ENTREVISTA: O Brasil em Sundance

<i>Por Priscilla Comoti</i><br><br> Publicado em 29/01/2009, às 17h56 - Atualizado em 30/01/2009, às 12h17

Fele Martinez, Roberto d'Ávila, Mariana Loureiro, Murilo Pasta e Márcio Garcia - Divulgação
Murilo Pasta e Roberto d'Ávila, diretor e produtor do filme Carmo, Hit The Road, respectivamente, reuniram parte do elenco do longa para acompanhar as seis exibições no festival internacional de Utah (Estados Unidos) na última semana, de 15 a 25 de janeiro. O filme conta a história de Carmo, uma menina sul-matogrossense que quer sair da cidadezinha de Vila Bela, e de Marco, um espanhol preso a uma cadeira de rodas, que, juntos, passam por aventuras no Pantanal (MT). No Festival, o longa concorreu ao prêmio de longa-metragens internacionais, contra produções de países como Canadá e Reino Unido, mas não foi desta vez que um brasileiro conquistou o troféu. "A verdade é que filme divertido nunca ganha prêmio em festival, nem leva Oscar. Carmo é um filme leve e para cima", justificou Murilo. Com o grande sucesso durante as exibições, o filme, que também conta com Márcio Garcia no elenco, foi convidado a encerrar outro evento, o 1º Hollywood Brazilian Festival, na noite de hoje, em Los Angeles. "É o primeiro ano de um festival que tem por propósito a aproximação do cinema do Brasil com Hollywood", contou Roberto. Os dois ainda não voltaram ao Brasil, porque ainda espera esta última exibição, mas falaram ao Portal CARAS sobre a experiência e as expectativas de Carmo, Hit the Road no exterior. - Como foi a participação no Festival de Sundance? Roberto d'Ávila - Tivemos seis sessões, lotadas sempre, com público pagante. Fila na porta. E as sessões de Q&A (Perguntas e Respostas, em inglês), ao final de cada sessão, onde quase toda a sala permaneceu em cada uma das vezes. Aplausos entusiasmados e muitas, mas muitas perguntas consistentes com o filme e demonstrando um intenso interesse e compreensão do filme. Foi além das expectativas. Murilo Pasta - Fenomenal. Adicionando ao que o Roberto já adiantou, os programadores de Sundance me informaram que, no último dia do festival, Carmo foi o filme em competição com o menor índice de abandono da sala de projeção, que é o verdadeiro termômetro da qualidade de um filme. É muito comum em festivais a platéia abandonar o cinema às pencas durante a sessão. - Como foi a viagem? Vocês já conheciam o estado de Utah, nos EUA? Roberto d'Ávila - Eu não conhecia, não. É um estado peculiar, é conhecido como o estado mórmon dos EUA, onde aproximadamente 80% da população é mórmon (doutrina religiosa). É também uma próspera estação de esqui, especialmente Park City, a cidade onde acontece o festival, com pistas, resorts e uma estrutura fantástica para a prática do esqui e do snowboard. Uma delícia. Murilo Pasta - Utah é maravilhoso. Eu esperava algo frio e distante em termos de contato humano, pois o estado foi basicamente colonizado pelos mórmons, que ainda são maioria por lá. Mas encontramos exatamente o oposto. Eles são muito acolhedores, os mórmons especialmente. E a geografia do lugar é espetacular, montanhas suntuosas, céu azul, ar puríssimo e neve o tempo inteiro. O lago de sal, que dá nome a Salt Lake City, é absolutamente colossal, parece um oceano. Park City, onde acontece o festival, fica do outro lado da cadeia de montanhas que circunda Salt Lake, a uns 50 km de distância. Mas há projeções do festival também em Salt Lake. - O Festival reuniu alguns grandes filmes e nomes do cinema. Vocês encontraram algum ídolo durante as exibições dos longas? Quem? Roberto d'Ávila - Fiquei bastante com o Rodrigo Santoro nos dias em que ele esteve lá para o lançamento do filme I Love You Philip Morris, que ele fez com Jim Carrey e Ewan McGregor. Vi, também, Pierce Brosnan, Cristopher Meloni, Robert Redford etc. Murilo Pasta - Os diretores dos filmes em competição são convidados para um almoço íntimo com Robert Redford. É algo clássico que se repete desde que o festival começou, há 25 anos. Esse momento para mim, obviamente, ofuscou todos os encontros que tive com outras estrelas, como Chris Rock, que é simpaticíssimo, ou Kevin Spacey, dono de um humor mordaz. Além do almoço em si, Robert fez um discurso maravilhoso sobre o espírito do cinema independente. Foram três horas inesquecíveis. - Mesmo não levando o prêmio, o que vocês ressaltam desse festival? Roberto d'Ávila - Eu ressalto o ambiente de carinho e cuidado com os filmes e os talentos em competição. Eles são como uma família, uma grande família do filme independente. É como se sentir em casa e amparado. Murilo Pasta - A verdade é que filme divertido nunca ganha prêmio em festival, nem leva Oscar. É notório. Júris de festivais adoram filmes "sérios", densos e sisudos. Carmo é um filme leve e 'para cima'. Mas a premiação realmente é secundária. O que acontece com Sundance é que você recebe uma validação da indústria internacional, que passa a te reconhecer e te respeitar infinitamente mais. Afinal de contas, são apenas 16 filmes do mundo inteiro que competem, selecionados entre quase 1100 filmes submetidos. Cada filme selecionado derrubou outros 70 filmes para estar lá. - Como andam as negociações do filme no exterior? Murilo Pasta - De vento em popa. Se bem que a crise e a recessão mundiais tornaram o mercado de filmes independentes complicadíssimo nos últimos 12 meses. Os orçamentos dos distribuidores encolheu assustadoramente. - O filme será exibido no encerramento do 1º Hollywood Brazilian Festival. Como estão as expectativas? Como surgiu o convite? Roberto d'Ávila - O convite surgiu a partir da exposição do filme no último AFM (American Film Market) e foi reforçado pela sua indicação a Sundance. É o primeiro ano de um festival que tem por propósito a aproximação do cinema do Brasil com Hollywood. Para nós, é bastante interessante porque reforça a presença do filme no radar dos americanos, especialmente dos potenciais distribuidores que vão ter uma oportunidade a mais de assistir ao filme numa grande projeção no famoso Chinese Theatre de Hollywood. Murilo Pasta - O Hollywood Brazilian é uma iniciativa incrível. A idéia é construir uma ponte entre Hollywood e a indústria de cinema brasileiro. Carmo vai fechar o festival porque faz justamente isso: é um longa rodado no Brasil, mas que tem um pique e um ritmo totalmente de filme independente norte-americano. Além do mais, Carmo representa algo que dá muita esperança para o cinema brasileiro, uma co-produção internacional majoritariamente finaciada com verba de investidores privados estrangeiros. Carmo é como um farol potente em meio a um breu absoluto, e tenho muito orgulho de estar por trás desta empreitada tão maravilhosamente positiva e bem-sucedida.
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