia, preguiçoso e como adormentado sob a calma já pesada de maio, abraçando, sem um sussurro, uma larga ilhota de pedra que rebrilhava. Para além a serra crescia em corcovas doces, com uma funda prega onde se aninhava, bem junta e esquecida do mundo, uma vilazinha clara". Corcovado designa também um dos morros mais bonitos do Estado do Rio de Janeiro, cujo ponto culminante abriga a estátua do Cristo Redentor, de 38 metros de altura. Em 2007, em votação patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), o monumento foi eleito uma das Sete Maravilhas do Mundo Atual.
Espirrar: do latim
exspirare, expirar, soprar, tendo também o sentido de sair, escapar. O dicionário
Aurélio define o ato de espirrar, o espirro, como
"expiração violenta e estrepitosa, resultante de comichão ou excitação da membrana pituitária; esternutação", mas acontece que a glândula pituitária mudou de nome para hipófise em agosto de 1997, desde que foi fixada a
Nova Nomenclatura da Anatomia. Segundo o professor e lingüista
Antônio Soares Amora (1917-1999), em seu
Minidicionário da Língua Portuguesa, "o objetivo da nova terminologia anatômica é criar um vocabulário aceitável para os cientistas de todo o mundo. Livros, artigos, apostilas e bulas deverão ser alterados. A informação será usada nos cinco continentes, globalizando a anatomia". De todo modo, como diz
Santo Agostinho (354-430),
"um rosto irado não é latino nem grego", e quem espirra continuará a espirrar do mesmo modo, atendendo ou não à nova nomenclatura, sem sequer ter tempo de pensar se está comichando a membrana da pituitária ou da hipófise, pois o órgão designado continua sendo o mesmo. A letra "r", dobrada no português para ter mais força, ainda que não em expirar, que continua com erre fraco, revela processo comum no português, como acontece em estrela, que vem do latim stella. Etimologistas imaginosos dão como origem de espirrar o verbo latino aspergere, aspergir, variante de adspergere, ambos com o sentido adicional de espalhar, borrifar, respingar.
Tonto: provavelmente do latim
tontum, tosquiado, raspado, de
tondere, tosquiar. Na baixa Idade Média, os loucos e os delinqüentes, que não viviam confinados antes do nascimento das prisões, dos hospitais e dos hospícios, tinham a cabeça raspada. Quem falava ou fazia coisas semelhantes às ditas e feitas por tais pessoas era considerado tonto, palavra que se consagrou pelo uso na linguagem cotidiana. A outra hipótese é que a palavra tenha sido formada a partir do latim
attonitus, assustado pelo barulho do trovão, com exclusão do "a" inicial, como ocorreu em bodega, que veio do grego
apotheké, depósito, pelo latim
apotheca, armazém, despensa, depósito de alimentos e de bebidas. Mas tonto não é quem tem medo. Os insanos, justamente por desconhecerem o perigo, costumam ter coragem extraordinária, própria de valentes.